0.2 • A menininha do papai •

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"O horror visível tem menos poder sobre a alma do que o horror imaginado

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"O horror visível tem menos poder sobre a alma do que o horror imaginado."

William Shakespeare


0.2
Ada
(A mentirosa)


As luzes só se apagaram quando as minhas lágrimas secaram e o excesso de muco produzido nas vias respiratórias entupiu minhas narinas.

Estava na hora de tomar uma atitude.

Esfreguei meu rosto nas mangas do moletom e estiquei os joelhos para fora da cama. Assim que minhas solas tocaram o piso frio, uma descarga elétrica foi enviada para meu cérebro. O meu corpo despertou do seu estado de transe e melancolia. Eu não passei os últimos anos da minha vida me esfregando em um tatame sujo para me conformar com a derrota. As medalhas das competições de Muay Thai na parede me relembravam disso.

Naquela noite, meu padrasto me machucou pela primeira vez. E pela última também. Eu o odiava. E odiava minha mãe mais ainda. Os dois mereciam ir para o inferno juntos.

Caminhei lentamente, evitando emitir qualquer tipo de ruído pelo quarto. Cheguei até o meu armário e abri a porta com cuidado, reunindo as minhas peças de roupas favoritas, alguns itens de higiene básica e os carregadores do meu fone de ouvido e do meu relógio. Peguei minha bolsa de treino e coloquei tudo dentro dela, além de uma toalha e minha nécessaire. Vesti meu conjunto mais quente de moletom e calcei meu par de Jordans pretos. Ainda verifiquei se minha carteira continha dinheiro e se meus documentos estavam nela. Se eu conseguisse sair daquela casa, não pretendia retornar. 

Com passos curtos, apoiei a alça da bolsa nos ombros e destranquei a porta do quarto. Meu coração começou a acelerar tanto que eu poderia ter um infarto de tanta ansiedade.

Inspirei profundamente, segurando o oxigênio em meu nariz por alguns segundos. Três, dois, um... Seja corajosa. Então respirei, girando a maçaneta e arrastando a porta. O corredor estava escuro e vazio. Mas, o feixe de luz debaixo da porta do quarto da minha mãe e de Maxton, demonstrava que um deles se mantinha acordado e com o abajur de cabeceira ligado.

Eu não me abalei. Coloquei a mão sobre meu peito e me forcei a caminhar pelo corredor, um passo de cada vez, controlando minha respiração e a movimentação do meu corpo. Atravessar o corredor até a escadaria foi o trajeto mais difícil que já fiz. O trabalho que tive para me conter, fez o tempo passar como em câmera lenta. O que era cinco metros de distância, se tornou vinte.

De repente, o som do interruptor do abajur me assustou. Eu parei em frente ao quarto deles e todos os meus músculos se contraíram em estado de choque. Meu coração não se acalmava de forma alguma. A absoluta escuridão me envolveu e o som das batidas ficou mais alto. Tum... Tum... Tum... Tum...

Só mais alguns passos, porra.

Eu avancei, abrindo os braços no escuro e buscando por um apoio nas paredes. Quando meus dedos bateram numa superfície reta e depois num interruptor, meu cérebro assimilou em qual parte do corredor estava. Suspirei de alívio, ao inclinar a ponta do meu pé e encontrar o primeiro degrau da escada.

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⏰ Última atualização: Jun 17 ⏰

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