Prólogo

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O som do alarme programado no celular rasgava o silêncio. O barulho do chuveiro ligado se misturava aos passos dos pés molhados e descalços no banheiro. Júlia era estranhamente atrapalhada: quando não esquecia uma coisa, esquecia outra; quando esperava para contar uma piada, a esquecia; quando sob pressão, se desajeitava toda.


Quase três anos se passaram, e a morena finalmente havia alcançado sua meta. Era seu grande dia, o dia que foi construído ao longo dos últimos três anos.


— Pode entrar! — disse ela, amarrando a cinta de seu roupão.


Nathy, sua amiga de longa data e companheira fiel, entrou pela porta. A loira de olhos cor de mel colocou sua maleta preta sobre a cama e encarou Júlia, dizendo:


— Você ainda não está pronta?


— Por favor, não me apresse! Me dê mais alguns minutos que já vou me vestir. E, aliás, eu quero me sentir maravilhosamente linda! Bom, você já sabe, vá e faça seu milagre.


Enquanto Júlia vestia um exuberante vestido preto que contornava seu corpo até a ponta dos pés, Nathy escolhia cuidadosamente suas paletas de cores e maquiagens para salientar ainda mais a beleza da amiga, que por muito tempo havia sido ofuscada.


Júlia, já vestida, sentou-se na cama, com os olhos fechados, sentindo o toque dos pincéis de Nathy percorrendo seu rosto. As cores começaram a aparecer não só no contorno dos olhos verdes estonteantes, mas também na mente da morena. Os pensamentos já estavam criando forma — memórias de uma história conhecida e não tão distante.


Os convidados pessoais de Júlia já começavam a chegar. Na porta do enorme salão, um casal vestido para uma noite especial confirmava os nomes de cada convidado, direcionando-os para suas mesas.


Em questão de minutos, muitas pessoas tagarelavam no salão que antes parecia maior. Garçons não mais andavam, mas deslizavam elegantemente entre as mesas, com taças de vinho rosé sendo entregues a cada um ali presente.


As luzes suspensas no teto cintilaram mais fortes. Todos que estavam acomodados nas cadeiras ficaram de pé, e uma salva de palmas ecoou por todo o salão.


E lá vinha ela, um passo na frente do outro, parecia desfilar sobre o tapete vermelho que havia sido estendido exclusivamente para si.


Os cabelos longos, cor de chocolate, contornavam lhe a cintura. O vestido preto até os pés deixava à mostra apenas a ponta do seu tênis All Star. Seus braços tatuados eram enfeitados apenas por um relógio, e nenhuma aliança lhe enfeitava os dedos. Seus lábios carnudos foram coloridos por um tom nude; seus olhos verdes foram delineados para chamar a atenção.


Júlia segurava as lágrimas que queriam transbordar de seus olhos. Seu coração sentia uma satisfação enorme de dever cumprido que jamais sentira antes. Quando as palmas finalmente cessaram, a morena ligou o microfone que estava em suas mãos, respirou fundo e disse:


— Obrigada a todos pelo carinho! É como magia estar aqui neste momento, vivendo este sonho.Ela fez uma pausa. Encarou as primeiras mesas, procurando seus principais convidados, e então continuou:

Caminhos da desilusão: Um Romance InacabadoOnde histórias criam vida. Descubra agora