𝙽𝚘 𝙰𝚋𝚒𝚜𝚖𝚘 𝚍𝚎 𝚃𝚎𝚞𝚜 𝙾𝚕𝚑𝚘𝚜

dois;

Caíque

- Acorda, garoto! - minha mãe gritou, quase arrombando a porta. - Já são seis e meia!

- O quê? - disse, esfregando meus olhos com minhas mãos, tentando abri-los.

- Quero você saindo daqui sete horas! - disse, batendo a porta.

Merda.
Tirei os fones de ouvido, levantei, e fui tomar um banho rapidamente. Coloquei uma blusa de caveira, calça preta e tênis preto, como de costume. Ah, claro. Coloquei lápis de olho abaixo dos olhos, bem fraco.

- Tem o que pro café? - disse, me sentando à mesa.

- Pão e café.

- De novo?

- É, de novo! É o que têm. Se não quiser comer, não tem problema.

- Beleza, então! - disse, acendi um cigarro e saí porta à fora.

O inferno começa logo cedo.
O inferno não é abaixo da terra.
Ele é aqui, na própria terra.
O vivemos todo dia. Mas há alguns que não percebem, ou não querem perceber.

[...]

Escola

Odeio aula de educação física. Sempre chego na escola atrasado, ou seja, no segundo tempo. Mas a aula de educação física dura dois tempos. Ou seja, ainda pego um tempo de aula.

- Caíque.

- Eu.

- Já disse que precisa participar da aula. Não pode ficar aí sentado.

- Professor, não me dou bem com esportes. Já expliquei.

- Ok. Não vou discutir com você novamente. Vou fazer uma ocorrência. Quero que sua mãe assine e venha aqui para uma reunião comigo, ok?

- Tá - disse, indiferente.

[...]

Como sempre, fiquei sentado na arquibancada. Porém, não fico assistindo o jogo idiota deles. Sempre fico lendo. Mas hoje, vou me entreter pintando as unhas, pois a tinta já está descascando. Trouxe meu esmalte preto, e vou aproveitar para pinta-las, já que não estou fazendo nada mesmo.

Estou ficando bom nisso. Antigamente, não sabia pintar as unhas direito, e ficava meio borrado. Agora, com a prática, fica certo. Diria que quase perfeito.