pov Carol
Quando pisei os pés no Brasil, já senti uma coisa diferente. Os 25 anos longe foram tempo demais sem sentir o sol na cara, sem um boteco duvidoso de esquina, sem um banho de mar, sem os ritmos que só se encontram aqui. Até respirei melhor.
Estava esperando minhas bagagens quando recebi uma ligação. Olhei o identificador e fiquei surpresa ao descobrir que era Adriana.
- Alô? - atendi assustada.
- Oi, minha amiga! Se me atendeu é porque já está em solo carioca. Acertei?
- É, já cheguei sim! Tô esperando minhas malas. - meu Deus, como tinha sentido falta da amiga.
- Então tá bom, pega sua bagagem que eu tô te esperando aqui fora pra te levar pra casa.
- O que??
- É ué, você achou que eu ia esperar até amanhã pra te ver?
- Adriana... - mal cheguei e já estava chorando.
- Vem logo! Tô te esperando.
E foi assim que fui recebida. Adriana quase não me larga e eu não podia reclamar, queria morar naquele abraço.
- E aí, me conta tudo! - Adriana começou o questionário quando já estávamos no carro a caminho do apartamento que tinha alugado.
- Tudo o que?- Ué, Carol. Vai me dizer que você passou 25 anos morando no Canadá e não tem nada pra me contar? - Adriana me olha de lado rindo da minha cara enquanto dirige.
- Nada muito fora da realidade né, Drica. Eu trabalhei muito. Só isso.
- Só isso, Carolzinha? Você não tem nada mais interessante pra me contar? Um amor, um namoro, um rolo que seja. Por favor, me diga que você não ficou sozinha vivendo que nem uma santa esse tempo todo, ein. - Adriana fala rindo, mas nem tanto.
- Não, Drica. Claro que eu tive uns rolos com umas pessoas, mas nunca passou disso não. - falo rindo da cara da minha amiga.
- Hm, sei. Tá bom então.
O mais triste dessa conversa é que eu realmente não menti. Não me relacionei sério com ninguém nos últimos 25 anos. Dediquei todo esse tempo ao trabalho e ocupei minha cabeça para esquecer que estava longe de tudo e de todos que mais amava. Me ocupei para não começar a questionar a razão de ter partido. No momento que me permiti pensar sobre isso, eu decidi voltar. Adriana aceita a resposta vaga e seguimos conversando amenidades até o meu novo apartamento. Quando chegamos, subimos minhas quatro malas e arrumamos as coisas um pouco até que a fome falou mais alto e saímos para almoçar.
- Então, Drica. Como tá todo mundo?
- Ai, Carol. Tá todo mundo ansioso pra te ver, né. Todo mundo morrendo de saudade. As crianças também estão curiosas para conhecer a famosa tia Carol.
- Crianças, Adriana? Eles já são todos adultos! Mas eu também tô ansiosa para conhecer a prole das minhas amigas. - digo rindo. - e a Natália? Tá bem?
- 3 horas e 22 minutos. - diz Adriana olhando pro relógio.
- Que?
- 3 horas e 22 minutos foi o tempo que você demorou para perguntar da Natália. E eu ganhei a aposta. Obrigada, minha amiga. - Adriana ri da minha cara de surpresa.
- Aposta?? Adriana do que você tá falando?- Eu e Helena apostamos quanto tempo ia demorar para você falar da Nat. Ela disse que você não ia demorar nem uma hora, mas eu te conheço.
- Meu Deus, eu odeio vocês. - digo tentando permanecer séria.
- Odeia nada. Mas respondendo sua pergunta, a Natália tá ótima. A Helena disse que ela tá muito ansiosa para te ver.
- Helena? Elas ficaram bem próximas, né? - pergunto curiosa com a amizade das duas.
- É, depois dos gêmeos elas viraram unha e carne praticamente. Se agarraram uma na outra para seguir a vida.
- Legal. - respondi meio desanimada.
- Não se preocupe, Carolzinha. Você continua sendo a preferida da Natália. - Adriana ri da minha cara.
Depois do nosso almoço, Adriana me deixou em casa e voltou para a sua clínica porque ainda tinha alguns pacientes naquela tarde. Terminei de arrumar todas as malas, saí para comprar algumas coisas e abastecer minha geladeira e me dei ao luxo de tomar um vinho à noite para descansar. Entrei nas redes sociais com a intenção de dar uma olhada no perfil da faculdade que iria trabalhar, mas acabei gastando duas horas olhando tanto o perfil pessoal quanto profissional de Natália. Algumas coisas me chamaram a atenção: minha saudade intensificou depois que cheguei no Brasil e a Natália era muito reservada. Postava quase que exclusivamente fotos dos sobrinhos, principalmente de Sol, que poderia facilmente ser um clone seu, assim como Marcos era idêntico ao seu pai. Pensei em mandar uma mensagem para Natália, mas achei melhor esperar e, para não entrar em tentação, fui logo dormir.
VOCÊ ESTÁ LENDO
azul
FanfictionCarol volta do Canadá depois de 25 anos longe de seus amigos e encontra uma realidade diferente.