Na névoa espessa do bosque cerrado,
um forasteiro, exausto, cambaleava;
da terra estranha, o aço o aguardava,
e o destino o guiava ao suplício selado.Viera de longe, além-mar, além-serra,
fugindo da fome, da peste e da guerra.
Mas encontrou só vil metal e corrente,
e olhos cruéis, de riso indecente.Sua prole — tenra, de faces tão puras —
foi ceifada com lâminas nuas;
a esposa, entre gritos, tombou sem alento,
no chão frio e sujo, de sangue sedento."Por que, ó Senhores, negais-me a clemência?"
Bradou, mas as lanças calaram-lhe a essência.
Arrastado foi aos confins da floresta,
onde a Morte, paciente, cruel, lhe atesta:Com lenho afiado, perfuraram-lhe o ventre,
e ergueram-lhe o corpo, oferta indecente;
o corvo piava, o lobo esperava,
e o céu, indiferente, ao longe trovejava.Seu sangue escorria em preceira mortal,
rubra oferenda ao Deus imortal.
E ali, empalado, sem glória ou brasão,
o forasteiro expirou, maldição.Hoje, entre carvalhos de folhas sangrantes,
diz-se que um lamento ecoa nos instantes
em que a bruma envolve o ermo caminho:
o choro de um homem, perdido e sozinho.- Frigo Ilumi, Era 5, ano 291
O céu estava encoberto por nuvens carregadas. Relâmpagos iluminavam o Vale dos Ossos, um antigo campo de batalha onde milhares haviam morrido séculos antes. Agora, o cheiro de morte voltava a se espalhar.
O Vale dos Ossos é uma terra esquecida pela luz, um campo vasto e lamacento cercado por morros irregulares de terra escura, constantemente açoitado por ventos frios e cortantes. A chuva cai com frequência quase ritual, como se o próprio céu chorasse pelas almas perdidas — muitos dizem que são as lágrimas dos guerreiros da Terceira Era, derramadas desde o dia em que a terra se tingiu de sangue.
O solo é traiçoeiro, instável e encharcado, formando poças escuras e lama espessa que engole botas e corpos com a mesma facilidade. Em meio à podridão do tempo, pequenos trechos de grava seca e áspera rompem o barro, lembrando os ossos expostos de um cadáver gigantesco.
Por todo o vale, há dezenas de milhares de cadáveres apodrecidos, esqueletos partidos, armaduras enferrujadas e espadas quebradas, esquecidas sob a chuva. Algumas lanças ainda fincadas no chão parecem resistir ao tempo como lápides improvisadas. Nada cresce ali, e os sussurros do vento ecoam como murmúrios de almas presas entre este mundo e o próximo.
Dizem que, durante a Grande Guerra da Terceira Era, mais de trezentos mil homens tombaram ou desapareceram nesta região, num massacre tão imenso que o chão nunca mais secou. Mesmo os corvos evitam o vale.
Hoje, o local é temido até pelos caçadores de mortos, e visto por muitos como uma ferida aberta no mundo — onde o tempo parou, e a morte nunca foi embora.
No topo da colina, mais de cem homens estavam posicionados: arqueiros, espadachins, mercenários e até alguns poucos magos de apoio se alinhavam em silêncio. Na frente deles, um homem de armadura escura, com olhos cinzentos como aço gasto e uma cicatriz que cortava metade do rosto, erguia seu machado pesado.
Hargar - Tsc. Ele está sozinho? [risada] Ele é idiota? / Arrogante, quando ele ri os outros soldados riram com ele
A figura caminhava calmamente pelo vale encharcado de lama e sangue antigo, com a espada nas costas e o peito nu, coberto apenas por cicatrizes e runas queimadas na pele. Seus cabelos ruivos, molhados pela chuva, caíam sobre o rosto, e os olhos verdes cintilavam com uma fúria silenciosa.

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The Mark of War
FantasyUniverso:Abnor Quando o tempo se detém e o mundo desaba sobre o espírito, resta ao homem apenas a lembrança - ou a loucura. Saellan, outrora filho de uma vila esquecida entre as sombras das montanhas, viu o céu tingir-se de sangue sob o estandarte...