Parece Piada

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"Depois é cada um pra um lado
Você me esquece e eu esqueço você".
Parece Piada - Henrique & Juliano

Mariana Ribeiro, POV

Eu sempre gostei de festas de noivado. Elas têm um ar de celebração e amor que é contagiante. Quando Andréia, a irmã de João Felipe, me convidou para o noivado dela neste final de semana, eu fiquei animada. Ela sempre foi uma pessoa querida, e eu não poderia perder essa festa. O convite veio com uma surpresa: ela sugeriu que eu levasse Kauan, meu ex, como acompanhante. Achei um pouco estranho, mas como Andréia sabia da nossa amizade, acabei aceitando. Ela insistiu muito para que eu fosse, então, apesar da semana corrida na faculdade e do meu afastamento de João Felipe, eu não hesitei em ir.

Kauan e eu chegamos à festa juntos, e logo na entrada, fomos recebidos com abraços calorosos e sorrisos. Andréia estava radiante em seu vestido branco, com um laço enorme, e Jorge, seu noivo, parecia igualmente feliz.

– Mariana! Que bom que você veio! – exclamou Andréia, me abraçando. – E trouxe o Kauan, que ótimo!

– Claro, não perderia por nada – respondi, tentando esconder um leve nervosismo. Tinha algo no ar que eu não conseguia identificar.

– Vocês estão lindos! Aproveitem a festa, tem muita comida e bebida – disse Jorge, sorrindo.

Entramos no salão e comecei a me sentir mais à vontade. A decoração estava maravilhosa, com luzes cintilantes e flores por toda parte. Kauan e eu nos dirigimos a uma mesa próxima ao buffet, pegamos algumas bebidas e começamos a conversar.

– Faz tempo que não vamos juntos a uma festa desse estilo, né? – disse Kauan, rindo. – Até parece que estamos de volta aos velhos tempos.

– Pois é. Bom saber que ainda podemos fazer isso – respondi, sorrindo. – E você, como está indo?

Conversamos por alguns minutos sobre trivialidades, até que meus olhos se fixaram em uma figura familiar do outro lado do salão. João Felipe. Ele estava em uma mesa, conversando com alguns primos. Meu coração deu um salto. Eu não esperava vê-lo aqui. Ele não tinha me dito nada sobre voltar a São Paulo.

– Tudo bem, Mari? – perguntou Kauan, notando minha distração.

– Sim, só... vi alguém conhecido – respondi, tentando manter a calma.

João Felipe levantou o olhar e nossos olhos se encontraram. Ele parecia tão surpreso quanto eu. Depois de um segundo de hesitação, ele se levantou e veio em nossa direção, claramente nervoso.

– Mariana, Kauan – ele nos cumprimentou, com um sorriso tenso. – Bom ver vocês aqui.

– João Felipe! – tentei parecer surpresa, mas acho que não consegui esconder completamente minha confusão. – Eu não sabia que você estaria aqui.

– Eu... não contei a muitas pessoas que voltaria – ele admitiu, com um olhar de desculpas. – Foi uma decisão de última hora.

– Entendo – respondi, tentando não deixar transparecer a mágoa. – De qualquer forma, parabéns para sua irmã. A festa está linda.

– Obrigado – ele disse, parecendo aliviado. – Vou... deixar vocês à vontade. Aproveitem a festa.

João Felipe voltou para sua mesa, e eu me sentei ao lado de Kauan, tentando processar o que acabara de acontecer.

– Isso foi estranho – comentou Kauan, rindo. – Não sabia que ele estava na cidade.

– Eu também não – respondi, tentando sorrir. – Mas vamos tentar aproveitar a festa, certo?

Passamos a próxima hora conversando e rindo, tentando deixar o desconforto de lado. Kauan sempre teve a habilidade de me fazer rir, mesmo nos momentos mais difíceis. Foi bom relembrar os velhos tempos e perceber que, apesar de tudo, ainda tínhamos uma amizade forte.

Enquanto conversávamos, eu não conseguia evitar de lançar olhares furtivos para João Felipe. Ele parecia inquieto, constantemente olhando em nossa direção. Eu sabia que eventualmente teríamos que conversar, mas não queria estragar a noite com um confronto.

De repente, vi João Felipe se levantando e vindo em nossa direção novamente. Meu coração começou a bater mais rápido.

– Mariana, podemos conversar? – ele perguntou, parecendo genuinamente nervoso.

Olhei para Kauan, que me deu um sorriso encorajador.

– Vai lá, Mari. Eu vou pegar mais bebidas para nós – ele disse, levantando-se.

Segui João Felipe para um canto mais reservado do salão. Ele parecia tenso, e eu não estava muito diferente.

– Mariana, eu sinto muito por não ter contado que voltaria – ele começou, sem rodeios. – Eu estava com medo da sua reação.

– Medo da minha reação? – perguntei, cruzando os braços. – João, somos amigos há tanto tempo. Por que não me contou?

– Eu... não sei – ele admitiu, passando a mão pelo cabelo em um gesto nervoso. – Eu achei que seria mais fácil assim. Não queria complicar as coisas.

– Não queria complicar as coisas? – repeti, sentindo a raiva crescer. – Você sumiu, João. Não mandou mensagem, não ligou, diz para meus amigos que está com saudades de mim. E agora aparece assim, do nada?

Ele parecia prestes a responder, mas eu continuei.

– Eu me senti abandonada. Você foi meu melhor amigo por tanto tempo, e de repente, nada. Como você acha que eu me senti?

– Eu sei que errei – ele disse, a voz tremendo um pouco. – Mas, por favor, me perdoe. Eu não queria te magoar. Eu estava passando por muita coisa e achei que era o melhor.

Suspirei, tentando acalmar meus pensamentos.

– Eu entendo que você tenha tido seus motivos, João. Mas isso não justifica o que fez. Eu te perdoo, mas preciso de um tempo para processar tudo isso.

Ele assentiu, parecendo aliviado, mas também triste.

– Obrigado, Mari. Eu realmente sinto muito. Espero que um dia possamos voltar a ser como antes.

– Eu também espero – respondi, sinceramente.

Voltamos para a festa, e eu tentei me concentrar nas comemorações, mas meu coração estava pesado. Kauan me recebeu com um sorriso e uma bebida.

– Como foi? – ele perguntou, com uma expressão preocupada.

– Foi... difícil, mas necessário – respondi, sentando-me ao seu lado. – Acho que precisamos de tempo para resolver tudo isso.

Passamos o resto da noite conversando e tentando nos divertir, mas eu não conseguia parar de pensar em João Felipe e em como as coisas tinham mudado entre nós. Eu sabia que a amizade ainda estava lá, mas algo tinha se quebrado e não seria fácil consertar.

Quando a festa finalmente acabou, eu me despedi de Andréia e Jorge, desejando-lhes felicidades, e saí com Kauan. O caminho de volta foi silencioso, cada um de nós perdido em seus próprios pensamentos.

– Mari, saiba que estou aqui para o que precisar – disse Kauan, quebrando o silêncio. – Seja para conversar, rir ou apenas estar ao seu lado.

– Obrigada, Kauan – respondi, sentindo-me grata por ter amigos como ele. – Isso significa muito para mim.

Enquanto voltávamos para casa, eu sabia que ainda tinha um longo caminho pela frente para resolver meus sentimentos sobre João Felipe. Mas pelo menos, agora, eu tinha um pouco mais de clareza e sabia que não estava sozinha.

Entre Livros e CompassosOnde histórias criam vida. Descubra agora