Ele estava bêbado mais uma vez. Não sabia como ou quando aquilo acontecera. Lembrava-se apenas de ter brigado com Catarina e ido à casa do Nogueira, na Zona Leste. Agora, encontrava-se em seu próprio apartamento, sentado no sofá velho com uma garrafa de Bourbon na mão.O telefone tocou, tirando-o daquele estado deplorável de semiconsciência. Viktor deixou que caísse na secretária eletrônica. Ela fora ideia de Catarina e agora se mostrava bem útil, já que ele não queria falar com ninguém.
— Ei, camarada — a voz de Nogueira saiu do autofalante. — A ressaca já passou? Espero que não fique chateado por eu não ter te dado um banho, sabe? Ia ser meio... constrangedor — então ele parou e parecia que estava com outra pessoa. Quando voltou, estava mais sério: — Olha, o chefão tá aqui pedindo pra tu vir pra base, já! Entendeu super-homem? Pra base agora, e nada de desculpinhas. Ninguém mandou beber demais.
Viktor pegou o telefone, antes que a ligação terminasse e deixou sua resposta:
— Vá à merda! — Jogou o aparelho no chão e voltou a beber.
Meia hora depois, ou pelo menos achava que se passara meia hora, alguém começou a dar pontapés na sua porta. Viktor ignorou. Talvez, se não tivesse resposta, a pessoa fosse embora. Então, ele poderia voltar a beber aquele Bourbon maravilhoso e voltar ao mundo de sonhos que o aguarda quando se embriaga. Um mundo onde não existiam pesadelos, medos e decepções. Onde Catarina não existia.
— Se não abrir, eu vou arrombar! — Uma voz masculina veio do outro lado da porta — Estou avisando!
"Dane-se", pensou Viktor. O estrago maior estava dentro dele mesmo. Apenas ignorou e continuou a beber.
Um barulho forte demais ecoou pela sala e Viktor deixou a bebida cair no chão. A garrafa estilhaçou-se, enchendo o carpete sujo da sala com cacos de vários tamanhos.
Dois homens fardados — um deles com a roupa do exército — apareceram no batente da porta que não existia mais. Passaram por cima do pedaço de madeira caído no chão e encararam Viktor.
— Eu avisei que iria arrombar.
Viktor bufou. Levantou da cadeira e foi até a geladeira, no cômodo ao lado. Abriu-a e tirou dali três cervejas. Ofereceu-as aos dois homens.
— Eu não bebo em serviço. Você sabe disso. — Disse Nogueira, recusando a bebida.
Viktor teve que rir. Era a maior mentira que já ouvira em toda vida. O delegado Nogueira vivia com uma cerveja na mão. O tempo inteiro. Só estava dizendo isso porque aquele cara do exército estava ali. Era seu melhor amigo, mas também era um babaca.
— Pega logo essa porcaria, delegado. O fardado não vai te prender por isso. — Viktor disse, empurrando a cerveja para o outro homem.
— O fardado aqui tem nome — resmungou o homem desconhecido e estendeu a mão para Viktor — Coronel Felipe Ferreira, prazer.
Viktor não apertou a mão do coronel. Apenas colocou ali a bebida.
— Espero que não me prenda por isso — riu e virou a garrafa inteira na boca.
O Coronel Ferreira o imitou e, nervoso, o Delegado Nogueira repetiu o gesto.
Viktor jogou-se novamente no sofá e cruzou os braços. A feição mais ou menos amigável que tomara conta de seu rosto segundos atrás havia ido embora. Agora estava irritado.
— Ok, podem começar a falar — olhava de um homem para o outro — de quem foi a maldita ideia de arrombar a porra da minha casa, enquanto eu estou bêbado? Se eu não estivesse de bom humor, pode ter certeza que eu explodiria esses miolos de vocês com a minha amiga — e mostrou a eles o revolver que vivia ao seu lado.
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Projeto Mutante
AksiA Dra. Aya é uma conceituada geneticista que deseja loucamente criar uma raça de super humanos. Aliada ao Dr. Frederico, um neurologista inglês muito charmoso, ela iniciará a pesquisa mais importante da sua vida. Assim ela conhece Diana, Viktor e Sa...