Dedico essa história a todos os corações quebrados que se reestruturam em meio ao caos, àqueles que assim como eu não se sentem pertencentes a lugar algum e também a quem gostaria de desfrutar da paz, do sossego e, da estabilidade que
nos é roubada pelo capitalismo.Tem dias que me sinto miserável. Coadjuvante da minha própria vida, talvez como um narrador observador que coexiste entre vários protagonistas, observando o sucesso de todos à minha volta, narrando a ascensão que a mim não foi proporcionada. Me sinto pequeno, embora tenha altura o suficiente para me sair bem no basquete, miúdo como um ácaro, não pertencente a espaço algum.
Tem dias que os caminhos são claros e me perco na imensidão de possibilidades, hoje eu me sinto sem opção, não vejo uma luz no fim do túnel, é como se todos os caminhos tivessem se fechado e eu estivesse sozinho no meio do nada, tudo que enxergo é a escuridão que me engole.
Faz pouco menos de um mês que decidi mudar de vida, as contas começaram a se tornar um problema, elas se multiplicaram ao longo dos meses e o dinheiro se tornou cada vez menos acessível. É desesperador precisar me mudar, desenvolver um bloqueio criativo enorme por conta da pressão que me imponho, cortar gastos e reduzir qualquer tipo de lazer para fazer se encaixar no meu orçamento todas as pendências.
Antes, conseguia projetar minha vida nos mínimos detalhes, se alguém me perguntasse "como você se vê daqui a um ano?", saberia exatamente o que responder, desde qual profissão seguir, até com quem gostaria de partilhar os momentos bons; Hoje não me vejo em lugar algum, não sei se ser um escritor é realmente a minha vocação ou se fui apenas uma criança prodígio que se iludiu com a possibilidade de ser alguém na vida, talvez eu tenha errado em tentar monetizar um hobby, talvez eu não seja tão bom quanto dizem, talvez eu nunca consiga espaço no mercado de trabalho e essas inúmeras incertezas me despencam, fazem com que eu me sinta completamente perdido, sem identidade, sem perspectivas.
Toda a melancólica me trouxe também um pico de energia para correr atrás do que é o mínimo para sobreviver nesse país: um local para morar e um emprego estável. Logo de início foi uma loucura, eu me sentia pisando em cacos de vidro toda vez que precisava sair da zona de conforto, ir a locais avaliar, socializar com pessoas e expressar algum tipo de opinião. Isso me deixa muito desgastado, me sinto como uma alface murcha após dias na geladeira, precisando ser colocado numa vasilha com água para voltar a absorver o que me trás vida. Nesse caso, eu me sentia na obrigação de ver o mar, mas estava longe demais; talvez fosse essa a vantagem de morar em Busan, litoral praiano da Coreia, perto demais para ir de ônibus, longe demais para ir andando. Gwangalli é onde costumava ir com maior frequência, nos fins de tarde aproveitava para ver o pôr do sol, observar o início da noite e me aventurar pelos bares; desde que me mudei para Seul não tive a oportunidade de retornar, a sensação é sufocante. Quando comecei a procurar lugar para me mudar ainda em Busan, apesar dos dias corridos e exaustivos me sentia recarregado após ver o mar, mas lá as possibilidades para ser um grande escritor não me chamaram atenção, a vida me convenceu de que precisava me mudar, logo vim a Seul. Não vou dizer que detesto a cidade, pelo contrário, quando a vi pela primeira vez me apaixonei pelo calor caótico de uma cidade maior - economicamente falando -, mas depois de um certo tempo fui perdendo o brilho, estar totalmente fora da minha zona de conforto me incomoda.
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Cogumelos mágicos 🍄 [Namgi]
FanfictionKim Namjoon é um jovem escritor em busca de espaço no mercado de trabalho, tanto para publicação de suas obras quanto para ter uma renda. Visto que as coisas em sua vida não estavam saindo como planejava, vê-se obrigado a se mudar do seu espaçoso e...