Capítulo Único

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— Por favor, me perdoa.

As bruxas voavam vagarosamente em suas vassouras pouco acima da copa das árvores da grande floresta em que a comunidade isolada de bruxas residia. Os mantos esvoaçavam com a resistência do vento que insistiam em cortar durante o voo, assim como os pontiagudos chapéus que regularmente precisavam segurar sobre as cabeças quando uma lufada mais intensa de vento batia sobre elas. Um vasto manto se estendia abaixo das moças e dificilmente era possível identificar qualquer outra coisa, independente do local para o qual se olhasse — os tons de verde variavam de um ponto para outro, tornando-se mais brandos ou intensos, mas tudo o que podiam ver eram árvores grandes e centenárias que compunham aquela floresta até a margem.

Atrás das meninas, porém, um grande abeto se erguia até os céus, sendo capaz de tocar as nuvens. Era a maior árvore daquele local sagrado e servia como morada para as bruxas que tinham decidido abandonar os problemas constantes da civilização ocidental, abstendo-se de guerras e conflitos políticos para estarem sob uma única bandeira e propósito — viver em paz pelo restante de seus dias. O conhecimento de que aquela floresta estava distante das ações dos cavaleiros comuns e mercenários dos reinos vizinhos era sabido por toda a comunidade que ali montava residência, contudo, não queria dizer que elas estavam longe de perigo; afinal, inúmeros monstros perigosos se esgueiravam pelas raízes grossas das árvores anciãs e embrenhavam-se na escuridão densa entre as cavernas de vinhas.

— Perdoar? — Nayeon bufou, irritada. — Estamos nessa situação por culpa sua. Se não tivesse tentado roubar alguns dos doces favoritos da bruxa-mãe no dia do seu aniversário, não teríamos que patrulhar as fronteiras.

— Mas eram bombas de chocolate. Estavam com uma cara muito boa.

Nayeon parou o movimento da vassoura, suas pernas pendendo juntas para um dos lados do veículo incomum, muito utilizado pelas bruxas. Seus cabelos pretos estavam presos em uma trança longa que chegava até o meio das costas, enquanto a parte superior da cabeça permanecia protegida pelo imenso chapéu cônico de um azul tão límpido e intenso quanto o mar. Suas roupagens também eram dotadas da mesma coloração anil, cujas dobras esvoaçantes eram presas por um broche dourado que assumia a forma de uma meia-lua, indicando a seção mágica da qual fazia parte.

Ela se virou para encarar a amiga.

— Nós derrubamos aquele bolo gigantesco de creme e damasco em cima da bruxa-mãe e das anciãs por causa da porcaria de bombas de chocolate? — O tom da voz de Nayeon subia a cada palavra que escapava de seus lábios, enquanto uma intensa vermelhidão tomava conta de seu rosto. — Momo, sinceramente, você precisa parar de pensar com o estômago. Não é a primeira vez que algo assim acontece.

— Eu sei. — Momo estava cabisbaixa. Os ombros baixos e o rosto sendo escondido pela aba larga de seu chapéu rosa. — Não precisava levar a culpa comigo.

— Que tipo de amiga eu seria se você fosse castigada sozinha? — A vassoura de Nayeon se movimentou espontaneamente para se colocar ao lado da outra, acariciando os seus cabelos sedosos sob o chapéu. — Teria sido mandada para patrulhar sozinha. Isso certamente seria muito mais desastroso.

— Nayeon — reclamou Momo. — Eu não sou tão ruim assim.

— Tem razão, mas suas magias de ataque não são das melhores.

— Mas mando muito bem na magia de suporte.

A expressão de Nayeon se tornou mais séria.

— Isso não é suficiente. Nessa floresta, a morte espreita atrás de cada arbusto. É preciso cuidado ao se aventurar por entre esses galhos.

Antes que Momo pudesse retrucar, um grito agudo emergiu do fundo da floresta, ecoando com potência até atravessar a copa das árvores altas. Nayeon retirou sua varinha do meio das vestes.

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