Epílogo/Piloto

3 0 0
                                    

Acordei cansada mais uma vez, o sentimento de querer faltar a escola sempre está presente, porém dessa vez não poderia, tenho avaliação de química e física, sim, no mesmo dia, nossos professores realmente não se importam conosco.


 Entretanto se essas fossem minhas únicas preocupações eu seria uma adolescente muito mais feliz, no momento estou um pouco preocupada que não consegui estudar absolutamente nada noite passada, já que Alberto me queria, tentei ficar a noite em claro depois do que aconteceu, mas como todas as outras vezes não consegui, estava absurdamente dolorida e agora me olhando no espelho percebo que as dores vêm de alguns hematomas roxos e verdes pelo meu corpo, uma mistura de cores. 

No momento minha maior preocupação será de como esconder os hematomas mais visíveis, terei que fugir de alguma aula, ou de preferência algumas, para que eu possa ao menos estudar um pouco e revisar o assunto das avaliações, graças a Deus que as duas são nos últimos períodos, sei que terei ao menos algum tempo. 

Depois de um banho calmo e quente tentando me livrar de todo o perfume masculino e o cheiro de tabaco que ficou impregnado em mim na última noite, escolhi uma roupa folgada, o que não foi tão difícil de achar porque moletons e calças folgadas, de um tempo pra cá descobri serem bastante eficácias na minha proteção, então faz algum tempo que eu não uso "roupinha de menina".

 Por mais que eu ame todas as coisinhas cheias de lacinho e cor de rosa, é melhor sair completamente coberta de casa para que Alberto não queira me dar uma lição por sair e casa que nem uma "putinha". 

E não me sinto limpa o suficiente para usar algo que demonstra tanta pureza.

Depois de colocar a roupa mais folgada e genérica que eu tenho, tento me maquiar, não uma coisa impactante, já que perdi a conta de quantas vezes escutei que eu não nasci para isso, e que eu não merecia mais parecer tão pura com uma maquiagem rosa ou algo do tipo, e tinha que agir como alguém que sabia do seu lugar. 

Minha maquiagem diária se baseia em corretivo, e mais corretivo pra esconder os roxos que ficaram aparentes mesmo depois de todas as camadas de roupa, sempre quis fazer alguma maquiagem bonita para ir pra escola, nem que fosse uma sombra clarinha com um glitter nos lábios, mas Alberto nunca me deixou comprar mais que o necessário, o necessário para esconder todos os roxos que ele me deixava noite após noite, mês após mês, ano após ano. 

Mas não se engane, toda vez que tinha uma festa ou reunião importante que minha presença era obrigatória, ele sempre contratava uma maquiadora para que eu pareça "Mais sexy" como ele mesmo diz, que ela tente tirar minha cara de quem sofre uma maldição voodoo. 

Já pronta eu desço as escadas, e vou direto para a porta de saída daquela maldita casa, um calafrio percorre toda minha espinha quando escuto um grito de alguém me chamando da cozinha.

Lentamente vou até lá, essa casa me esmaga a cada segundo que eu passo aqui dentro. Lá estão eles; Helena e Alberto, minha mãe me olha com nojo, o que não deixa de ser novidade, ela nunca falava comigo. 

Eu estava olhando pra baixo quando aquele silêncio ensurdecedor é quebrado pelo meu pai, o que desencadeia uma discursão habitual.

-Volte direto para casa quando a escola acabar, você pensa que eu não sei que você fica rondando aquela porra de escola procurando um pau pra chupar. Vive fora de casa atrás de macho, putinha do caralho, quer tanto um pau então engole o meu, vadia. Volte cedo, temos que conversar.


Não digo nada, não adianta. 

Dou meia volta ainda olhando para o chão, antes de sentir meu braço ser puxado com uma brutalidade absurda e ser jogada no chão. 

Olho pra cima e vejo meu pai com uma cólera quase demoníaca, em pura reação olho direto pra minha mãe, que continua passando geleia em um pedaço de torrada. 

Fecho meu olhos e coloco meus braços em proteção no meu rosto quando começo a sentir chutes no meu estômago e pernas.

-OLHE PARA MIM QUANDO EU FOR FALAR COM VOCÊ, SUA INÚTIL.


Depois de alguns minutos ele para e eu começo a tossir, tampando minha boca. 


Levanto rapidamente antes que ele faça mais alguma coisa eu saio de casa. 


Apoio-me na grade do lado de fora da casa, olhando para o segurança que ficava ali, nunca soube o nome dele, ele nunca falou comigo, meu pai paga muito bem aos funcionários para que eles fiquem de boca fechada. 

Olho em direção ao casarão, passado de pai para filho,  foi de meu bisavô que um dia tinha sido um prefeito amado por todos na cidade, mas infelizmente faleceu a alguns anos, não cheguei a conversar ou conhecer ele, não tinha nascido ainda. 

Continuo tossindo até olhar para minha mão e observar o habitual liquido vermelho que saiu de minha boca. 

Começo a andar em direção à escola. 

É só mais um dia, tenha um bom dia Lily

You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: Jun 15 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

PurezaWhere stories live. Discover now