Será que eu te amo?

Você sabe abrir a porta?

Ontem foi um dia bastante agitado, não parei para pensar em tudo o que aconteceu porque só consegui lembrar da maldita cena dela deitada com a cabeça no meu ombro. Eu mal consegui dormir, acho que dormi por uns 30 minutos ou mais, não lembro. SÓ LEMBRO DAQUELA CENA DE MERDA, que droga. Pego o celular para ver a hora e vejo que são 07:20, estou atrasada, a aula começa às 07:00. Pego minha mochila e vou correndo em direção à porta. Quando abro a porta, vejo Luana saindo de casa, droga, eu não queria ver ela agora.

- Bianca? - continuo andando fingindo que não estou escutando.
- Bianca...
- Não olha, não olha - susurro baixinho em uma altura que só eu consigo ouvir.
- Não me ignora, eu sei que você está ouvindo - ela corre e para na minha frente.
- Eu fiz alguma coisa?
- Não, você não fez nada - digo isso quase mastigando os meus dedos.
- Então por que você não fala comigo? Está tudo bem? Eu fiz algo?
- Eu estou normal, na realidade não estou bem.
- O que foi? O que houve?
- Estou atrasada - digo bufando enquanto tento andar mais rápido.
- Relaxa, o segundo tempo existe para isso - ela diz.
- Mas eu não quero me atrasar.
- Desculpa nerdola, você não vai se atrasar - ela começa a correr olhando para mim - corre senão você vai se atrasar.
- Eu não sou nerdola. Tenho quase certeza de que já estou vermelha de tanta vergonha.
-Corre.
-Para com isso, Luana. Eu não vou correr. Eu dou uma corridinha para acompanhar ela. -Corre Bianca, atleta.
-Eu já fui atleta, sabia?- Ela para de correr e fica me olhando com uma cara confusa. -Você? Atleta? Como assim? Me explica isso.-
Ela ri de uma forma apaixonante.
-Eu gosto de atletas, sabia?- isso foi um flerte? ou eh coisa da minha cabeça?
-Eu era, fazia ginástica... Eu cruzo os braços lentamente.
-Como assim gosta de atletas?
-Ex-ginasta, que legal.- Ela ignora a minha outra pergunta.
—Como assim gosta de atletas?
-Depois eu te explico isso, você está atrasada. Ela começa a andar como se estivesse fugindo de mim de uma forma horrível.
-Eu não ligo, Luana, "Para isso existe o segundo tempo".  Eu falo isso com uma vozinha estressante. Eu me daria um soco só por essa voz insuportável.
-Eu namorei uma menina, jogadora de futebol... Só isso?
-Uma menina? Achei que ela gostava de meninos tipo... sla parece.- Que legal. A gente continua andando em direção à escola.
- Por que você queria tanto saber? Ficou interessada?
- O quê? Não.- É óbvio que eu fiquei. Ela solta uma dessas do nada e acha que eu não vou ficar interessada?
- Ah, tá. Eu olho para o relógio e instantaneamente começo a correr. -Por que você está correndo? Você é louca?
- Já são 07:30, o segundo tempo é 8h, vamos logo, digo correndo.
- Você é uma comédia, sério. Ela começa a correr junto comigo.

08:00

- Sinceramente eu não sei como a gente chegou no tempo.
- Pois é, se você demorar mais um minuto para abrir a porta nós vamos chegar atrasadas no segundo tempo.
- Depois sou eu que sou chata, né? Abro a porta e nos sentamos nos nossos lugares.
- LUANA E BIANCA, bom dia. A professora Magda me encara de uma forma péssima... Acho que ela quer me matar. -Qual foi o motivo do atraso?
- Eu acordei atrasada.
- E você, Luana?
- Eu acordei junto com a Bianca. Eu quase cuspo a água que estava na minha boca. Como assim ela acordou comigo?
- Ok, peça para alguma amiga a tarefa.
- Está bem.
- Está bem- nós falamos ao mesmo tempo. Que fofo.

No recreio:

-BIANCA ONDE VOCÊ PENSA QUE VAI?
-Bom dia para você também Lorena.
-Como assim você acordou com a aluna nova?
-Ela é minha vizinha e ontem fui à casa dela dar as boas-vindas e a gente saiu atrasada na mesma hora.
- É só isso?
- Sim.
- NÃO É SÓ ISSO, GAROTA, TÁ LOUCA?
- A única louca aqui é você - olho de forma envergonhada - ela está virando uma amiga.
- Bianca, você tem certeza de que não é nada? De verdade? Eu não sei se consigo fazer isso, eu não consigo mentir para ela, eu não quero mentir para ela, mas eu não consigo admitir que talvez, só talvez, eu goste dela. Sabe, o jeitinho fofo, a forma como trata as pessoas. Ah sei lá, eu estou errada? É só coisa da minha cabeça.
- Eu tenho certeza absoluta, Lorena. Eu não vou jurar de dedinho, é muito forte... O sinal toca de forma ensurdecedora e então me dou conta de que vou para a mesma sala que ela. Como vou falar com ela com essa dúvida que está quase me matando? Será que gosto dela? Será que ela gosta de mim ou sou surtada demais para ela? Eu não sei, nem sei se ela lembra de mim. Isso talvez seja um pouco de drama, mas passa quando me dou conta: já se passaram 2 minutos e ainda estou fora da sala. Vou correndo até a porta e quando coloco a mão na maçaneta sinto um toque nas minhas costas.
- Não vai abrir não? Vai ficar parada me olhando?
- Eu ia abrir, mas você me atrapalhou- quase desmaiei Ela põe a mão nas minhas costas e quer que eu reaja tranquilamente, entrei em pânico.
-Então abre- ela falou de uma forma tão fofa, interrompendo todos os meus pensamentos. -Eu já falei que ia abrir, ai para de me atrapalhar- ela disse de uma forma tão fofa que eu ficaria horas olhando. Ela ri e mais uma vez interrompe os meus pensamentos.
-Ai, esses adolescentes de hoje em dia não sabem abrir uma porta.
-Cala boca, eu já disse que ia abrir, mas... -Mas eu te atrapalhei, já sei.- Ela passa na minha frente e abre a porta, queria ter conseguido abrir essa porta.
-Vocês estão atrasadas de novo? Se isso continuar assim, eu vou ter que informar à direção. Cinco minutos atraso, sentem-se.
-Por que ela é tão chara assim amargurada?-Ela sussurra isso no meu ouvido, acho que vou desmaiar.
-Não sei, talvez ela tenha alguém que goste dela de verdade.
-É... a gente se senta e magda começa a falar um monte de coisas que eu não quero saber. Então abaixo a cabeça e acabo pegando no sono.

12:35
-Bianca? BIANCA? Acorda, já está no horário. Eu levanto a cabeça e está Lorena e Luana me olhando.
-Você tem que ir para casa, Bibi, eu te levo.
-Nas costas? Você veio andando - digo enquanto pego a mochila.
-Ai, que grosseria.
-Desculpa, não era minha intenção.
-Mas enfim, você vai andando, de ônibus, de bike ou de carro.
-Isso só pode ser deboche.
-Foi, não sei se você sabe andar, mal conseguiu abrir uma porta hoje cedo.
-Luana, eu ainda te mato. Me despeço de Lorena e sigo o caminho com Luana. Está um silêncio ensurdecedor, o que eu faço? Já sei.
-A gente tem que terminar aquele filme.
-Verdade. Agora fala sério, por que romance? Achei que você era mais legal, menos clichê - ela diz isso como se quisesse me provocar.
-Eu gosto. Acho legal como o amor pode ser de várias formas diferentes. Você pode se apaixonar por um psicopata. Você não quer mas pode. Você não manda no amor, sabe?
-Eu já me apaixonei por uma psicopata. Foi terrível.
-O que ela fez para receber esse título tão importante de psicopata?
-Me seguiu por ciúmes e me fez parar de ser amiga da minha melhor amiga... Mulheres são difíceis.
-Realmente.
-Você gosta de ler?
-Gosto, por quê a pergunta?
-Tenho uns livros legais de romance lá em casa nunca li, acho meio brega, sabe? quando eu percebo, a gente já chegou em casa. Porque isso não durou mais? Podia ter durado mais, sei lá, o caminho podia ser mais longo.
-Mais tarde eu passo aí, a gente termina o filme e te entrego o livro.
-Beleza.
-Você precisa de ajuda para abrir essa porta também?
-Vai à merda, Luana.
-Até amanhã, Bibi.
-Até. Meu Deus, que cansativo. Eu preciso dormir. Subo a escada, não tomo banho, só me jogo na cama e acabo adormecendo.