Prólogo

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O local era turbulento e a energia ressentida tomava conta de tudo assim como os cheiros fortes e amargos misturados ao cheiro de sangue que poderia enjoar qualquer um… Os trovões ecoavam por tudo enquanto o chão tremia, mas seus olhos não saíram da pessoa a sua frente que cuspia sangue.

-… De todos eu nunca quis machucá-lo… - falou gentilmente. - Por que fez isso A-Huan?

- Eu…

- Nunca o machuquei… Cuidei de você e é assim que me paga?

- Não… Eu...

-...Então morra comigo! MORRA COMIGO! MORRA COMIGO!

X

Mais uma vez o homem acordou ofegante com o coração disparado, o suor frio grudava em seu corpo e roupas o fazendo sentir mais nojo de si mesmo. Seu estômago embrulhou e mesmo bambo ele precisou correr ao banheiro para vomitar. Quando a ânsia acalmou, se apoiou na parede escorregando até o chão.

Com um suspiro leve abraçou as próprias pernas deitando a cabeça nos joelhos querendo um pouco mais de sossego por segundos, porém era impossível… Era só fechar os olhos que a cena voltava a sua cabeça, as palavras ao seu ouvido e ele se sentia sujo.

Sujo por confiar demais. Sujo por está abandonado...

Lan Xichen se encontrava naquele ciclo vicioso a sete meses…

Depois da queda dele e de estabilizar as coisas no templo GuaYin, ele precisou de um tempo para si… E cada dia era pior que o outro, pois ele remoía em pesadelos toda a noite em que descobriu a verdade sobre ele.

Ainda mais que seu lobo o deixou depois de tudo.

Ele já tinha tentado meditar, copiar regras de seu clã, ler… Mas nada tirava-lhe a sensação de está sufocando e morrendo, viver sem um lobo era complicado, era como sempre viver se afogando. Seu tio veio conversar consigo e mesmo não ouvindo palavras de alento e sim reclamações sobre Lan WanJi, nada mudava em seu coração, só afundou um pouco mais, porque não houve um pingo de compaixão vindo do homem. Não tinha mais lágrimas para derramar e desculpas para implorar aos céus e a parte de sua alma… A dor não estava indo embora.

Como poderia ensinar discípulos a superar a maldade das pessoas? Como conseguiria guiá-los? Como poderia ser a força do clã se estava tão perdido?

Com um suspiro frustrado ele se ergueu devagar e lavou o rosto, em seguida retornou ao quarto onde trocou de roupas e sentou encarando a parede, sem a presença dentro de si não sentia fome, cheiro, nada... E tudo que os servos colocavam na porta continuava ali, trocados todos os dias. Na verdade não sabia que milagre os servos estavam vindo ali, pois há muito tempo aquele pavilhão foi abandonado.

Ele não conseguiu voltar ao Hanshi, não com as lembranças de recebê-lo em seu próprio espaço pessoal, então ele pegou as simples roupas e veio alojar-se no pavilhão de gencianas… Onde sua mãe um dia viveu, ainda poderia respirar e sentir o perfume dela nas flores. Com certeza isso deixou o seu tio mais furioso, ou qualquer coisa assim… Porem naquele momento ele não ligou menos, não importava nada.

Devagar ele levantou e sentou-se a varanda observando a grama media move-se com o vento frio, em breve nevaria. Essa era uma época triste onde mais lembranças o cercariam, pois era impossível se livrar delas… Era impossível se livrar daquela dor.

O dia transcorreu e ele não se abalou com o servo simples que veio retirar a comida e por outra, não se moveu quando a tarde avançou e a noite surgiu… Aquele último pesadelo drenou suas forças jogando-lhe na cara que não era capaz, nunca seria… E mesmo sendo alfa, sentia a falta do próprio lobo. Resignado ele permaneceu ali ate o dia clarear, a tarde passar e a noite surgi de novo… E de novo… E de novo…

In my eyes /Xicheng/Onde histórias criam vida. Descubra agora