Capítulo 3: Bem-vindo às consequências.

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O aço das algemas tilintava como moedas enquanto roçava no braço da cadeira conforme o corpo dolorido de Matthew tentava se acomodar ao assento. Era uma algema de corrente, uma pulseira envolta bem firme em seu pulso enquanto a outra extremidade estava presa à cadeira. Não havia nenhuma necessidade delas, já que o menino não havia oferecido resistência em momento algum, mas o policial que o colocou lá não permitiria um vândalo solto pela delegacia e isso ficou claro quando ele pediu para afrouxar um pouco. O policial riu e seguiu o próprio caminho.
Já a mulher que estava trabalhando em uma das mesas, datilografando, e às vezes o olhava por cima dos óculos de armação de tartaruga e o pegava quase todas as vezes a encarando de volta, pensou que a expressão abatida e emburrada dele não passava de pura birra, não que o ferro estava esgoelando seu pulso magro ou que sua bunda já estava doendo depois de tanto tempo na mesma posição. O cigarro no cinzeiro estava quase no fim, então ela tirou outro do maço e pôs entre os lábios para acender.

— Pode me arrumar um?

Matthew ergueu preguiçosamente o indicador da mão presa, apontando para o cigarro.

— Quantos anos tem? — a mulher perguntou, mas não parecia muito interessada.

Riscou o isqueiro e queimou a ponta, tragando.

— Dezoito — mentiu.

— Não é você que estamos esperando o responsável chegar?

Matthew prensou um lábio no outro e rolou os olhos em direção a porta. O lugar cheirava a papel velho e carpete empoeirado e agora a cigarro. E aceitou a derrota quando a viu abaixar a cabeça e barulho das teclas voltar a preencher o silêncio da sala. A mulher voltou a trabalhar e ele a ser ignorado.

Matthew ficou a sós com a apreensão ruindo o que restava de esperança em seu peito. Temeu que a qualquer momento a voz de seus amigos entrando algemados por aquela porta fosse ouvida. E apesar de que apenas a ideia disso acontecer lhe fizesse tremer, havia uma pequena e perigosa fagulha de esperança quando pensou que não seria tão ruim se seus amigos estivessem ali com ele. Então, Matthew parou de olhar através do vidro da porta e suspirou cansado depois de se repreender. O ar escapou de seus pulmões, e enfim ele abaixou a cabeça até que seu queixo quase tocasse em seu peito e desistiu de continuar lutando contra o sono que o tomava.
Nem mesmo as fortes luzes brancas que lhe deram uma bela dor de cabeça foram capazes de impedir o garoto de adormecer. A voz daqueles que vagavam na delegacia ficando cada vez mais distantes e se calando o embalou num sono tranquilo como há tempos não fazia. O silêncio tinha uma parcela de culpa maior do que o cansaço naquele adormecer repentino. Não havia gritos no andar de baixo, não havia barulho de coisas caindo, sem xingamentos, sem a necessidade de estar desperto e alerta sobre quando, e se precisaria, intervir na briga. Ele nunca sabia, então dormia com um olho aberto e outro fechado.

Sempre.

Seu último pensamento antes de apagar sobre aquela cadeira fria foi o cano da arma de Sean Walsh apontado para sua testa.

— Vamos atrás dos seus amigos e resolvemos isso na delegacia.

— Foi tudo ideia minha. Eu os convenci, eles não tem nada a ver com isso.

O garoto mentiu com o tom de voz tão firme que quase se convenceu de que era verdade. E com um movimento lento e pré anunciado, desceu uma das mãos até a altura da arma e, sem quebrar o contato visual com Sean, empurrou a arma para longe de seu rosto.

— Tenho certeza de que você não quer matar um pirralho que mal teve a primeira transa.

Sean riu incrédulo.

— Era só o que faltava!

Pensou alto ainda com o maxilar cerrado quando abaixou a arma e a colocou de volta presa em seu cinto. E, com apenas um gesto, forçou Matthew — que não relutou — a virar de costas para ele, o empurrando na direção da rua, para o seu carro.

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⏰ Última atualização: Jul 08, 2024 ⏰

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