Capítulo Único

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PLURALIDADE EM UNÍSSONO

   O sol se erguia majestosamente sobre o estádio olímpico, espalhando um brilho dourado sobre as águas cintilantes da piscina. As bandeiras dos países participantes tremulavam ao vento, criando uma sinfonia de cores enquanto a excitação no ar era quase tangível, eletrizando todos ao redor.

Dandara, uma jovem trans de 22 anos de cabelos castanhos claros e ondulados, estava no centro da energia vibrante do estádio. Sentia-se privilegiada por estar ali como voluntária olímpica, na sua missão de auxiliar os atletas paralímpicos, garantindo que tudo nos bastidores funcionasse perfeitamente. Após um longo período de preparação, finalmente estava onde sempre desejou.

Ela, desde criança, sabia que sua identidade era diferente da forma como os outros a enxergavam, como se estivesse presa em um corpo que não lhe pertencia, tornando doloroso se olhar no espelho. O processo de transição foi longo e repleto de desafios. Houve momentos em que pensou em desistir mas, com o apoio de bons amigos, persistiu. Finalmente, após travar muitas batalhas internas, começou a se sentir confortável em sua própria pele — uma bela mulher determinada, sensível e empática. Agora, usava da sua experiência pessoal para oferecer apoio genuíno aos atletas, buscando entender suas lutas de maneira única. Com isso, ela podia encontrar um propósito maior através das suas ações, estando determinada a fazer a diferença e oferecendo a todos a mesma aceitação e apoio que um dia buscou para si.

O movimento estava frenético ao redor da piscina olímpica, indicando que seria um dia de intensas preparações. Dandara, naquele momento, corria de um lado ao outro, a fim de atender às necessidades dos atletas: levando-lhes toalhas limpas e conferindo as raias numeradas para, então, garantir que tudo estivesse em perfeita ordem.

Em meio a toda aquela agitação, ela notou um jovem pela primeira vez. Parecia alto e esguio, de pele morena dourada e, com agilidade, deslizava sem esforço pela água com sua touca e óculos azul-marinho. Mesmo à distância, ela podia sentir a determinação e o foco em seu rosto enquanto este nadava, volta após volta, com uma dedicação incansável. Intrigada, perguntou a um dos outros voluntários sobre o nadador, até então desconhecido para ela:

— Tony, quem está na raia dois?

— Pedro Ezequiel, candidato do Brasil nos 100m borboleta. — respondeu o homem a quem se referia, sem tirar os olhos da prancheta.

— Com esse talento, acho que o ouro já é dele.

— Pois eu espero que o ouro fique na França. — Tony riu.

Por algum motivo inexplicável, sua alma se sentiu atraída pela resiliência exemplar do jovem. Singularmente, essa história de perseverança ecoou em seu ser, entrelaçando-se com as batalhas pessoais que havia travado. Sob o influxo dessa conexão enigmática, sentiu o chamado de adentrar os recônditos da vida de Pedro, desvelando os segredos que moldaram sua jornada.

Era como se uma chama interior tivesse sido reacendida, impelindo-a a explorar a sinuosidade dos caminhos trilhados por Pedro, esperando encontrar paralelos edificantes entre suas próprias vivências.

Durante um breve período de descanso dos atletas nas piscinas de aquecimento, ela apresentou-se, oferecendo uma palavra encorajadora, pois sabia que seu papel consistia em apoiá-los.

— Olá, meu nome é Dandara. Sou uma voluntária. Estou aqui para auxiliá-lo no que precisar. Posso ajudar? — perguntou.

Pedro seguiu o som da sua voz, cumprimentando-a com um sorriso caloroso que iluminou todo o seu rosto.

— Oi! Sou Pedro, muito prazer. Na verdade, estou tendo dificuldades em encontrar o caminho de volta ao vestiário. Pode me ajudar com isso? — respondeu ele, com uma leve risada de nervosismo.

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