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OUTUBRO DE 2024

— Se apaixonar... — diz o homem, seus passos soando alto por todo o auditório conforme caminha. — Pode levar menos de um segundo. Algumas vezes, toma apenas um quinto deste. O cérebro humano é tão eficiente que, dentro deste espaço de tempo, o qual parece minúsculo para cada um de nós, é capaz de desencadear uma série de reações bioquímicas e liberar substâncias que nos trarão a sensação de êxtase a qual muitos aqui, até o dia de hoje, não saberiam explicar...

— Como se a capacidade de explicá-lo fosse realmente tornar alguma coisa melhor. — a garota sentada numa das fileiras do meio sussurra para si mesma enquanto rabisca algo em seu caderno.

— Ocitocina, dopamina, serotonina... — as palavras ecoam entre os estudantes ali presentes com pausas bem ensaiadas. — São estas algumas das moléculas responsáveis por aquilo que nós chamamos de amor.

— Então você não acredita? — alguém questiona de uma cadeira muito ao fundo, fazendo-o se calar.

O silêncio toma o local. Canetas param de marcar o papel. Leva quase minuto inteiro antes que os olhos castanhos finalmente encontrem de onde a pergunta veio e, enquanto isso, alunos sussurram de lá para cá sobre o quão abruptamente aquela interrupção se deu, mas diferente do esperado, aquilo não parece abalá-lo.

— No quê? — o palestrante lança em tom calmo, dando uma pausa também em seu caminhar.

— No amor da forma como todas as pessoas acreditam. Para você isso é apenas "Ciência"?

— Besteira. — a menina de antes se pronuncia mais alto desta vez, antes que ele possa dar sua resposta. — Nada é "apenas Ciência". Eu bem que gostaria que algo fosse tão fácil assim, mas todos aqui sabem que não funciona desse jeito.

— E eu não posso dizer que você está de todo errada. Serei obrigado a dizer que sim, muitas coisas em nossa vida são somente parte da Ciência de um determinado ponto de vista, mas o amor, quando analisado à fundo, não é uma delas. Há algo que desencadeia tudo isso, o start de cada uma dessas reações, e por mais que milhares de explicações sejam dadas, talvez nunca encontremos uma que seja completa o bastante ou, indo além, talvez já o tenhamos feito, mas ainda não sejamos capazes de compreender cada parcela disso, simplesmente porque não sabemos amar.

— Mas, ao menos em partes, ele ainda pode ser descrito de forma simples como... Neurotransmissores e todas essas coisas... Certo?! Logo, isso significa que podemos amar verdadeiramente mais de uma pessoa enquanto vivemos.

O homem ao fundo, que questionou-o sobre o amor, ainda o observa com atenção, curioso com o que virá a seguir e divertido pela pequena confusão e todos os questionamentos gerados entre os presentes a partir de uma simples pergunta.

— Eu li em algum lugar que nós vivemos três grandes amores durante a nossa vida. — outro estudante diz em voz alta, e todos se voltam para ele quando o homem sobre o palco direciona para este um novo questionamento.

— E você acredita nisso?

— Eu gostaria de acreditar. É uma teoria legal, não é? Pelo menos assim todos sabemos quantos amores estamos destinados a ter.

— Bem, nunca se sabe, certo? Eu prefiro acreditar que a vida é cheia de surpresas. Enfim, acredito que seja melhor continuarmos, pois nosso tempo já está acabando. Como eu ia dizendo...

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MARÇO DE 2016 – DEZEMBRO DE 2016

— Querido, eu preciso que você venha direto para casa hoje depois da escola. Nada de ir para a fazenda dos La Selva. — a mãe de Ramiro diz durante o café da manhã.

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