É como se o tempo tivesse parado.
Foi o que ela pensou.
Porque mesmo com tantos anos ela continuava presa naquele momento. Naquele segundo.
Presa no azulejo acinzentado do chão, nas paredes tão brancas que machucam a visão, nas cortinas azuis que separam uns dos outros como quartos.
No som de um aparelho, contando os batimentos. No ar condicionado gelado, no cheiro específico que fica impregnado nas roupas.
No carro escuro, no tremor nas pernas quando os pés entraram em contato com o chão, no som de choro abafado e o cheiro de flores.
Até mesmo os céus choravam naquele momento.
O vazio.
O tempo tinha parado.
Voltou a pensar.
Mas...
Ela sabia que não era com todo mundo.
Óbvio que o tempo estava passando. Mas não para ela.
Então, ela procurou alguma forma de fazer o tempo passar. De verdade, ela tentou.
Ela tentou.
E tentou.
E tentou.
E tentou.
E tentou.
E tentou.
E tentou.
E tentou.
Ela tentou mesmo.
Mas sempre que o tempo voltava a passar, algo acontecia.
Uma data comemorativa fazia seus olhos brilharem como diamantes e o tempo parar de novo.
Mandar mensagem pra sua mãe assim que chegava no trabalho fazia o tempo parar.
O acorde de violão de uma música tão velha quanto ela, fazia o tempo parar.
Quando chegava em casa, e não o via circulando o carro, fazia o tempo parar.
Uma palavra.
Uma cama vazia.
Uma risada.
Uma TV desligada.
Uma bengala.
Uma música.
Uma ligação.
Uma voz.
Uma casa abandonada.
Um sorriso.
Um abraço.
Um cheiro.
Um colo.
Um motorista.
Um sonho.
Tudo.
Absolutamente tudo fazia o tempo parar.
O que lhe restava no fim, se não simplesmente aceitar...
Que o tempo parou.
E não ia voltar a passar.
