Entre escamas

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Está tão frio, não sinto minhas mãos... Pode ser por estarem amarradas, ou por eu estar nua ou até por ter sido envenenada. Nunca pensei que acabaria assim, sozinha, em uma caixa pequena e escura, tão indefesa. Porra! Logo eu! Eu sou a única pessoa que pode me salvar, não é assim que vou morrer.
Então paro de pensar e começo a agir. Com o pouco de forças que me restam, tento chutar a caixa o mais forte que consigo, mas nada acontece.

- Filho da puta, abre essa merda agora!- Tento gritar, mas minha garganta estava fechada de tanto que eu tinha tentado.

Ouço barulhos, vindo em minha direção, pode ser que agora seja minha hora... Talvez. Mas não será tão fácil assim.

- Você está querendo morrer antes da hora, Isabel?- Uma voz grossa e firme sai pelo outro lado da caixa, seguida de um soco tão forte que chegou a quebrar a mesma. Fecho os olhos com o impacto que deu e me encolho, como autodefesa, não que isso fosse me ajudar em alguma coisa.- Abra os olhos ou eu vou arranca-los dessa sua cara de puta.- Mais uma vez, aquela voz de novo.

Abro os olhos, serrando-os com tanta raiva que eu mataria esse infeliz apenas com o olhar.

- Por que você não me mata logo?! Já não me humilhou o suficiente?! Vai se foder, seu merda.- Cuspo na silhueta que estava em pé, bem na minha frente. Até que em um movimento rápido, ele se abaixa e chega bem perto de mim, puxando meu cabelo e me forçando a olhar em seus olhos.

- Escuta aqui, vagabunda, você vai morrer hoje, pode não ser agora e nem daqui 20 minutos, mas vai. Não me importa se vai ser pelas minhas próprias mãos ou não. Então tenta colaborar. - Ele era tão... Desgraçado, aqueles olhos tão negros quanto Ônix, o olhar ríspido e fixo, tinha traços fortes, maxilar bem definido e um hálito de Trident sabor menta. Com certeza era um dos Hydillos.

- Para onde você está me levando?- Pergunto, com a voz fraca. Esperando uma resposta no meio do silêncio ensurdecedor. Mas recebo um tapa em meu rosto, tão forte, o estralo que deu, foi ouvido a metros de distância. Fiquei tonta com a pancada, zonza e lenta. Acho que até cheguei a ver estrelinhas.

- Acha que você tem direito de fazer alguma pergunta aqui?!- Ele me puxou pelo queixo, segurando firme meu rosto com uma das mãos enquanto com a outra ele preparava para me dar outro tapa.

- Já chega, Deanis! Você sabe que aquele fodido quer ela inteira e sem nenhum machucado. Você é idiota?!- Outro homem chega, pelo voz, parecia ser mais velho. Estava tão escuro que não consegui ver.

- Cala boca, Simon, não me de ordens ou eu mato você.- Ele fala, sem tirar o olhar de mim e ainda me segurando. Deslizando os dedos da outra mão pelo meu rosto, afastando meu cabelo. - Sabe, você até que é bonitinha, por isso ele te quer sem machucados. Como se eu fosse dar o que ele deseja.- Ele termina a frase sorrindo de canto, me dando um beijo inesperado, mordendo tão forte meus lábios ressecados e sangraram na mesma hora. A dor foi tão forte que parecia que meus lábios estavam sendo queimados. Tentei me afastar mas isso só fez com que ele mordesse ainda mais forte.

Um barulho de bomba invade o lugar e começa um tiroteio. Ele se afasta de mim e me puxa para ir junto dele, recusei e ele me pegou no colo, colocando-me em seus ombros, forçando isso.
Bombas de fumaça aparecem no chão e embaça a minha visão.

- Finalmente.- Resmungo, dando uma cotovelada na nuca dele, fazendo ele me jogar no chão. Sinto uma corda fincar no meu tornozelo e me puxar rapidamente para fora daquele local.

- Você está péssima, Isabel.- Vitória diz, rasgando as cordas que prendiam minhas mãos.

- Tudo pela missão, cretina. Se você demorasse mais 2 minutos, eu teria que fazer o trabalho sozinha.- Levanto, colocando uma calça e um moletom que ela tinha trazido para mim. Ela ri alto e pega duas pistolas que estavam em sua cintura.

- Pronta pra vazar daqui?- Vii diz, destravando as armas.

- Mais que pronta, vamos logo ou eles vão chamar reforços.- Pego um revólver e destravo também, saindo do local que estávamos e atirando em qualquer coisa que aparecesse na minha frente. Saímos correndo em direção ao beco que dava para a cidade. Eu queria ter visto aquele homem que me bateu, queria leva-lo comigo e tortura-lo até ele não aguentar mais, porém não o achei.

Conseguimos chegar até o beco, fiz pezinho para Vitória subir em uma van e ela me puxou para subir também. Corremos em direção aos prédios abandonados daquele lugar.

- Flávia, estamos perto, fica no jeito.- Ela diz, através da escuta em sua orelha.

Escuto um carro se aproximando, parando bem em nossa frente e entramos logo. Flávia deu partida e saímos daquele lugar.

Esse trabalho vai acabar me matando ainda, mas vou morrer algum dia mesmo. Eu só quero chegar até o filho da puta que matou minha mãe, depois que eu matar ele, não me importo em morrer.

- Porra, Isabel, você está péssima.- Flávia fala enquanto dirige, olhando para mim pelo espelho de centro.

- Experimenta fazer o que eu faço, só pra você ver se vai continuar com esse seu rostinho de mimada. Aquele maldito quase quebrou meus dentes só com um tapa que me deu.- Coloco a bolsa térmica de gelo que estava do meu lado, em meu rosto.

- O kaito não vai ficar nada feliz com o que você fez, você poderia ter acabado com todo o plano- Vitória diz irritada.

- Eu precisava. Não é como se o kaito fosse me proteger de algo, ele só quer dinheiro e putas. Sem mim, ele sabe que aquela merda de lugar não seria nada.- Observo a paisagem do lado de fora da janela, respirando fundo.

O resto do percurso foi um silêncio absoluto, eu não conseguia parar de pensar naquele homem que quase arrancou minha boca fora. Muitas perguntas estão na minha cabeça. Quem era ele? Quem queria eu inteira? Por que me sequestraram? Se bem que estava nos planos, mas o resto... Foi tudo tão estranho.
Olho para meu pulso, observando minha marca de nascença. Ou melhor, minha maldição. Tudo que esse símbolo já me trouxe e tudo o que ele já me tirou, se eu pudesse, eu teria escolhido não nascer.





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