Prológo

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Aya

Assim que a exposição foi encerrada, a Dra. Aya saiu de seu esconderijo no banheiro feminino da Wellcome Collection. Suas pernas estavam duras devido ao tempo que passara sentada em cima daquela privada e, agora, suas mãos tremiam de nervoso. Esta seria a primeira vez que faria algo tão perigoso em toda sua vida. Algo que poderia culminar na cassação de seu diploma.

Ela iria roubar o cérebro de Albert Einstein, o físico mais brilhante de todos os tempos, naquela noite.

Era preciso muita coragem. E muita ambição também. Por sorte, a Dra. Aya era provida dos dois em demasia. Então, com a naturalidade de alguém que nunca desiste, ela se olhou no grande espelho, ajeitou os fios negros e saiu rumo à seção mais protegida da exposição.

Enquanto passava pelos corredores escuros, com todas aquelas peças a olhá-la; com o vento assobiando perto de seus ouvidos; com o silêncio sufocante a cercá-la, Aya sentiu medo de tudo dar errado, pela primeira vez. Mas o desejo de realizar seu maior sonho era maior que todos os temores que poderia ter.

Se tudo desse certo hoje à noite, na manhã seguinte ela estaria voando de volta para o Brasil, pronta para terminar o Projeto Mutante. Porque ela tinha certeza que a peça que faltava era descobrir os mecanismos de evolução do cérebro. Era a única solução para o problema que enfrentava. Afinal, nada mais explicaria o fato de todas as alterações feitas no DNA humano não resultarem em uma verdadeira mutação ou em uma melhora significativa do indivíduo em determinada atividade. E o único meio de descobrir esse mecanismo, no qual ela apostava todas as suas fichas, era o cérebro de Einstein.

De alguma forma, a mente dele propiciava a sua mutação — super raciocínio lógico — ao invés de apenas bloqueá-la. O que ela precisava descobrir era de que forma isso se dera, e como poderia repetir isso no cérebro de suas adoráveis cobaias, que costumava chamar de pacientes.

Então, ela continuou atravessando corredores escuros com a ajuda apenas de sua lanterna. Até que, após tantos minutos, talvez horas, naquele túnel inglês sem fim, chegou ao espaço onde se encontrava a seção Albert Einstein.

Uma enorme placa dizia onde ela estava e, se ainda havia dúvidas, todas aquelas fotos de um gênio dando língua para uma câmera, as tirava. Haviam banners explicando sobre a célebre vida do físico que revolucionou a própria física. Fotos de seu cérebro eram mostradas para quem quisesse ver e, bem no centro, como um prêmio a ser resgatado, estava o cérebro dele. Seccionado em 240 seções, dentro de dois potes diferentes.

— Fascinante! — Disse Aya ao perceber o quão perto estava da mente mais brilhante dos últimos tempos. — Muito fascinante!

A Dra. Aya estava fascinada. Apesar de ser muito conceituada, nunca chegara perto daquele pedaço humano de Albert, afinal ela era geneticista, não neurologista. E, agora, ele estava prestes a pertencer-lhe. Chegou mais perto e tocou no vidro.

Sentiu um formigamento estranho nas pontas dos dedos. Algo nunca sentido antes. Lágrimas brotaram de seus olhos. Aquele era o melhor momento de toda a sua vida e só seria superado no instante em que criasse a primeira criatura do Projeto Mutante.

"Vamos lá, antes que seja tarde demais", disse para si mesma. "A exposição tem uma segurança falha, mas não é por isso que deve abusar da sorte".

Abriu a mochila e tirou dali um saco plástico, daqueles de laboratório, de onde retirou uma fita transparente. Na fita estavam as digitais do Dr. Frederico, o neurologista responsável pelo cérebro. Ela se encontrara com ele mais cedo naquele mesmo dia, o convidara para tomar um suco e discutir os benefícios dos estudos sobre o cérebro de Albert Einstein para a humanidade e conseguiu descobrir como era o mecanismo de segurança que guardava a mente do físico.

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