16 - Elena.

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Quando eu ouvi o nome "Elena" ser gritado por todos, na frente de toda a nossa família, e de nós dois, meu coração tremeu.

Eu esperava qualquer coisa. Tudo. Tudo. Menos um nome feminino.

Era a única coisa da vida de Lavínia que ela nunca tinha me contado. Meu coração apertou, mas obviamente não era por não apoiar, afinal, eu sou um homem gay, e nossa família não é nada hétero.

Mas Lavínia nunca comentou sobre comigo. Eu me senti meio traído.

Meu coração só apertou mais quando ela começou a chorar e saiu de trás do bolo, se trancando dentro de um dos banheiros do salão. Eu quis chorar. Muito.

Nicollas estava estátua, perplexo no mesmo lugar. E tudo estava em um completo silêncio. Foi quando vi Nathalie e Hallana perto da caixa de som, colocando uma música infantil, que logo fez as crianças da festa desviarem o foco. Eu dei o primeiro passo, e fui andando até o banheiro, mas vi Kyle ao meu lado, que tocou o meu ombro.

— Ela nunca contou pra você que gostava de meninas?

— Não. Era a única coisa que ela nunca havia me contado. Eu não sei porque, sabe? Ela sempre me contou tudo, e poxa, nem tem como existir medo de eu não apoiar ela. Olha pra mim. Olha pra Nathalie. Poxa, eu não entendi.

Não ousei abrir a porta, respeitei o tempo dela, então Kyle na abraçou.

— Então me sinto mais pai do que você, agora. Descobri alguns minutos antes. — Eu ri, e ele me soltou após um tempo.

— Hm?

— No início da festa. Ela me contou que estava com medo. Sabia que cantariam pra essa Elena. Uma semana atrás, ela tinha dito que gostava dela. Mas Elena não retribuiu. Não pense que ela está triste por ter sido arrancada do armário, Niel. Todo mundo meio que já desconfiou. Ela está triste por causa da Elena. Que não ama ela de volta. Que nem veio pra festa dela.

Meu coração batia com força, e eu ouvi a porta mexer levemente, sabia que Lavínia estava encostada ali, ouvindo a conversa. Conhecia a filha que tinha.

Eu comecei a chorar. Nunca soube me segurar, mesmo. Abri a porta devagar, Lavínia nem tocou na maçaneta, nem me impediu. Ela me abraçou, com força, antes mesmo de eu entrar no banheiro. Ela chorou por um tempo, eu e Kyle a consolando, até ela finalmente se acalmar, e sair de dentro do banheiro.

A vida é assim, mesmo. Nem sempre a gente fica com a primeira pessoa que gosta, ou nem sempre tudo dá certo. Nem sempre temos o sentimento retribuído, e nem sempre temos dois lados fiéis.

Usaria eu e Nicollas como excessão, já que ele foi meu primeiro namorado, e eu o dele, e temos mais de vinte anos juntos. Mas, até entre nós dois, houve o deslize de Kyle. Até a gente brigou sério algumas vezes. Até nós terminamos. Nem tudo é um mar de rosas, nunca.

Se quisesse um mar de rosas, estaria lendo um conto de fadas bem agora.

Foi quando saímos do local, que a festa voltou a ter o silêncio constrangedor, e então eu vi uma garotinha da altura de Nathan, minúscula, e loira, entrar correndo no salão, e abraçar Lavínia com força, quase as derrubando no chão.

Era a Elena.

Não demorou pra que todos esquecessem o que aconteceu, e os colegas de Lavínia irem perguntar se ela estava bem. Tudo terminou bem, no fim, e a festa acabou.

Todos os coleguinhas dela foram embora, e nossa família também, que foi pra casa de Millie, onde aconteceria a segunda parte da festa, só entre a família.

Foi aí que percebi o quão ridículo Kyle é.

Elena não tinha ido pra festa de Lavínia já que seus pais não teriam como a levar, pois estavam trabalhando. Então, Kyle fez com que Nicollas fosse buscar a garotinha em casa, mas como um acordo, Kyle a levaria de volta pra casa no fim da festa.

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