Capítulo 2

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Era sábado a tarde e eu estava morrendo de vontade comer um churrasco. Não sei se é uma coincidência mas eu estava completando vinte e um anos hoje.

Meu dia não foi dos melhores, hoje não teve muitas clientes e acabei não faturando o normal de sábados.

Assim que cheguei em casa, tomei um banho e saí para ir ao mercado, fazia mais de um mês que não fazia a compra do mês, então decidi não adiar mais.

Assim que cheguei peguei o mais essencial, arroz, feijão, óleo, verduras e algumas frutas. Peguei alguns produtos de limpeza e as misturas. Peguei também alguns doces de bobageira para comer de madrugada quando dava fome. De última escolha, peguei um pacote de carvão para fazer meu churrasco, um bolo pequeno e umas velinhas.

Passei no caixa pagando tudo e logo saí praguejando o peso das coisas.

Porra, deveria ter trazido uma sacola grande.

O bolo e o saco de carvão dificultava ainda mais com o peso. Já estou me arrependendo dessa ideia.

— Quer ajuda aí? — me virei vendo o mesmo vapor de dias atrás. O qual separou minha "briga" com Rafaela.

— Não precisa, agradeço. — no mesmo momento fechei meus olhos sentindo minha mão queimar com o peso.

— Deixa de ser teimosa, tá mo pesado isso aí. — tentou puxar uma sacola da minha mão.

— Não precisa!

— Me dá aqui. — puxou as sacolas me deixando apenas com o bolo na mão. — Tá quase morrendo e não aceita uma ajuda.

— Abudado, nem te pedi nada.

— Quietinha.

— O moleque!

— Vai fazer festa hoje?

— Não.

— Mentirosa, esse carvão e esse bolo é para que? — bufei revirando meus olhos.

Depois de alguns segundos três homens pararam ele.

— Fala meu parceiro DL. Ué, quem é essa? Rolinho novo?

— Sou rolinho de ninguém não. Da minhas coisas que eu vou embora.

— Depois eu falo contigo. — disse para o rapaz e voltou a andar.

Assim que cheguei e abri o portão DL entrou em casa na minha frente.

Quanto abuso.

— Pronto lindona.

— Agora já pode ir.

— Dá um gole de água aí, por gentileza. — encarei ele e revirei os olhos outra vez indo em direção a cozinha. Consegui ouvir os barulhos dos seus passos atrás de mim. Parei me virando para trás brutalmente o que quase fez eu bater a cabeça no seu peito.

— Eu deixei você entrar?

— Vai me deixar para fora?

— Então peça para entrar.

— Posso entrar? — arquiei minha sobrancelha.

Peguei um copo no armário e abri a geladeira me abaixando para pegar a garrafa de água. Despejei no copo e dei para ele que bebeu tudo em uma golada só.

— Agradece. — disse deixando o copo na mesa e saindo. Segui ele para trancar o portão que tinha ficado aberto.

Algumas pessoas na rua olhavam com curiosidade para dentro de casa, apenas ergui o dedo do meio para essas fofoqueiras e entrei para dentro de casa de novo.

Guardei todas as compras e já era quase sete, então decidi começar a fazer o que iria jantar. Comecei temperando a carne e deixando ela de lado para pegar o tempero. Piquei alho para fazer arroz, fiz um vinagrete e coloquei um pouco da carne para assar.

Depois de alguns minutos tudo estava pronto, cortei a carne para comer e coloquei algumas para fritar.

Me serviu colocando tudo que tinha feito e abri uma coca para tomar junto. Não demorei para começar a comer e muito menos para terminar.

Peguei meu bolo e coloquei sobre a mesa e logo depois coloquei as velas.

As acendi e em um ato idiota eu comecei a cantar um parabéns, fazia tanto tempo que não ouvia um ou então cantava.

Não percebo quando meus pensamentos flutuam. De repente tenho oito anos e estou com meus avós comemorando meu aniversário. O fato de não ter meus pais aqui não pareciam tão terrível naquela hora. Todos meus aniversários foram incríveis, até os meus catorze. Minha avó fazia ser especial mas faltava algo, e logo acabou tudo.

Depois da morte deles eu nunca mais tive um aniversário legal, memorável. Era mais um dia normal.

Sinto meu rosto molhar mas minhas lágrimas já caíam naturalmente, sem esforço. Por mais que goste de ser sozinha, sinto falta de gargalhar com alguém, conversar normalmente, abraços, carinho. Tem meses que eu não sei o que é isso.

Só queria um dia poder voltar ter dez anos com meus avós em uma casa cheia de amor.

— Tá queimando! — escutei um grito que me trouxe para a realidade novamente. As velas já estavam apagadas e saía uma fumaça preta do fogão.

Meu Deus, a carne!

— Senhor! — Corri mas um corpo entrou na minha frente. Minha primeira reação foi ir até a pia para pegar água e apagar o fogo mas DL segurou minhas mãos.

— Se você jogar água vai ser bem pior, tem que abafar. — apontou para a panela coberta. — Molha um pano. — encarei ele ainda raciocinando que ele outra vez estava dentro da minha casa. — Vai! — gritou.

— Não grita. — pragueijei mas fiz o que ele disse. DL pegou o pano, tirou a tampa da panela e colocou o pano por cima. Aos poucos o fogo foi diminuindo e o alívio invadindo meu corpo.

— Você tava dormindo?

— Eu... O que você tá fazendo dentro da minha casa outra vez? O portão não está trancado?

— Eu pulei a laje.

— Como?

— Eu estava andando pelas lajes, senti o cheiro de queimado e pulei aqui para apagar o fogo. — assenti lentamente depois de um tempo.

— E por que você anda pelas lajes?

— Eu gosto. — arquiei uma sobrancelha.

— Então você consegue pular aqui a hora que você quiser?

— Qualquer um pode. Se eu fosse você trancava as portas.

— Se eu ver você em cima da minha laje vou descer o cabo de vassoura em você, entendeu? — ele apenas levantou uma das sobrancelhas em um ato de deboche e olhou em volta.

— Achei que ia ter festa hoje, cadê os convidados? — fechei minha cara.

— O fogo já está apagado, acho que agora você já pode ir.

— É seu aniversário? — disse apontando para o bolo. Assenti desviando o olhar e indo para o outro lado da cozinha. — E cadê os convidados?

— Não tenho convidados. — o silêncio constrangedor ficou.

Não sei porque disse isso, mas quando fui ver já tinha dito.

— Você quer comer?

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⏰ Última atualização: Jun 08 ⏰

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