A vida privada

4. O FESTIVAL LITERÁRIO

Fiquei sabendo do que aconteceu no Rio Grande do Sul pelo noticiário local. Eu estava escrevendo essa tarde, quando vieram até a minha porta com a notícia trágica. Eu logo liguei a tevê e vi aquelas casas, prédios, estradas, pontes e igrejas tudo debaixo D'água. Simplesmente horrível de se ver e de sentir também. E é claro que depois de todos esses acontecimentos eu não consegui produzir mais nada. Fiquei muito deprimido com toda a situação. Pois a água virou um mar de tristeza e desilusão para os moradores locais. Vi pessoas em cima dos telhados pedindo ajuda junto com os seus animais, que choravam com o aumento do nível da água. Como me solidarizo com a dor dos gaúchos. Pois não deve ser fácil ter que abandonar as lembranças, as mobílias, os jardins, as plantas e os livros de uma residência. Seja ela da mais sofisticada até a mais simples. Os animais também sofreram bastante, alguns conseguiram se salvar, enquanto outros foram levados pelas águas. Mas teve um cavalo em específico, que me marcou bastante, pois ele ficou três dias e três noites em cima de um telhado esperando o devido resgate, que chegou à tempo de ceda-lo.

Quando presenciamos uma catástrofe climática como essa, percebemos que a alma jamais poderá ser submersa. Resolvi ajudá-los com uma boa quantia em dinheiro também. Assim como vocês também fizeram. Não é muito, mais pelo menos ninguém irá passar fome e nem cede naqueles abrigos improvisados.

Também fiquei sabendo que a apresentação de vocês foi um tremendo sucesso por aqui. Repercutiu bastante aqui na Europa nos jornais e nas revistas especializadas em tecnologia. E eu como pai babão, resolvi recortar algumas imagens em que vocês aparecem no auditório juntos, gesticulando e explicando as próximas etapas que a Tesla irá tomar por aí no Brasil. Estou muito orgulhoso de vocês! E por favor, me mandem mais notícias por aqui, pois como vocês já sabem, eu não gosto de atender ao telefone.

Beijos eternos

De seu amado pai

Salgado.

*

– Fui bem na apresentação?... – Otávio pergunta a sua irmã, temendo sua reprovação.

– Bem... Nós ficamos andando de um lado para o outro no palco, então todos devem ter percebido que estávamos nervosos lá em cima.

– Ainda me pego pensando no Rio Grande do Sul sabia?... Fico vendo o sofrimento daquelas pessoas que por um instante, perderam a esperança em dias melhores – Otávio liga a tevê de seu escritório para acompanhar as últimas notícias.

– Eu só espero que toda essa quantia em dinheiro vá exclusivamente para essas pessoas que foram desalojadas de suas casas – diz Lila preocupada com algum político que possa vir a roubá-la de seu destino.

– É torcer para que não haja desvio de verbas... – Otávio resolve aumentar o volume de sua tevê do escritório, enquanto seus funcionários fazem a mesma coisa na sede da Tesla.

*

– Acho que já precisamos colocar o Denis e a Cecília na escola, não acha?... – pergunta Betina à sua amiga.

– Também acho!... – Eliza os olha brincando – Eles precisam urgentemente conviver com outras crianças. Pois não conseguiremos satisfazer todas as suas necessidades sociais.

– Já até achei uma escola bilíngue para eles e está com inscrições abertas... – informa Betina, ao lhe mostrar a localidade em seu celular – O que acha dessa aqui?...

– As instalações são ótimas!... – diz Eliza, ao ver pelo site da instituição o currículo de alguns pedagogos e professores da escola – E pelo visto... a qualidade profissional da equipe é excelente também.