𝐈

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‎ ‎ ‎ O vento úmido do começo da primavera batia nos ombros de Torajo; ele se encontrava andando ansiosamente, mochila nas costas e uma mala nas mãos, tentando se localizar no vasto campus da Universidade de Verade. Não estava realmente perdido — já havia visitado o lugar várias vezes em excursões da escola. Mas agora, sendo um estudante de lá, tudo parecia ser maior e mais confuso.

‎ ‎ ‎ Ele respirou fundo. Não tinha como desistir agora. Até porque a mensalidade já estava paga.

‎ ‎ ‎ Enquanto caminhava, ele notou e acenou para alguns rostos conhecidos. Conhecia Verade como a palma da mão, e isso incluía as pessoas. Não era uma cidade enorme - havia outras oportunidades no estado. Mas Torajo se acostumou com o familiar, e poxa, ele preferia isso.

‎ ‎ ‎ Por falar em familiar, ele refletiu sobre seu dormitório. Teria de compartilhar com mais três pessoas, no máximo. Ele torcia que fossem pessoas relativamente controladas.

‎ ‎ ‎ Foram mais alguns minutos da mala quicando pelo chão de pedregulho, e ele chegou nos prédios dos dormitórios. Eram cinzas, extensos e padronizados. As janelas haviam tela, a não ser as que davam para dentro do campus, ao invés da rua. Alguns ares condicionados pingavam dos três andares, formando poças na calçada.

‎ ‎ ‎ Ele conferiu o seu celular cerca de cinco vezes, vendo o número de seu quarto, antes de entrar no prédio do meio.

‎ ‎ ‎ Dentro, tinha um corredor longo, claro e apertado. A madeira do chão — que provavelmente era mais velha do que o prédio em si — rangia sob seus passos. Ele andava com cautela, olhando os números nas portas, como se o chão fosse ceder a qualquer momento.

‎ ‎ ‎ Seu quarto era o último do corredor, do lado da escada. O número 110 estava gravado sobre tinta de madeira branca (que estava sobre mofo, provavelmente).

‎ ‎ ‎ Ele abriu a porta devagar, e, como se ela o cumprimentasse, ela também estalava. Um ruído alto que mais irritava do que se assustava.

‎ ‎ ‎ Lá dentro, também não era grandioso, não. Ele encarava um sofá de dois lugares de couro encostado na parede, uma mesa de centro e uma poltrona velha no canto. Não muito longe — até porque, o comprimento desse cômodo era de menos de trinta passos — era um corredor com cinco portas. Duas de cada lado da parede, que pareciam ser os quartos, e uma no meio, que ele assumiu que fosse o banheiro.

‎ ‎ ‎ Não havia nenhum pertence de ninguém na sala. Era como uma casa nova em folha (se ignorasse o cheiro de mofo, os móveis acabados e a tela rasgada).

‎ ‎ ‎ Ele andou mais um pouco pelo lugar. Não havia muito o que explorar — a cozinha, que era separada por uma meia parede e um balcão com duas cadeiras, era pequena e confortável. Alguém já parecia ter passado por ali. Um prato lavado secava em cima de um pano.

‎ ‎ ‎ Torajo decidiu fazer-se em casa. Tirou a sua mochila e decidiu ir para um dos quartos. Pegou o primeiro do lado esquerdo, que estava de porta aberta. O quarto também era uma lousa em branco: cama de casal sem lençol, uma escrivaninha sob uma janela, uma cadeira que estava na beira da sua durabilidade, e um guarda-roupa de duas portas. Despejou suas bagagens ao lado da escrivaninha e sentou-se na cama.

‎ ‎ ‎ Faltava ainda uma semana para as aulas começarem. Ele anotou mentalmente as coisas que precisava comprar, enquanto se deitava no travesseiro duro. Um travesseiro mais macio, de preferência, uma lixeira, lençóis, esponja e sabão barato...

‎ ‎ ‎ O sol ainda ia demorar um pouco para se por. Mas o cansaço e a realidade o puxavam para baixo como a gravidade. Ele tirou seus tênis com o calcanhar, e decidiu descansar ali mesmo, com suas calças jeans mais arrumadas e a camisa verde que ele usava para dar sorte.

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⏰ Última atualização: Jun 28 ⏰

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primeiro amor, primavera tardiaOnde histórias criam vida. Descubra agora