Antes do fim

90 16 27
                                    

No dia 26 de fevereiro de 2022 foi quando tudo começou. As pessoas tinham recém saído de uma pandemia global que atingiu o mundo em 2019, e agora, dois anos depois, graças ás campanhas de vacinação contra a covid-19, a vida estava voltando aos poucos ao que eles consideravam normal.

A felicidade durou pouco.

Justo quando as coisas estavam prestes a melhorar, algo começou a alarmar a pessoas. Passava em todos os jornais, nas redes sociais e agora até nas ruas, quando moradores exaustos começaram a protestar pela melhoria na saúde pública. Imaginando que, uma nova fase do coronavírus estava prestes a levar as pessoas á fecharem novamente as portas, governadores e pessoas importantes começaram a postar seus discursos mentirosos e militantes, enganando a população em prol de brigas políticas. E como sempre, nada mudou na vida das pessoas comuns, aquelas que nada podem fazer além de se esconder até que tudo passe.

Mas as coisas não saíram bem como planejado. Mais notícias saíram e de repente tudo estava um caos.

"Ministério da Saúde confirma primeiro caso de novo vírus no Brasil."

"Novo vírus acaba de ser detectado em mais de cinco pacientes internados em um hospital capixaba. Prefeitura do Estado faz apelo para que moradores fiquem em suas casas pelos próximos dias, por tempo indeterminado."

"Novos sintomas são divulgados pela Anvisa. Vômitos, diarreias, manchas e feridas espalhadas pelo corpo são parte delas."

"A Ministra da Saúde, Verônica Lima, cede informações sobre vírus desconhecido que tem tomado a população brasileira; 'Acredito eu que seja realmente algo mais atordoante. Não como a influenza ou a covid-19, talvez pior. Por isso é importante pra todos agora que fiquem em suas casas e tomem muito cuidado com tudo que consomem de fora.'"

"21 é o número de mortos até o momento e governo alerta: "O lockdown é indispensável nesse momento."

"Outros sintomas da Mindium são alucinações, febre, tontura e calafrios. Pacientes diagnosticados também tem características em comum como a palidez na pele, dificuldades respiratórias e na fala."

"Homem de 34 anos é detido ao tentar morder uma jovem de 25. Sob efeito de calmantes, o homem foi levado à delegacia e, em seguida, para o hospital Albert Einstein em Vila Velha, com febre altíssima. A suspeita é de que ele seja mais um dos infectados pelo Mindium e estivesse em uma crise alucinógena, o que teria feito com que seu comportamento se tornasse agressivo e desorientado."

Nesse momento, embora algumas pessoas ainda levassem uma vida comum dentro de suas casas, grande parte delas estavam em completo desespero. Na rua, era possível ver pessoas fazendo compras pra estocar comida. Em outros lugares, portas trancadas por parafusos e móveis, para que de forma alguma pudessem abrir.

"Mais infectados surgem nos hospitais e mais uma vez, o Ministério da Saúde vem ás mídias reforçar o que tem sido dito com frequência nas últimas semanas; 'Mantenham a calma, fiquem em casa e se cuidem. Não tem mais lugar nos hospitais e nós faremos o possível pra tratar todos da forma correta, então não saiam."


Mais tarde, as mensagens eram mais apelativas. Desesperadas. Desacreditadas. Na última vez que falaram sobre isso na mídia, todos souberam que o mundo estava prestes a acabar.

"Eles estão contaminados.... Logo eu vou ser também. Eles estão mordendo todo mundo... Eu vi um deles com um braço na boca, é perturbador. Salvem suas vidas.... Eles estão em todos os cantos, ninguém é confiável. Olhem pro próprio corpo, procurem as cicatrizes, as marcas, os machucados... Qualquer sintoma. Se estiverem com qualquer um deles, saiam de perto das crianças, das suas famílias, fujam. Eles não merecem passar por isso..."


A mensagem foi cortada e um chiado vindo da televisão soou nas casas dos moradores. Eles estavam por todos os cantos. Os assintomáticos eram os piores, pois não estavam nos hospitais, mas sim em suas casas, com suas famílias, vivendo normalmente.

Quando o vírus já havia tomado a maior parte do corpo das pessoas infectadas, as alucinações pioravam, o comportamento já não era o mesmo, eles pareciam mais zumbis em corpos aparentemente saudáveis. Mas como o jornalista da última matéria sobre o Mindium mesmo disse, manchas no corpo, feridas, bolhas, como se a pele estivesse queimando, eram comuns entre os contaminados. Esse era o único sinal aparente de que alguém podia estar com o vírus em seu corpo.

Nas ruas, tudo virou de cabeça para baixo. Os muitos infectados já alucinados, corriam pelas ruas enquanto procuravam mais organismos saudáveis para proliferar o vírus. Mordiam quem fosse, não importava se tinham parentesco, se eram família ou coisa assim. Nada mais importava. Eles estavam cegos pela doença e famintos por carne humana. Mães com seus bebês corriam por aí, fugindo dos infectados. Crianças. Famílias inteiras. Outros protegiam sua família da porta de casa. Os que estavam em casa, com as portas fechadas, não tinham vantagem alguma. Os infectados eram espertos, não eram só cérebros vazios ambulantes, faziam de tudo para conseguir o que queriam.

E assim, a humanidade foi tomada. Assim, o mundo morreu. Agora, até mesmo os sobreviventes, estavam a ponto de desistir. Não tinha mais um propósito. Viver não atinha mais sentido. Seus sonhos, famílias, histórias, foram todos corroídos por uma pandemia mortal. Tudo o que se via nas ruas agora eram corpos em decomposição, ruínas, restos de vidas deixadas pra trás. O amor se esfriou, o remorso foi esquecido, e os que ainda lutavam pela própria vida, tinham que brigar uns com os outros por comida, água e itens básicos necessários para sua sobrevivência.

Com o tempo, só os mais fortes sobraram. Alguns, conquistavam o poder por alguma comida, conseguiam trabalhadores e os pagavam com os restos do que tinham pra si. Outros, viviam nas calçadas nos lugares mais movimentados, pedindo esmolas aos que passavam por ali e se escondendo sempre que algum infectado passava por perto. Já os mais inteligentes, formavam grupos com outros sobreviventes e viviam viajando em busca de sobreviver, é claro, mas também em busca de algo ainda mais importante pra eles naquele momento.

O recomeço.

Afterlife - Billie Eilish Onde histórias criam vida. Descubra agora