Verão de 2022, Sergipe, Brasil.
POV LAURA REIS
Estava no meu terceiro dia de férias
na Ilha dos namorados. Depois de 2
anos sem me dar o luxo de viajar,
decidi voltar a minha cidade natal
para aproveitar o verão. Existem
alguns motivos pelos quais escolhi
esse ano estar em casa, mas o
principal continuaria guardado no
meu coração.
Nasci e cresci na capital, Aracaju
sempre foi minha menina dos
olhos, o lugar onde recarrego as
energias e encontro o conforto nos
dias tranquilos que sempre tenho
quando estou em casa. Toda minha
família ainda vive aqui, com exceção
da minha irmã mais nova, Luana,
que mora comigo em São Paulo.
Nossa família é pequena, hoje somos
apenas nós duas, nossos pais e a
nossa sobrinha Letícia, filha do meu
falecido irmão que nos deixou no
início de 2021. Letícia antes mesmo
de completar dois anos, perdeu os
pais depois de um trágico acidente de
carro. Meus pais, Vicente e Lourdes,
lidam com a perda do meu irmão
tentando oferecer para nossa Lelê todo amor e conforto possível, e,
honestamente, eles fazem um belo
trabalho com a minha sobrinha.
No mês que vem eu completo 32 anos
E fazem exatos 7 anos que decidi
Morar em São Paulo, levando comigo
A minha irmã Luana, que na época
Tinha acabado de começar o colegial,
E em comum acordo com os meus pais
Decidimos que seria uma ótima
Oportunidade para que fosse estudar
Numa cidade grande feito São Paulo.
Eu tinha acabado de me formar em
Direito pela federal de Sergipe e
Enfiado a cara nos livros em busca
Do concurso dos meus sonhos, o que
Eu jamais poderia imaginar é que
Três anos depois, já na cidade de São
Paulo o sonho se tornaria minha atual
Realidade.
Hoje eu sou Juíza titular da 4ª
Vara cível de São Paulo e não
Poderia me sentir mais realizada
Profissionalmente. Foram anos de
Abdicação para tornar esse sonho
Real. Eu sei o quanto mereci.
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Acordei às 7h e enquanto descia as
Escadas dei de cara com Lelê saindo
Do quarto segurando a naninha que
Ela não largava nunca, peguei minha
Sobrinha no colo e a enchi de beijos:
- Bom dia, minha princesa, que carinha de sono mais dengosa, como foi sua noite? – Lelê encostou a cabecinha em meu ombro e bocejou cheia de dengo.
- Bom dia, tia Lulu. Acho que eu ainda quero dormir mais, só acordei porque senti saudades da vovó na cama. Disse coçando os olhinhos
- Acho que a vovó desceu para preparar aquele café da manhã delicioso que a gente ama, que tal a gente correr até lá pra devorar tudinho? – a pequena apenas assentiu com a cabeça e sorriu de canto, ela realmente parecia estar com sono.
Descemos e encontramos Luana e meu pai já à mesa conversando sobre as notícias que viam na tv ligada da cozinha, enquanto minha mãe estava como sempre, sem deixar ninguém ajudar com o famoso café da manhã da dona Lourdes. Ela deixava a gente fazer almoço, lanche, janta, mas o café da manhã era só ELA. Tudo bem que a gente ama, mas não nos custa nada ajudar, agora coloca isso na cabeça dela?
Coloquei Lelê na cadeirinha e me sentei ao juntando a eles.
- Bom dia amores da minha vida, estar em casa é maravilhoso, viveria uma vida acordando e tendo o prazer da companhia de vocês logo cedo – falei feliz e recebi o abraço de lado do meu pai.
- Você fala isso porque vem só de passagem, Lu, quero ver aguentar o falatório do seu pai todos os dias as 7h da manhã – minha mãe gritou sorrindo do outro lado do balcão.
- Lourdes, desse jeito as meninas vão pensar que você não gosta de me ouvir tagarelar no seu pé do ouvido, não assusta as nossas filhas, benzinho – meu pai gargalhava.
- Como se elas não soubessem que você fala mais do que essa boca consegue suportar, todo mundo cansa de ouvir você falando, bem, e você nunca cansa de tanto falar – ela disse sentando-se na mesa conosco
- Mamãe, não seja tão dura com o papai, a gente sabe que ele fala demais, mas que se fosse diferente você não suportaria um minuto sequer do silêncio dessa casa. Vocês são movidos a falatório, não é a toa que a Luana passa o dia falando pelos cotovelos lá em casa e a Lelê tá seguindo o mesmo caminho – comentei entrando na brincadeira.
- Filha, não puxa tanto o saco do seu pai – mamãe falou e todos nós caímos na risada – mas voltando pra você, que bom que você tem se sentido feliz em estar em casa, talvez você volte com mais frequência – minha mãe sempre me cobrava pra estar mais em casa, eu sei o quanto ela sente minha falta, principalmente depois que o Luigi se foi.
- Em breve essa distância irá acabar, mamãe, se tudo der certo, as novidades que tenho pra gente serão as melhores – falei lembrando da solicitação de transferência que fiz no final do mês de novembro ainda no ano passado.
- A Lulu não quis me contar, mamãe, mas se eu bem conheço a mana, quando vocês menos esperarem a gente chega com o caminhão de mudança de lá para cá – Luana falou e meus pais arregalaram os olhos.
- Menina, larga de ser enxerida e falar mais que sua boca, viu só, dona a Lourdes e seu Vicente?! Essa não nega que é filha de vocês – falei e deu uma cutucada na barriga de Luana fazendo ela cair na risada.
- Lu, se você me disser que vai voltar para cá eu prometo pra você que eu e sua mãe nos mudamos pra capital com a Lelê, só diz que volta, é só você dizer e a gente vai – meu pai falava eufórico.
Eu quero ir morar em alacaju com a tia Lulu e a mana Lua, por favor tia Lulu, a senhora deixa?! – Lelê finalmente despertou.
- Mas gente, larga dessa história de que a minha novidade é isso, quem disse que eu vou voltar? – falei tentando não rir – Olha minha princesa – segurei o queixo da Lelê fazendo com que ela me olhasse – Não se preocupa, se um dia a tia Lulu voltar a morar aqui, não tenha dúvidas que vocês todos irão morar comigo, certo? – falei e vi os olhinhos da minha sobrinha brilharem.
- A tia Lulu vai morar com a genteeeeee, EBAAAA!!!! – Lelê saiu correndo pela casa sem ao menos terminar o café da manhã e nós ficamos rindo da cozinha observando a cena.
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A manhã passou voando. Dei banho na Letícia e fui com ela e Luana na feira comprar umas coisas que minha mãe precisava para o almoço. No caminho, paramos diversas vezes por conta de uma Lelê empolgada que decidiu contar para todas as suas amiguinhas da Ilha dos Namorados que ela ia morar na capital com a tia Lulu. Eu não tive como desmentir a minha sobrinha para a metade da cidade, só me restava sorrir quando me perguntavam se era verdade o relato. Levando em consideração a empolgação da minha sobrinha, eu só conseguia desejar que a transferência desse certo.
Voltamos para casa perto das 11h e Encontramos a dona Lourdes nervosa na cozinha com a nossa demora, avisei que a culpada pelo feito era a neta dela que decidiu ser um jornal ao vivo contando para a metade da cidade que eu viria morar de volta em Aracaju fazendo a gente perder um baita tempo. Sorrimos juntas com a possibilidade. Subi e Luana e Letícia vieram junto, sentamo-nos na varanda do meu quarto e ficamos observando o mar que começava a ficar agitado.
Titia – Lelê me chamou
- Oi, amor – olhei e esperei que prosseguisse
Você não gosta de morar aqui com a gente? – me olhou curiosa
Aquela pergunta me levou para um lugar que eu ainda não tinha visitado desde o dia que cheguei. Ninguém tinha falado sobre. Ninguém tinha perguntado. O assunto ainda não tinha surgido. Eu estava tentando deixar quieto, estava fingindo que estar em casa não me trazia aquelas lembranças. Eu estava tentando não lembrar, mas era impossível, tudo me nesse lugar me lembra ela. E foi aquela pergunta que me fez lembrar que ali, naquele lugar, não tinha como fugir, eu estava encurralada....