O sol se despedia no horizonte, pintando o céu com tons de laranja e vermelho, quando Harry Matthew dirigia pela estrada de asfalto batido. Seus cabelos castanho-acobreados, levemente desgrenhados pelo vento, emolduravam o rosto de feições marcantes, onde os olhos azuis brilhavam com uma mistura de expectativa e cansaço. Aos 25 anos, Harry Matthew finalmente chegava à pacata cidadezinha de Thurmont, no interior dos Estados Unidos.
Um ronco metálico repentino interrompeu a tranquilidade da viagem. O velho Chevrolet Camaro que herdara do pai falhava. Ele estacionou à beira da estrada, a poeira erguida pelas rodas ainda se assentando ao seu redor. A frustração o dominava, mas logo um sorriso irônico surgiu em seus lábios.
- Ah, não... Justo hoje, justo agora! Eu sabia que esse dia ia chegar, mas não estava preparado. O motor parece mais uma panela velha do que qualquer outra coisa. E eu, aqui, no meio do nada. - Será que devia ter ouvido o mecânico na última revisão? Ele disse que era só uma questão de tempo. Mas não, eu achei que daria para empurrar mais um pouquinho. Ainda por cima, sem sinal no celular.
Enquanto observava o motor fumegante, uma viatura policial parou ao seu lado. Uma jovem policial, seus cabelos negros presos em um coque firme e os olhos castanhos atentos, desceu do veículo. Apresentando-se como Sarah, ela informou que havia um bar onde ele poderia pedir ajuda.
- Vá até o bar chamado Fenrir, fica cerca de um quilômetro de distância seguindo pela estrada. Chegando lá, peça para falar com o Tom, ele é o dono do bar. Diga a ele que a Sarah da patrulha 27 te mandou. O dono é um cara gente boa, pode confiar nele. Eu o levaria, mas tenho que dar um pulo na cidade vizinha e já estou atrasada. Boa sorte.
Harry retribuiu a ajuda com um sorriso e um obrigado e seguiu em direção ao bar, a poeira do caminho se misturando com o suor da testa e o peso da mochila e da mala que arrastava não ajudava em nada. Mas finalmente chegou ao bar, que no topo exibia um letreiro entalhado na madeira "Fenrir" com um lobo negro de olhos verdes. Harry pôde jurar que a coloração negra do animal veio de chamuscar a madeira com um maçarico. Ao entrar no local, deparou-se com um ambiente animado e decorado para um aniversário; o bar fervilhava com a comemoração.
No centro da festa, uma mulher de meia-idade, com cabelos grisalhos e longos e um sorriso caloroso no rosto, conversava animadamente com os convidados. Era a prefeita, Elizabeth Thompson, a aniversariante da noite. Ao ver Harry, seus olhos se arregalaram em surpresa.
- Mas que coincidência! - exclamou ela. Aproximando-se do jovem. - Você me lembra tanto da minha querida amiga, Meredith.
Harry ficou intrigado. Meredith Matthew?
- Sim, ela mesma.
- Você a conhecia? Pergunta Harry.
- Somos amigas inseparáveis desde a infância, ou melhor, éramos. Suspirou a prefeita com um olhar triste.
- Meredith era minha avó - revelou Harry, uma emoção inesperada tomando conta de si.
A revelação causou um grande impacto na prefeita. Ela abraçou Harry com força, lágrimas brotando em seus olhos. A casa de sua avó, que ele pretendia vender, agora parecia estar carregada de memórias e significados aos quais Harry não sabia existir.
A prefeita o soltou e abriu um sorriso ao mesmo tempo que enxugava as lágrimas.
- Vamos celebrar a vida, garanto que sua avó não gostaria que eu estivesse triste no meu próprio aniversário e falaria poucas e boas comigo. - Ela riu. - Divirta-se, meu bem, você está mais que convidado.
O casal dono do bar, Tom e Martha, se aproximou; a prefeita os apresentou e logo saiu para dançar com um grupo de outras senhoras. Tom, um homem corpulento com um sorriso contagiante, escutou a história de Harry sobre vir para esta cidade para vender a casa de sua falecida avó que deixara tudo para o neto e que no caminho o carro veio a quebrar. Tom logo ofereceu ajuda para chamar um guincho e levar o carro até a oficina. Martha, uma mulher gentil com olhos castanhos maternos, sugeriu que ele ficasse até o fim da festa para não se preocupar com o carro agora.
Harry aceitou o convite. A tarde se desenrolou em meio a boa comida, música animada e conversas descontraídas. Foi então que, ao se aproximar do local de drinks, avistou a bartender, uma jovem de cabelos escuros e trançados com olhos verdes penetrantes chamada Ana Helena. Nesse exato momento, Harry se sentiu atraído por ela.
Harry puxou assunto e logo o papo fluiu naturalmente. Ele pediu um drink exótico que ela nunca havia feito.
- Você poderia fazer um Twilight?
Confusa e intrigada, Ana achou que Harry estava de brincadeira.- Não, você não pode estar falando sério, nunca ouvi falar nesse drink!
- Você tem rum branco, curaçau blue, suco de laranja e licor de gengibre?
- Todos menos o licor de gengibre, na verdade tenho só o gengibre.
Harry perguntou se poderia passar para o outro lado da bancada e preparar o drink ele mesmo. Ana assentiu com a cabeça, mas com um pé atrás.
Para sua surpresa, ele o preparou o drink com maestria. Harry, no lugar do licor de gengibre, improvisou batendo um gengibre com meia dose de vodka e três colheres de açúcar e coando essa mistura para pôr no drink final. Fascinada por sua criatividade e talento, Ana insinuou que Harry poderia pedir emprego a Tom e vir trabalhar com ela no bar.
Tom escutou a brincadeira e logo se aproximou.
- Então, Harry está querendo pedir emprego aqui no bar?
Sem graça, Harry respondeu:
- Que isso, não é para tanto!
- Seu Tom, ele está sendo modesto, experimente o drink que ele fez.Tom experimentou e ficou impressionado, logo chamou sua esposa que na hora aprovou a bebida.
- Harry, se você não pretende ficar na cidade, espero que reconsidere, porque eu mesma assino os papéis da contratação. Não é mesmo, meu bem? - Tom concordou.
Todos riram e continuaram a conversar. Sem perceberem, a noite chegou e Harry precisava levar suas coisas até a casa de sua falecida avó.
Martha ofereceu ao jovem uma carona, já que precisava voltar cedo para casa, pis tinha plantão no outro dia como enfermeira na clínica da cidade.Harry aceita a oferta, e fica intrigado com tanta hospitalidade oferecida a um forasteiro.
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O Herdeiro
RandomHarry Matthew, a caminho de vender a casa de sua avó falecida, encontra-se com o carro quebrado em uma estrada isolada prestes a conhecer uma cidade com pessoas que mudaram a sua vida.