Prólogo.

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Uma rajada de vento frio atravessa a janela do quarto e algumas folhas entram no cômodo. Provavelmente irá chover, Sunoo pensa. Ele tem seus cotovelos apoiados na cama enquanto se encontra deitado de bruços, folheando as páginas de um livro que ele comprou recentemente. Com a correria da faculdade que Sunoo anda enfrentando, ter tempo para ler livros que não sejam relacionados ao seu curso se torna cada vez mais difícil, então ele costuma aproveitar cada tempo livre que a vida lhe proporciona da forma mais caseira possível.

Seu colega de quarto e também melhor amigo, Jungwon, costuma lhe zombar, dizendo que agora que Sunoo está na faculdade, ele deveria ir a mais festas universitárias ao invés de se enfurnar dentro do dormitório, mas para Sunoo, é difícil ainda sair da sua zona de conforto tão rapidamente. Algo sobre ele se sentir deslocado em qualquer lugar que ele esteja lhe assombra constantemente. Jungwon diz que entende seu pensamento, mas Sunoo costuma duvidar disso.

Faz cinco meses que Sunoo entrou na faculdade. Uma nova vida, em uma nova cidade e com novas pessoas. Todo seu passado deixado para trás em um piscar de olhos e talvez seja melhor assim. Ele gosta da sua nova realidade, é como se dessa vez Sunoo finalmente pudesse criar uma nova versão de si mesmo, longe de todo o drama que viveu durante anos em sua antiga cidade. Talvez agora ele pudesse ser aceito em algum lugar. Ou isso é só o que ele gostaria que acontecesse.

Trovoadas ecoam em seu ouvido e Sunoo se levanta rapidamente para fechar a janela. Logo em seguida, gotas de água começam a cair lá fora sem parar, ficando cada vez mais grossas e fortes. Ele caminha até o banheiro e quando fecha a porta atrás de si, Sunoo se recosta, apoiando seu peso e depois de um momento, ele desliza lentamente até chegar ao chão. Se sente tão cansado ultimamente.

Jungwon lhe disse para que ele parasse de ficar se sobrecarregando com as atividades da faculdade, mas Sunoo acha que ocupar sua mente com tarefas é melhor do que se torturar com seus pensamentos que costumam lhe deixar louco. Ele balança a cabeça e solta um grande suspiro. Tem coisas que não precisam ser tão profundas.

Quando entra na banheira, Sunoo mergulha no espaço pequeno cheio de água. Ele fecha os olhos fortemente e prende a respiração, sua mente tão cheia de perguntas que o distraem, faz com que os minutos que ele passe debaixo da água pareçam apenas segundos. Sunoo sente falta do oxigênio, mas também gosta da sensação formigante que invade seu peito lentamente. É como se ele estivesse se incendiando, mas tudo bem, porque nada aconteceria de verdade. Ele decide que não consegue mais ficar sem ar, então sai debaixo d'água rapidamente. Seu coração bate tão forte quanto a sua vontade de ter permanecido mais tempo sem ar, apenas para que visse o que teria acontecido.

Sunoo nunca foi alguém que poderia ser considerado suicida, mas a ideia de um dia deixar de existir o perseguia desde que ele se entendia como alguém com opiniões fortes. Sua respiração ofegante agora se normaliza e o vermelho espalhado pelo seu rosto também.

Assim que sai do banheiro, Sunoo se depara com Jungwon entrando no dormitório com sacolas na mão e completamente ensopado. Ele pega as compras da mão de Jungwon, que ele supõe ser comida pronta e coloca em cima da mesa.

— Achei que você fosse dormir no apartamento de Jay hoje. — Ele diz enquanto abre as embalagens. Jungwon comprou tteokbokki, a comida favorita de Sunoo.

Jungwon tira seu sobretudo e se joga no sofá. — Eu ia. Mas não queria deixar você sozinho em uma sexta-feira à noite. —Confessa.

Sunoo revira os olhos. — Eu não ligo de ficar sozinho. — Ele diz.

— Mas deveria. — Jungwon retruca e Sunoo consegue imaginar onde essa conversa chegará. — Quer dizer, você quase não sai para festas e todas que você já foi, não ficou mais de uma hora.

Whispers of The Heart - Sunsun Onde histórias criam vida. Descubra agora