prólogo

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Tudo começou em uma noite chuvosa de março de 2018. Mais uma típica chuva da estação primaveril refrescava as ruas da grande Seul após mais um dia abafado. As gotas de chuvas caíam calmamente, de certa forma até relaxante antes de começar uma verdadeira tempestade.

Porém, com a tempestade, sempre vem desastres.

Estava um verdadeiro caos em um dos maiores laboratórios do país. As pessoas corriam para todos os lados e gritavam feito loucas. O motivo disso? A aranha radioativa que estavam estudando há anos coletada diretamente de Hiroshima havia desaparecido. 

O incidente ocorreu pois um estagiário curioso da empresa, ao anotar informações sobre o animal, acabou deixando o acrílico onde a aranha vivia aberto ao esbarrar nele. O mesmo apenas se deu conta quando ouviu alguém gritar ao adentrar aquela sala novamente.

Todos ali estavam desesperados pois não sabiam o que poderia acontecer. Se o próprio governo descobrisse seus estudos altamente perigosos, que não seriam autorizados nem se fosse o próprio buda a pedir, iria tudo por água abaixo após o acontecimento.

Por outro lado, Mark Lee (ou Lee Minhyung, seu nome coreano) com quase 18 anos, estava na sala de dança do prédio da empresa para qual trabalha até os dias atuais. Estava treinando suas habilidades na dança com muito foco e determinação, como sempre fez.

Usava seus headphones (que milagrosamente não caía com seus movimentos) por cima do boné vermelho que combinava com seu moletom igualmente num tom vermelho desbotado. As calças jeans largas pretas faziam com que não sentisse tanta insegurança com suas pernas finas.

Estava se encarando seriamente no espelho enquanto dançava uma coreografia de hip-hop coreografada por ele mesmo ao som de "No Diggity". Era como se houvesse apenas ele no próprio mundo, a música correndo por suas veias como se houvesse nascido apenas para isso.

Mark de fato havia nascido para ser uma estrela, e aquele fato era totalmente inegável. Não havia nada no mundo que amasse mais do que a música, que corria por suas veias desde a barriga de sua mãe, que ia em shows de rock da banda do marido, pai de Mark.

Foi quando o primeiro trovão ecoou, balançando as paredes do prédio, parecendo até mesmo um terremoto. Mas mesmo assim, Mark estava focado demais para sequer notar toda a água que caía ao lado de fora.

Assim que a música acabou, ele já estava se preparando para colocá-la novamente quando veio mais um estrondo, dessa vez levando junto do som, um apagão no prédio. 

Minhyung acabou soltando um leve grito de susto ao que tudo ao seu redor ficou escuro, tropeçando no próprio pé e caindo de bruços no chão. Por sua sorte, estava sozinho. Ele então respirou fundo e se sentou no chão da sala, vendo apenas seu reflexo no espelho com ajuda da luz da lua que entrava pelos vidros cheios de gotículas de água.

— I like the way you work it... No diggity. — Cantarolou enquanto passava os movimentos da coreografia apenas com os braços, aproveitando para treinar suas expressões faciais, mesmo com tão pouca luz na sala. — I got to bag it up, yeah.

Mark havia nascido em Toronto, no Canadá e se mudado para os dormitórios da SM Entertainment quando ainda criança, tendo apenas 14 anos na época em que passou na sua audição. Alguns anos depois, sua tia Mia Lee foi morar na Coréia e acabou se mudando para a casa dela. 

Apesar de ter passado mais tempo de vida em Los Angeles e Vancouver do que em sua cidade natal, sentia muita falta de como as coisas eram antes de se mudar para a Coréia. Porém sabia que para crescer como o artista que gostaria de ser, teria de fazer sacrifícios.

Respirou fundo e se deitou no chão gelado, estava exausto. Tentava normalizar a respiração ofegante quando sentiu algo em seu pulso, acompanhado de uma ardência insuportável, que o fez gritar. Deu um tapa forte no próprio pulso e voltou a se sentar rapidamente.

Quando teve a coragem de tirar a mão de cima da pele quente, sentindo as veias pulsando e o sangue fluindo, percebeu que havia algo ali. Se apressou desajeitadamente para pegar seu celular e ligou a lanterna. Quase sentiu a alma ir embora quando viu o que era. Uma aranha.

Seu corpo era numa coloração preta tão escura que nem parecia de verdade, porém sua bunda era vermelha como sangue, o que fez Mark arrepiar.

— Mas que caralhos...? — Franziu o cenho, aquilo não parecia real. 

Se apressou em se levantar, deixando a lanterna ligada no chão para ir até o canto da sala. Jogou as coisas da mochila no chão e pegou um pote, tirando o sanduíche de dentro com a boca antes de jogar o corpo da aranha ali dentro e tampar.

Sentiu um arrepio pela espinha ao que se direcionou de volta até a lanterna do celular com a mochila nos braços e o pote transparente em mãos.

Tirou os fones do ouvido, jogou-os dentro da mala e não pensou duas vezes antes de sair correndo dali, porém acabou batendo a porta com força até demais, fazendo com que os funcionários que estavam por perto se assustassem. Afinal, eles ainda estavam na escuridão, sendo auxiliados apenas por luzes de velas.

— Foi mal! — Gritou para eles em meio à sua corrida desesperada para fora do prédio da empresa. Quase caiu assim que chegou na esquina ao escorregar na calçada molhada.

Assim que chegou na casa de sua tia, encharcado e frustrado com todos os acontecimentos, jogou o pote com a aranha massacrada em cima de sua escrivaninha e encarou o próprio pulso, que estava inchado e um tanto vermelho. Havia o formato de uma teia ali como se fossem veias saltadas.

Passou o indicador devagar sob o relevo devagarinho. Sentiu algo grudento. O que diabos estava acontecendo? Talvez estivesse enlouquecendo, não? Será que deveria ir ao psiquiatra? Com certeza estava alucinando, nada daquilo era real. 

— Teia. Espera... TEIA?! — Deu um grito tão alto que teve de cobrir a boca com a mão. Não demorou muito para ouvir batidas na porta de seu quarto.

— Mark? Tá tudo bem? — Mia tentou abrir a porta, mas Minhyung a impediu ao segurar a porta com talvez força até demais.

— Tá sim! Eu tava me trocando e vi uma teia de aranha no teto... — Deu uma risada sem graça e engoliu em seco.

— Vai dormir, amanhã a gente tira a teia. Já tá tarde. — A mulher bocejou e voltou para o próprio quarto, deixando o sobrinho em paz mais uma vez.

O rapaz caminhou até o banheiro e se olhou no espelho. Estava tão diferente, mas ao mesmo tempo estava igual. O que havia mudado? Não é como se houvesse acabado de entrar na puberdade.

Talvez o fato de que agora havia superpoderes havia mudado. E isso, de fato nunca iria mudar, não importando o quanto tentem tirar isso dele.






spider-mark & the sunflower ; markhyuckOnde histórias criam vida. Descubra agora