HELOÍSA DE ALCÂNTARA
As portas do elevador se abriram no andar da revista, desvendando o espaço amplo e com paredes de vidro, destacando as cores alegres e o ambiente colaborativo.
Alguns funcionários me cumprimentaram de longe ao me ver avançar para a minha sala ao fundo, recebendo meu aceno polido em resposta.
— Aconteceu algum problema para adiantar o seu retorno de viagem? — Andressa indagou, se levantando atrás de sua mesa e vindo até mim com o tablet nas mãos.
Além de minha assistente pessoal, era minha amiga de longa data. Trabalhava comigo desde que assumi a presidência no lugar do meu pai.
— Consegui adiantar tudo o que precisava. Aproveitei para voltar mais cedo e fazer uma surpresa para o Ricardo — expliquei, abrindo a porta do escritório e deixando minha bolsa sobre o sofá.
Eu amava o quanto me sentia bem naquela sala, não só pelo conforto e a vista dos outros setores e da Praia de Ipanema. Mas pelo fato de que passava mais tempo ali, imersa no trabalho e diversos projetos que a Revista Moda & Bem-estar desenvolvia, do que em minha própria casa.
— Então, o que está fazendo aqui? O babaca não apareceu depois do almoço.
Não precisei encarar Andressa para saber que estava revirando os olhos ao ouvir o nome do meu marido. Embora ele também trabalhasse na empresa como diretor financeiro, ela não escondia a antipatia que sentia dele.
— Passei para buscar isso. — Tirei um embrulho da gaveta sob o tampo da minha mesa. — Comprei um presente especial para comemorar nossos dezesseis anos de casados.
— A maior cagada que tu já fez na vida, Helô. Não canso de repetir que você está perdendo um tempo precioso dos seus 36 anos com um homem insensível e narcisista.
— Dressa, já tivemos essa conversa várias vezes e não quero ser repetitiva. Por favor, pare. — Andei até a bolsa, guardando o presente antes de a colocar no antebraço.
Era um conflito que se arrastava desde que eu disse sim. Tinha cansado de tentar intervir na defesa dos dois lados, então simplesmente passei a ignorar.
— Se for urgente, me ligue. Caso contrário, resolvemos amanhã cedo. Beijos, fui.
Nós nos despedimos e eu voltei para o elevador.
Ainda que nosso aniversário oficial fosse amanhã, fiz questão de ligar para o melhor restaurante da cidade e encomendar um jantar especial. Estávamos com a viagem para as Maldivas agendada para o final do mês, mas eu não poderia deixar a data passar batido.
Dirigi para o Leblon sentindo aquela expectativa gostosa me atingir. Há algum tempo vinha deixando meu casamento de lado ao me dedicar excessivamente ao trabalho. Sabia que tinha errado, e esta era uma pequena tentativa de me redimir.
Estacionei ao lado da Range Rover de Ricardo, descendo com o nosso jantar em uma mão e a mala de rodinhas na outra, deixando-a ao lado da porta assim que a fechei atrás de mim.
As coisas começaram a ficar estranhas quando as notas de um cheiro doce voaram pelo ambiente. Descartei a possibilidade de ser qualquer produto de limpeza diferente, porque à medida que avançava em direção ao segundo andar, o aroma se tornava mais forte, assim como o que parecia ser gemidos dele.
Como uma espécie de defesa, algo me preparou para a cena dolorosa ao chegar à entrada do meu quarto.
O asco ao encontrar Ricardo e uma garota com metade da sua idade sobre a minha cama se transformou em raiva, evoluindo rapidamente para um ódio com proporções perigosas.
— Seu desgraçado, filho da puta. Foi por isso que não se importou com a minha viagem às vésperas do nosso aniversário de casamento.
Só percebi que ainda segurava o nosso jantar quando foi a primeira coisa que arremessei na direção deles. Em segundos, as embalagens se abriram, não só melecando toda a cama, como queimando os dois.
— Heloísa! — ele gritou, tentando se livrar da massa quente.
— Como eu fui burra ao não ouvir os avisos de Andressa. Ela tinha razão ao te odiar.
— O que você queria? — A voz masculina soou alterada, mais pela dor da temperatura do que por ter sido flagrado.
Rolando para fora da cama, a amante tentava limpar os cabelos loiros tingidos de molho.
— Há quanto tempo não me deixa tocar em você? — ele continuou, alterado. — Se tornou uma mulher frígida, tão quente quanto uma pedra de gelo. Uma sargentona que quer comandar não só as pessoas do seu trabalho, mas a mim também. Não tive outra escolha.
Limpei a garganta, esforçando-me para manter a voz firme. Chorar na frente dos dois adúlteros nunca foi uma opção.
— Você poderia ter conversado comigo antes de trazer a primeira vagabunda para a nossa casa, para a minha cama.
— E desde quando você me ouvia? Nunca me ouviu, muito menos me deixou assumir o controle de nada.
— Me recuso a bater boca com você. — Olhei para a garota com o corpo perfeito, sem uma gordurinha fora do lugar. — Aproveite para tirar tudo dele enquanto pode. Não será perfeitinha para sempre — disse, amargurada, antes de virar as costas e deixar o quarto.
— Heloísa! — O grito de Ricardo soou atrás de mim enquanto descia os degraus com pressa. A visão nublada pelas lágrimas que enfim permiti caírem. — Heloísa!
Peguei a mala intacta na entrada do hall, mal conseguindo pensar direito. Liguei o carro com as mãos trêmulas, dando ré sem prestar atenção em qualquer coisa, imersa na dor daquela traição.
As palavras dele se repetindo constantemente em minha cabeça a ponto de me deixar desnorteada.
"Sargentona". "Frígida". "Pedra de gelo". "Não tive escolha".
— Desgraçado! — gritei, batendo no volante.
As lágrimas grossas rolando pelas bochechas não eram capazes de amenizar a dor que me consumia como se uma faca tivesse sido cravada em meu coração.
Era triste constatar, mas Andressa sempre teve razão. Perdi minha juventude com um homem narcisista que me golpeou com tamanha covardia.
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[DEGUSTAÇÃO] - NOS EMBALOS DA SEDUÇÃO
ChickLitAluna x Professor. - Ela é mais velha. - Foi traída e está recomeçando. - Romance maduro. Uma CEO de sucesso, infeliz e solitária, buscando se reconstruir. Um professor de dança intenso e sedutor, disposto a vê-la feliz. Aos 36 anos, Heloísa de Alcâ...