Capítulo 1 sem título

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Eu não tinha certeza de que horas eram, ou onde estava, tudo estava meio confuso, o lugar era estranho, meu corpo todo doía. Eu me sentei, olhei em volta, estava nua, deitada em um tapete daqueles macios, mas estava meio sujo, no que parecia uma sala, mas não era minha casa e não tinha ninguém mais por ali. Fechei os olhos e tentei forçar minha memória, repassando o dia anterior todo, havia sido um dia estranho, fodido e fora do comum.

28 horas antes:

Acordei, como sempre, às 6 da manhã, me troquei, tomei café, sai correndo, quase atrasada para pegar o metro e ir trabalhar. Literalmente corri na rua e cheguei a tempo, quase atropelei umas duas ou três pessoas lerdas andando na minha frente, esbarrei em outras três, mal me desculpei enquanto corria. Tudo normal.

Cheguei à empresa, uma empresa de marketing e publicidade, grande, famosa, conhecida, que fica em um prédio enorme, separado por departamentos em andares diferentes, que se odeiam e todo mundo fala mal uns dos outros.

São 10 andares, entre salas de reuniões, sala dos chefes, recepção, departamento pessoal, dois andares de criação, um andar de estúdio, financeiro, atendimento aos clientes, vendas, sei lá mais o que. Trabalho no 7º andar, departamento de criação. Meu departamento, diferente do pessoal do andar de baixo, normalmente não conversa com clientes. Pegamos as ideias, damos formas em programas e mandamos para os clientes ou vendedores. Bem clichê de filme, aqueles nerds reclusos sem habilidades sociais, inclusive, sou a rainha disso. Por isso, nosso setor não precisa de uniforme, um dos poucos, todo mundo trabalha mais à vontade, chinelo, shorts, sem maquiagem ou o que for. Somos o setor criativo.

Mas hoje, havia clientes pelo andar, com vendedores e um dos diretores. Não gostei disso, mas fui para minha saleta, pus meus fones, liguei o equipamento e mãos à obra. A única certeza que eu tinha era de que não falariam comigo, nunca era comigo. Meu contrato garantia isso. Além disso, eu disse que me troquei para vir, pois sair na rua de pijamas seria feio. Eu estava com um jeans velho, uma camiseta amassada e enorme, descabelada, com um coque mal feito, pois não havia penteado os cabelos, olheiras e cara de sono e um tênis sujo e maltrapilho, que amo usar. Meu normal.

Para minha surpresa e de todos do andar, eles vieram direto na minha saleta, sem bater foi todo mundo entrando. O que foi uma péssima ideia, já que o espaço era pouco e as pessoas muitas.

Nisso, minhas emoções já foram enlouquecendo, não gosto de tumulto, de pessoas e de lugares fechados.

Meu chefe, o diretor do meu setor, estava ali, seu terno impecável, o cabelo duro de gel, um sorriso mais falso do que notas de jogos de brinquedo. Além dele duas vendedoras, elas eram inseparáveis e vendiam normalmente juntas, funcionava muito bem, vestidas com o uniforme impecável, saia mid, salto agulha, meia calça, camisa branca sem nenhuma marca de amassado, cabelos alinhados, maquiagem suave o suficiente para parecer natural, mas perfume exagerado. Elas eram lindas, uma ruiva e uma loira, ambas de olhos claros, altas, corpo de academia, me faziam sentir os anões da branca de neve.

Os clientes eram um casal asiático, de estatura baixa, vestidos elegantes, mas com menos preocupação do que meus colegas de trabalho. Mas suas roupas eram muito mais finas, feitas sob medida, para seus corpos. Além de outro rapaz, o filho deles, vestido tão elegante quanto, o cabelo com gel também, todo ajeitado num topete pomposo. Outro homem, de meia-idade, encorpado e sério, com uma barba farta, mesmo sob o terno, parecia musculoso, os cabelos estavam propositalmente desajeitados para tirar a seriedade. Tinha uma mão enorme, um aperto de mão firme e um par de olhos escuros, quase pretos e uma moça, jovem, linda e maravilhosa.

Quando olhei para ela, desejei voltar para casa e me arrumar decentemente para vir trabalhar. Ela era da minha estatura, mais ou menos, se tirasse o salto, estava com uma saia um pouco acima do joelho, a camisa preta com alguns botões abertos quase deixava ver seu busto farto. Usava uma medalhinha dourada, lábios carnudos, olhos muito verdes, cabelos pretos, soltos e reluzentes, cheirava a baunilha e flores, possivelmente mistura do perfume com um hidratante, uma maquiagem um pouco mais forte, mas delicada e sofisticada.

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⏰ Última atualização: Jun 06 ⏰

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