Capítulo 1

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Acordara às nove naquela manhã de domingo. Espreguicei-me na cama curtindo a luz fresca que entrava pela vidraça do meu quarto naquele apartamento em Manhattan. Levantei e toquei os pés no chão de madeira, vi as gotas grudadas na janela e percebi que amanhecera uma manhã chuvosa, melhor ainda, apreciava mais a chuva que o sol.
Calcei os chinelos e caminhei pelo corredor indo até a sala. Deparei-me com a televisão ligada no noticiário, e meu irmão mais velho Ryan, de pé na cozinha, com a mesma aparência de sempre, o cabelo castanho arrepiado emaranhado por ter acabado de acordar. Usava uma camiseta branca e uma calça de moletom manchada.
Olhou pra mim e abriu seu sorriso largo.
- Acordou, mana?
Perguntou.
- Sim, nunca dormi tão bem antes.
Suspirei e caminhei para chegar até a cozinha. Ouvi o grito de Ryan ao chegar:
- Ai...! Quente! Quente!
Eu ri ao perceber que ele tinha derramado café quente na calça moletom, parecia que ganhara uma nova mancha. Meu irmão era um crianção, tinha vinte e dois anos e ainda parecia não saber se virar sozinho. Só era um ótimo profissional, por isso não podia reclamar da nossa condição financeira, ele conseguiu um trabalho num escritório de arquitetura pouco depois de se formar na faculdade e depois de alguns meses foi promovido a um cargo maior, toda a família tinha muito orgulho dele, mas pra mim, ele continuava sendo sempre meu irmão desengonçado e cabeça-de-vento.
Sentei-me na mesa e lhe dei um pano de prato para que ele enxugasse o café que escorria da barra da camiseta até a calça.
Ouvi o telefone tocar naquele momento.
- Grace, pode atender, por favor?
Ryan, meu irmão mais velho pediu, enquanto enxugava a camiseta com o pano de prato e mastigava uma torrada. Eu me levantei e caminhei até o telefone pregado na parede da cozinha.
- Alô?
Atendi. Minha voz ainda estava preguiçosa tomada pela maresia da manhã.
- Oi, quem fala?
Uma voz feminina disse do outro lado.
- Aqui é a Grace.
- Grace? - A pessoa pareceu me reconhecer. - Olá Grace! Meu Deus, quanto tempo não ouço falar de você!
A mulher pareceu muito entusiasmada em falar comigo, mas eu não sabia quem era.
- Me desculpe, quem fala?
- É a tia May! Não lembra de mim? Nos vimos no natal passado.
Ao se identificar, lembrei muito bem dela e me envergonhei por não ter reconhecido sua voz. A verdade é que não costumava receber telefonemas de tios, minha família inteira era espalhada em diferentes cidades e só nos víamos em datas especiais, como o natal.
- Oi tia May! Claro que lembro da senhora.
Tia May, era uma mulher gorda e de simpatia memorável. Me dera uma blusa de muito bom gosto no natal, lembro-me dela. Também sabia que ela tinha um filho e um marido a pesar de tudo. Ia a casa dela quando ainda morava com meus pais, passava os feriados comendo suas tortas deliciosas, depois que meus pais tiveram que ir trabalhar em uma cidade pequena, eu preferi ficar com meu irmão mais velho em Nova York e não a visitei mais no interior. Ela gostava de mim, apesar de não termos muita intimidade. Quem eu não gostava era do filho dela.
Lembrava-me muito bem dele. Desde criança, sempre me irritando, uma vez me pendurou numa árvore pela blusa. Vi-o no natal e ele parecia o mesmo, o mesmo cabelo espetado preto, a pele branca meio bronzeada e os olhos verdes-esmeralda me fitando sempre com ar de segundas intenções, a única diferença é que crescera, estava na mesma idade que eu, dezesseis, talvez fosse uns meses ou um ano mais velho.
- Sim, como está?
Ela quis saber.
- Estou muito bem, obrigada, e a senhora?
- Estou ótima, querida, preciso é falar com o Ryan, ele está aí?
- Ah sim, está. - Tapei a entrada de som para chamar meu irmão. Fiz um sinal com a cabeça para mostrar que era pra ele. Ele veio atender. - Vou passar pra ele, até mais tia.
- Até mais.
Ela despediu-se. Meu irmão pegou o telefone da minha mão. Eu caminhei de volta pra mesa do café da manhã e coloquei um dos ovos mexidos que ele tinha feito no meu prato.
- Ah , Oi tia May.
Eu ouvia ele falando com a tia.
Olhei para observar a conversa, não por intromissão, mas por curiosidade. Se tia May conseguira o nosso número de telefone residencial, devia ser por um motivo bem sério.
Ele pegou o fio do telefone e enrolou na mão enquanto parecia ouvir um longo discurso do outro lado. Falou pouco na conversa, de vez em quando respondia algo como: , e etc.
No fim ele concluiu respondendo:
- Tudo bem, não me incomodo, precisamos mesmo de mais ajuda aqui. Se ele resolver cooperar, posso dar uma chance a ele.
Pairei sem entender. A quem ele se referia ao dizer: "Ele"? Antes que eu pudesse intervir, ele desligou.
- O que ela queria? O que quis dizer com "mais ajuda aqui"?
Ele suspirou como se já imaginasse minha reação. Não gostei nada.
- Ela está com problemas com o filho. - Explicou. -Jonathan, acho que é esse o nome dele.
- E o que isso tem á ver conosco?
Transpirei ao pensar na possibilidade de alguém atrapalhar nossa tranquila e muito bem organizada, vida em Manhattan.
- Ela perguntou se eu daria chance dele se mudar pra cá. Morar conosco por uns anos, ela pagaria as despesas. Quer que ele tenha mais responsabilidade e como não fico muito em casa, ele aprenderia á conviver com regras e se virar sozinho. Acha que numa cidade maior, ele teria mais oportunidades também, como somos a única família que continuou aqui...
Ele concluiu. Eu pisquei, tentando pensar no que poderia acontecer. Aquele garoto brusco, idiota e infantil que me pendurou numa árvore iria morar no mesmo lugar que eu?
- Mas, mas... - Eu fiquei sem palavras, completamente tomada por minha irritação. - Você ficou louco? - Protestei, irritada. - Deixou um problemático morar no nosso apartamento?
Soltei uma baforada enquanto tentava me acalmar. Não conseguia imaginar como de repente tudo desmoronou numa manhã de domingo. Seria o fim, o fim de toda a minha paz, era a chance perfeita de alguém estragar tudo e esse alguém era Jonathan. Ele acabaria com toda a nossa tranquilidade e organização sem o mínimo de esforço assim que respirasse ali dentro, eu já podia prever.
- Ah, não vai dizer que ainda não gosta dele por causa da árvore?
Ryan fez pouco caso soltando um riso breve, mas eu sabia muito bem do que estava falando. Eu fiquei ainda mais irritada:
- Não é só isso! - Respirei fundo quando percebi que estava gritando. - Ryan, se ela está tendo problemas com ele significa que ele não é fácil, vai acabar com toda a nossa vida aqui. Logo vai estar odiando ter que mandar ele tirar a toalha da mesa do café e mandando ele arrumar o quarto de hóspedes, eu tenho certeza!
- Ai, calma maninha, você está muito estressada. - Eu odiava quando ele vinha com aquele tom de sarcasmo. - Não é por desobediência que ela teve problemas com ele, só que ele não anda estudando, diz que a escola do interior não é boa o bastante pra ele. Olha só... Ele parece ser bem interessado, não?
Ele disse num sorriso, tentando amenizar a situação, mas não adiantou.
- Não deve ser completamente verdade, ela deve estar querendo empurrá-lo pra nós. Aposto como quando ele começar á causar problemas ela vai recusar que ele volte pra casa! - Protestei furiosa, algo me dizia que aquilo não daria certo.
- Não pode fazer isso, ou eu colocaria ele na rua e não teria pra onde ir. Acha que ela não abriria as portas pra ele? Relaxa.
Ryan tinha um problema: Sempre achava que tinha tudo sob controle, mas nem sempre tinha razão. Além de sempre querer dar uma chance às pessoas, achava que sua simpatia fora do comum podia resolver qualquer problema, mas a verdade é que depois eu tinha que arcar com as consequências e ajudá-lo á resolver o problema.
- Ele chega na terça-feira.
Ele avisou. Eu arfei o ar e joguei-me na cadeira. Desisti de reclamar, sabia que Ryan não ia mudar de ideia até que Jonathan viesse e lhe desse um motivo pra isso.
Não conseguia imaginar outra pessoa ocupando aquele lugar, vendo o que eu fazia, se intrometendo no que eu fazia, me observando. Estava odiando essa mudança repentina.
- Ele pode até vir, mas não quero que me meta nisso, ok?
Eu cedi, mas não podia deixar que tudo sobrasse pra mim. Ryan negou com a cabeça:
- Nem pensar, ele é seu primo, tem que ser legal e mostrar a ele a cidade e a escola.
Rejeitou mais uma vez minha exigência. O que era isso? Não podia nem escolher ser ou não amiga dele?
- Ryan! Ele é repugnante, não vai nem fazer questão da minha ajuda, lhe garanto.
Protestei outra vez ao meu favor.
- Não importa, vai estar fazendo sua parte. Seja boazinha, está bem?
Ele lançou-me um olhar esperançoso, como se dissesse "estou contando com você". Eu suspirei, renegada. Sabia que Ryan ia acabar me convencendo, sempre acabava conseguindo que eu fizesse o que ele queria com aquela sua paciência e calma interminável.
Eu respirei fundo e cedi:
- Está bem. - Respondi á contragosto. - Mas não vou correr atrás da atenção dele!
Ele sorriu satisfeito com o resultado da sua persuasão.
- Ótimo.
Na mesma hora que concluímos a conversa o celular de Ryan vibrou na mesa. Ele olhou para o visor e sorriu ao atender:
- Oi Sally.
Saudou com um sorriso nos lábios.
Sally era a noiva de meu irmão. Trabalhava no mesmo lugar que ele, só que um cargo abaixo. Eu não pensei que um dia ele iria noivar, mas isso enfim aconteceu. Geralmente ele tinha muitas namoradas, graças á sua boa condição financeira e sua aparência física. Podia dizer que tinha um irmão atraente. Ele tinha olhos azuis, era forte graças as suas aulas de boxe numa academia e cabelos castanhos claros espetados, tinha um grande senso de humor e era muito fiel. A nossa relação era algo fora do comum, era como: Eu tinha a ele e ele tinha a mim.
Tanto que abri mão de morar com meus pais em Chilton Park, pois sabia que ficaria muito bem ali. Ele era no geral um irmão atencioso e que me dava quase tudo que eu queria, fazia de tudo para me proteger e vivia dizendo que não seria nada sem mim para pôr juízo em sua cabeça.
Em geral, só não era bom com compromissos e responsabilidade, mas não fazia diferença, pois eu sabia me virar sozinha.
Assisti ele conversar durante um tempo com Sally, quando desligou, virou-se pra mim com um sorriso no rosto:
- Vamos assistir á final de baseball!
Sally devia tê-lo chamado para assistir a final por telefone. No início parecia uma boa ideia, mas quando lembrei do que tinha acabado de acontecer, perdi completamente o ânimo:
- Ahm, acho que não vou.
Eu falei num tom preguiçoso.
- Ah... Vamos! - Encorajou-me me dando um leve tapa no ombro e se levantando da cadeira. - Vai ser legal.
Aquilo não foi o bastante para me fazer esquecer do que aconteceu.
- Acho que não.
Neguei outra vez. Aproveitei para jogar-lhe uma indireta:
- Preciso me preparar emocionalmente para receber os novos inquilinos...!
Lancei lhe um olhar cortante. Ele suspirou.
- Ah, não me diga que vai deixar o Jonathan acabar com seu domingo.
Insinuou. Ele sabia como me convencer, nunca deixaria que dissesse que Jonathan conseguiu me deixar de mau humor.
- Não sei não...
Continuei negando, tinha que defender minha integridade.
- Vamoooosss... - Suplicou. - Eu deixo você levar aVictória e o Joe, o que me diz, hã?
Victória e Joe eram meus melhores amigos, às vezes fazíamos programas nós cinco. Estava mesmo querendo contá-los a "boa nova" sobre Jonathan. Queria ver o jogo da final também, e não via Sally há algum tempo, então acabei cedendo:
- Tá... Tudo bem.
Aceitei. Ele deu um pulo de comemoração:
- É, essa é minha maninha! - Saiu em direção ao corredor. - É melhor ir se arrumar, marquei de encontrar a Sally na fila daqui a duas horas e ainda tenho que buscar Joe e Victória.

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⏰ Última atualização: Jul 07, 2015 ⏰

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