Capítulo 1

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Heloísa


QUATRO MESES DEPOIS...

Observei o espumante rodear calmamente no interior da taça de cristal enquanto o blues soava baixo em meio ao salão amplo e com decoração predominantemente amarelada, tão melancólico quanto eu me sentia.

Nem mesmo o vestido preto de alta-costura, a maquiagem e o penteado perfeitos eram capazes de esconder o quanto ainda me sentia deprimida, querendo apenas continuar no quarto escuro e silencioso, meu refúgio desde que tudo aconteceu.

Nunca imaginei que estaria naquela condição. Fragilidade não fazia parte da executiva forte e decidida que me tornei, mais uma razão pela qual eu me sentia péssima.

No entanto, o fechamento anual da revista me obrigava a colocar uma máscara de indiferença e enfrentar a nata da sociedade. Homens e mulheres que exibiam com orgulho seus trajes, joias e sapatos como se fossem sinônimos de felicidade e sorrisos tão falsos quanto os meus naquela noite.

Tudo em nome dos negócios.

Ao meu redor estavam diretores, gerentes e demais funcionários da revista, assim como a imprensa e magnatas convidados, dentre eles, o ordinário do meu ex-marido que recebeu o convite antes daquela cena deprimente e ser demitido.

— Não acredito que ele teve a pachorra de trazer a modelete no evento da sua revista — Andressa grunhiu, bebendo o restante do champanhe de uma só vez.

De canto de olho, o observei desfilando altivo com a mão apoiada na cintura da garota que parecia ter quase a metade de sua idade.

Eu também não acreditava em tamanha audácia.

— Teve. Mas se ele acha que isso irá me desmoralizar, está muito enganado. Vamos aos compromissos, porque hoje o meu foco é inteiramente na empresa. — Mantive a postura de mulher forte e respeitada que sempre tive no meio corporativo.

"Sargentona". "Quer tudo do seu jeito." Sua fala martelava em minha mente durante o meu discurso de fechamento de ano.

Motivada pelo ódio que elas me faziam sentir, tive o prazer de olhar em seus olhos com arrogância ao anunciar que mais uma vez fomos a revista mais popular no Brasil e que nossa veia social atingiu mais de duzentas mulheres em comunidades carentes apenas no Rio. Aquela mesma ação que ele sempre foi contra, por acreditar que estávamos perdendo dinheiro.

Ainda era pouco. Eu tinha planos de poder expandir essas ações a nível nacional.

Após o discurso caloroso, fui ovacionada com uma salva de palmas pelos presentes, além de ter sido parabenizada por vários convidados.

Após algum tempo de conversa, senti meus pés reclamarem e uma necessidade pungente de respirar. Pedi licença ao grupo de acionistas que ainda estavam na festa e caminhei até uma área aberta e arborizada.

Embora fosse um ambiente que sempre dominei, sabendo ser a anfitriã perfeita, daquela vez me sentia incomodada, angustiada e inquieta. Como se uma nova realidade começasse a se descortinar dos meus olhos e aquele ambiente não fosse mais prazeroso como antes, passando a se tornar frio, falso e mecânico.

Com os olhos fixos no céu estrelado, questionei-me se aquela dor passaria em algum momento. A sensação de ser apunhalada pelas costas, de me sentir fracassada e destruída por aquele que, em um passado não tão distante, eu achei ser o homem da minha vida.

Tantas certezas se transformando em questionamentos, decepções e inseguranças. Se antes eu me orgulhava da minha aparência, agora só conseguia enxergar as razões que o fizeram me trocar.

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⏰ Última atualização: May 16 ⏰

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