Crescer tendo um armário embaixo da escada como quarto era de longe uma das situações mais traumáticas que uma criança poderia ter. Receber castigos do tipo não poder sair dele por semanas, nem mesmo para comer, tornava tudo pior.
Harry Potter era essa criança e aquilo trouxe consequências terríveis para ele: qualquer espaço minimamente fechado já o fazia hiperventilar. Por isso gostava das aulas de Trato das Criaturas Mágicas, estar ao ar livre trazia ao grifinório uma sensação de leveza no peito, mesmo que estivesse cuidando de um animal medonho com garras grandes o bastante para cortar seu pescoço.
Também tinha o quadribol, o esporte bruxo mais famoso, esse sim era sua paixão. Se lembrava da primeira vez que havia voado em uma vassoura, após uma provocação feita por Draco Malfoy, e a sensação só poderia ser descrita com uma palavra: libertadora. Ele percebeu que, pela primeira vez desde que tinha chegado em Hogwarts, encontrou algo que sabia fazer sem muitas instruções ou reclamações, certa parte da sua mente de onze anos chegou a associar que passou tanto tempo preso ao ponto de sua magia querer simplesmente não ter nada que o segurasse, seja quatro paredes apertadas ou a própria gravidade.
Claro que isso lhe trouxe problemas, seu rendimento em certas aulas deixava a desejar, pois ao invés de prestar atenção no conteúdo, olhava para as janelas em uma tentativa tola de não deixar seu pânico transparecer. Em sua grande maioria, as salas do castelo eram enormes e não o faziam querer subir pelas paredes. Transfiguração, Feitiços e Defesa Contra as Artes das Trevas eram ótimos exemplos, com tetos tão altos que era impossível de se vê-los. Adivinhação — ao contrário de Firenze, o professor centauro, Siliba Trelawney não adotou uma sala do térreo e transformou-a em uma pequena floresta — e Poções eram seus principais empecilhos, de tão abafadas e apertadas que eram o sótão da professora e as masmorras que Severo Snape utilizava.
Perdeu as contas de quantas vezes se sentou em uma carteira próxima às minúsculas janelas da sala de Trelawney e abriu brechas para ao menos sentir o vento correr.
No caso do Professor Snape, ele parecia escolher estrategicamente as masmorras mais profundas, onde não havia janelas e o ar chegava a congelar ao sair da boca dos estudantes, por algumas das classes estarem diretamente à baixo do gélido lago negro. Aquilo beirava a tortura, o professor abria sorrisos satisfeitos toda vez que precisava chamar a atenção de Harry, quase parecendo saber o real motivo do garoto estar tão empenhado em respirar devagar. Somente em pensar sobre passar dois ou três horários seguidos naquelas masmorras, o grifinório sofria de crises antecipatórias de ansiedade.
Não era como se Harry Potter fosse atrapalhado diariamente por sua claustrofóbia, mas esse era um temor que muitas vezes o deixava em situações que considerava vergonhosas. A única vez que chegou a comentar com alguém sobre isso, foi com Hermione Granger, a garota mais inteligente que ele já conheceu, e mesmo que ela falasse que não havia motivos para se envergonhar, Harry não podia deixar de se sentir mal ao hiperventilar ou ter naúseas por conta de algo que pensava ser estúpido.
O pior, para ele, não era a ideia de ter uma crise de ansiedade em um espaço fechado, mas a de tê-la com a presença de outra pessoa o olhando, tão vulnerável. Sozinho, poderia lidar com aquilo, como sempre fez ao estar trancado em seu armário, pois foi obrigado a conviver com aquilo a vida inteira, sabia como se controlar mesmo que demorasse alguns minutos de puro pânico, porém ter alguém ali tentando ajudá-lo feria seu orgulho, principalmente se esse alguém fosse Draco Malfoy.— Abre essa porta, seu merdinha! — Draco exclamou, assim que foi jogado em um armário de vassouras por Córmaco McLagger.
O estudante mais velho ria do outro lado da porta. Estava a dias planejando aquilo, sentia uma raiva terrível de Potter por não tê-lo deixado entrar no time da Grifinória como goleiro titular e sabia o quanto ele e Draco Malfoy se odiavam, portanto esperou o momento certo para prendê-los juntos e sem varinhas.
Não foi muito difícil, o sonserino e o capitão do time da Grifinória eram como gato e rato, cobra e sapo, coruja e grilo, chame como quiser, eles se detestavam tanto ao ponto de caírem em uma provocação falsa enviada por Córmaco, que disse aos dois que se encontrassem no corredor da estátua de Gregório, o Bajulador e viessem sozinhos, para um acerto de contas.
Mal chegaram, foram desarmados de surpresa e outros dois alunos mais velhos da Grifinória ajudaram a jogá-los dentro do armário de vassouras.
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Danos irreversíveis
FanfictionVítimas de uma brincadeira de mal gosto, Harry Potter e Draco Malfoy ficam presos sem suas varinhas em um armário de vassouras, mas tudo desanda quando o sonserino percebe que seu rival sofre de claustrofobia. [Também publicada no Spirit Fanfics - e...