PRÓLOGO

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Apesar do gelo sob os patins e o ar-condicionado do prédio ligado, Roxanne sentia o suor escorrer pela sua testa e seu pescoço enquanto praticava algumas manobras. Suas pernas já davam sinal de cansaço e dor, como se pedissem para que ela descansasse um pouco, mas a mulher não pararia tão cedo, pelo menos não enquanto não sentir que finalizou o treino.

As quedas já tão esperadas e costumeiras não a faziam sentir dor, mesmo com o joelho e a coxa esquerda ficando ralados pelo gelo irregular e malcuidado, ela apenas ficava cada vez mais determinada a aperfeiçoar a sua técnica para conseguir passar pelo campeonato e trazer orgulho para a sua família.

O som da porta de ferro sendo aberta ecoou pelo ringue vazio, mas a mulher não se preocupou em ver quem estava ali, apenas continuou com suas manobras graciosas enquanto os passos se aproximavam para perto do gelo que já tinha redemoinhos desenhados pelos dos patins.

— Confesso que estou impressionado com sua performance, agente Orleans. - elogiou o homem recém-chegado.

Roxanne parou imediatamente quando reconheceu a voz, deslizando os patins até chegar na barra de segurança, que já estava dando sinais de desgastes das mãos dos iniciantes que a seguravam.

— É só Roxanne Orleans agora, Frank. - a mulher respondeu arfando, tentando recuperar o fôlego. — Não trabalho mais para o FBI.

— Mas deveria voltar, precisamos de você.

— Em que, exatamente, o FBI precisaria da minha ajuda?

— Um caso da sua especialidade. Você é especialista em crimes contra menores, Roxanne, e um garotinho de dez anos desapareceu, já é a quinta criança desaparecida em menos de dez dias.

— Você sabe por que eu me afastei do FBI? Das investigações?

— Estou ciente sobre seus motivos, mas também dos seus feitos como agente federal. Sua experiência e seu intelecto chamou a atenção de um time de analistas comportamentais que estão vindo ajudar na investigação e eles querem sua ajuda, pode ser útil para eles ter uma agente local na equipe durante o caso.

— Frank, você não é mais meu chefe, não pode me mandar retornar ao trabalho. Você sabe disso, não sabe?

— Não estou te pedindo ajuda como seu chefe, mas sim como um pai que pretende prender o culpado antes que a próxima vítima seja seu próprio filho... Por favor, Roxanne, será a última vez, eu te prometo.

Roxanne pensou por alguns segundos, considerando o caso e o motivo que a fez se aposentar tão jovem da vida de agente federal. Ela se lembrava vividamente ainda do último caso no qual participou e os efeitos colaterais que sofreu por muito tempo.

Ela sabia que, se retornasse a ativa mais uma vez, seria difícil largar, mesmo depois de apenas um único caso. A adrenalina de perseguir um suspeito, analisar as pistas, teorizar sobre os motivos e a mente por trás dos crimes era algo que ainda a fascinava e a prendia no mundo da investigação e combate ao crime, contudo, ainda tinha medo de sofrer as consequências que se envolver nesses assuntos novamente, medo de perceber que não seria mais capaz de ter uma vida normal.

Mas ela também considerou a fala de Frank e ele tinha razão, precisaria de todo o tipo de apoio para prender o culpado pelos raptos para manter o seu filho – que tinha a mesma faixa etária das crianças desaparecidas – a salvo e Roxanne era a única agente local que conhecia bem a cidade e a mente das pessoas que viviam nela.

— Tudo bem. - Roxanne respirou profundamente, se dando por vencida. — Eu vou ajudar dessa vez, mas tem de me prometer que se eu me envolver muito nisso novamente, você vai me afastar.

— Tem a minha palavra, agente Orleans. - sorriu Frank enquanto entregava para a mulher o seu distintivo e sua arma, ainda em perfeito estado. 

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