Já parou para pensar em como as rosas desabrocham?Pensadores dizem que as plantas desabrocham para viver, já que entendem reter como perecer. O botão começa a se abrir para o mundo, finalmente revelando as belas pétalas que enfeitarão aquele jardim ou campo. Um mero enfeite - algo para enfeitar aquele lugar, deixá-lo totalmente agradável diante de olhares presunçosos de monarcas ou condes.
É isso que eu sou. Uma rosa para enfeite.
Ou é isso que eu acredito ser. Cada pessoa tem uma visão do mundo de acordo com as suas expectativas e experiências. "A esperança é a última a morrer", quem inventou essa frase tola? Pergunto-me todas as manhãs, sempre que penso que meu futuro já está selado. Não sou ingrata, pois ainda tenho longos anos de vida. Mas saber que seus dias estão contados é ameaçador. Não poderei talvez nem sequer ver meus futuros filhos atingirem a maioridade - imagine, deixar uma criança solta, perdida ao mundo sem uma mãe? Isso me assusta, não sei tu.
Pensar é o que acredito que me resta, em meio a tantos livros que estudo. Essa doença sanguínea me perseguirá até os últimos dias de minha fatídica vida. Algo ridículo, tolo, chulo, às vezes vem à minha cabeça-suicidio. Porém, passa a estar fora de cogitação quando minha maldição me impede. Maravilhoso! Não bastava apenas estar doente, tenho que ser amaldiçoada também. Felizmente, antes que eu pudesse pensar mais um pouco, Elodie bateu na porta do escritório.
- Entre, por gentileza. - Suspirei, voltando a atenção para os papéis que organizava.
- Senhorita Emma, temos visita a você. Chamaste algum indivíduo ou parecido?
- Que eu me lembre, não. Porém, pode mandar subir.
Assim que soltei os papéis, comecei a organizá-los por ordem numérica. Ficará mais fácil assim depois de terminar o trabalho.
Então, Kallias entrou na sala. Esse homem é o líder do exército de Bloodyheart. Na última vez em que me veio fazer uma visita, foi para me avisar que alguns cidadãos do vilarejo estavam arrumando confusão com as tropas do reino. O que poderia ser agora?
- Senhorita. - Fez uma reverência - venho informar sobre algumas alterações que fiz em nossas tropas, pois cinco de nossos soldados ficaram doentes.
Imediatamente franzi o cenho. Como assim doentes? Não tínhamos notícias de doenças assim desde a última epidemia, que foi há 50 anos atrás.
- Como assim doentes, Kallias? Que tal doença é essa que perturba a paz de nossas tropas? - Indaguei, enquanto imediatamente levantava.
- Não sabemos ainda ao certo, senhorita. Mas resolvemos deixá-los em quarentena, assim evitando mais doentes. - deu uma pausa, como se tentasse se lembrar - Eu os observei por um tempo. Os sintomas predominantes eram náusea, desmaios constantes, perda de peso, vômito e sangue saindo quando tossiam ou vomitavam.
Assenti, minha expressão fechando em preocupação. Como assim uma doença tão perigosa estava se espalhando entre os meus soldados, e ninguém sabia de onde viera? Isso é perigoso. Pode ter vindo do pântano, ou pode ser até mesmo uma praga! Céus, não, isso não.
- Tudo bem, agradeço pela atualização. Começarei a tomar medidas sobre isso desde agora. Está liberado, Kallias. - Finalizei, o homem fazendo outra reverência e então saindo da sala.
Suspirei e me sentei novamente na poltrona acolchoada em tons de vermelho e dourado. Deixei minha cabeça cair para trás, fechando os olhos. Ultimamente, esse reino tão calmo e pacífico tem sido um caos extremo. Confusões com os cidadãos, relatos de roubos e agora essa doença. Desde que assumi o trono, esse foi o ano mais difícil.
Para lhe contextualizar um pouco, chamo-me Emma. Emma Cadance. Sou uma mulher de cabelos dourados, olhos azuis claros e pele clara. Também me encontro no cargo como atual rainha de Bloodyheart, um reino separado do continente nomeado como "Lessie". Digo separado pois somos uma ilha. Nesse belo continente, a magia predomina nos reinos que tenho conhecimento. Ouvi boatos que há um reino onde não tem magia, mas que não existe mais. Nunca fui atrás, porém, roubaram minha curiosidade com esse rumor.
Qual seria a graça de contar minha história inteira agora, se ainda há mais coisas para serem descobertas? O que posso lhe contar é o que aconteceu hoje, e um pouco sobre minha pessoa. Contudo, sobre o reino, deve estar a perguntar qual é a magia que temos aqui. Então, lhe respondo: sangue. Nós, pequenas criaturas nesse pedaço de terra, comandamos e guiamos o sangue.
><
Não demorou muito até que, novamente, batessem na porta do escritório. A julgar pelas sombras começando a surgir pela janela, já deve ser tarde. Apenas levantei a mão e fiz um sinal, a porta abrindo automaticamente, revelando, novamente, Kallias.
- O que aconteceu agora, Kallias? - Perguntei, sem erguer os olhos da papelada.
- Rainha. - fez uma reverência, mas logo relaxou a postura, se aproximando de minha mesa. - Temo que a doença possa piorar caso não acionemos algum tipo de quarentena. Mais de nossos soldados começaram a tossir sangue.
Ergui a cabeça, apenas para vê-lo ajoelhado perto de minha mesa, quase desnorteado. Estendi a mão para acariciar o braço dele, tentando oferecer algum tipo de apoio, porém, ele me afastou.
- Não toque, Emma. Estou me sentindo meio zonzo desde anteontem. Não quero que pegue seja lá o que for isso. - Ele murmurou, a voz enfraquecida. Minha expressão imediatamente mudou para preocupação, e insisti, o tocando. Kallias estava quente.
- Você está com febre? - Perguntei, levantando-me da poltrona para verificá-lo. Kallias estava quente, mais pálido do que sua pele caramelizada deveria estar. - Céus, está fervendo. - Arregalei os olhos, soltando-o para ir em direção ao armário que havia alí.
Procurei por um frasco com um líquido azul, um elixir próprio para dores e febre. Tirei a pequena tampa com um estalo, e logo me agachei um pouco, levando o vidro aos lábios de Kallias. O guerreiro bebeu, logo tossindo e tentando se levantar, porém, o segurei nos ombros para continuar abaixado.
- Apenas levante quando se sentir bem o suficiente para isso. Não irei sair de seu lado. - Murmurei, mantendo a voz baixa e calma, acariciando de maneira suave o ombro dele.
Kallias e eu nos conhecemos desde que assumi o trono, há 8 anos atrás. Foi ele quem fez minha escolta e me auxiliou a como organizar as tropas de Bloodyheart. Na época, o reino era totalmente comandado pelo rei ou rainha. Fui incentivada a continuar com esse governo, pois teria mais "controle" assim. Porém, achei beneficiador ao meu tempo livre e bem estar mental dividir, criando assim uma parte do governo para o exército e outra para economia, me deixando completamente responsável da área governamental e da saúde do povo.
Então, a saúde de Kallias era minha obrigação.
A pensar que, talvez, o marido dele me agradeceria se eu o fizesse ficar repousando por mais de 5 dias. Kallias nunca conseguia ficar em paz, aparentemente, o que o dava menos tempo para cuidar de sua família ou problemas pessoais.
><
Mandei Kallias para casa minutos depois, ordenando-o que repousasse.
Devo levar em consideração que agora, tudo que eu tinha planejado para o dia, estava cancelado, já que tenho que dar a notícia ao exército que o melhor guerreiro e chefe deles estava com essa maldita doença, e que não tem previsão para voltar ao posto. Que maravilhoso.Não pude pensar mais antes de sentir o papel que havia abaixo de minha mão ficar úmido. Eu havia esquecido de tomar aquele remédio? Não me lembrava de esquecer. Talvez eu tenha confundido. Levantei-me, peguei um dos frascos que ficavam em uma área separada da enorme estante, tomei o líquido vermelho que havia dentro em goles grandes, deixando o vidrinho cair em qualquer lugar.

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Roseiras Manchadas De Sangue
خيال (فانتازيا)Emma tinha tudo, mas sentia que não podia viver nada. Fadada a uma vida curta e cronometrada desde o dia de seu nascimento, Emma Candance, rainha de Bloodyheart, pensa que seus dias estão totalmente contados e seu futuro selado a uma morte dolorosa...