Prólogo

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Talia,

- Atira, Talia. Agora. Eu tô mandando.

Aquela coisa fria, agora parecia quente, como uma batata que eu precisava soltar ou queimaria minha mão.

Eu olhava pra ele ajoelhado lá... Eu olhava pro Aron do meu lado, totalmente metamorfosado num ser das trevas, escuro e mal. A arma balançava na minha mão.

- Não faz isso... Por favor, para... Eu te suplico... - baixei os braços, batendo os joelhos no chão no auge de minha fraqueza. Eu não poderia atirar... Eu não saberia viver com a culpa de matar alguém.

- Levanta! - Aron atracou a mão no meu braço e me fez ficar em pé.

Ele estava tão monstruoso!
Tão enraivecido!

Eu chorava, apertando os olhos, chorando alto.

- Aponta - disse sibilante, arrumando brutalmente e irritadamente a arma entre minhas mãos, erguendo meus braços.

- NÃO! - me objetei num brado desesperado, tentando resistir e sentindo tanto, tanto medo... O que aconteceu com ele? Ele estava como se tivesse perdido o coração, como se não sentisse mais nada. Como um robô programado pro mal.

- TU VAI ATIRAR, EU TÔ MANDANDO! AGORA! - gritou ao lado da minha bochecha, a boca quase a beijando, mas talvez, querendo na verdade errancar um pedaço com os dentes de cerra que estavam trincados, me fazendo tremer a cada palavra.

- Eu te imploro, Aron... Não me faz fazer isso. EU TE IMPLORO, PORRA!

Virei meus olhos para os dele.

Ele mostrou aqueles mesmos dentes de tubarão, como se sorrisse. Não havia alma naquele corpo. O meu amor não estava lá. Seus olhos eram ocos, obscuros. Eu o temi como nunca temi ninguém.

- Tá me dizendo que prefere morrer no lugar dele, então? - perguntou, me congelando com o laser frio de seu olhar cruel. - ok... A escolha é sua.

- Não quero matar ninguém! - usei este argumento - Por favor, meu Deus... - eu não queria estar ali, naquele lugar escuro, com eles, numa situação tão absurda. - Me deixa ir.

- Só quando ele estiver morto. Ou quer que eu solte ele também? - ele me desafiava. Se eu respondesse a coisa errada...

Olhei na direção do cara que eu tinha jogado para os leõs. Ou melhor, para o leão.

- Solta a gente - implorei, soluçando, tirando os olhos de lá e os abaixando pra a arma na minha mão caída. Eu não poderia pedir só por mim. Eu era culpada também. - Não faz isso comigo... Tá me apavorando, Aron. Você tá me traumatizando... Eu nunca vou superar isso! Se você me amou algum dia, eu suplico, PARA!

Me projetei para frente, esgotando minha voz e minhas forças e lágrimas.

- Voce acha que está acima de tudo. Que é o centro do mundo. - ele caminhou lentamente até parar atrás de mim, sua boca se aproximando do meu ouvido, fazendo eu apertar o ombro e chorar mais. - O que tu fez não tem perdão, Talia... Tu entendeu agora? - então, passou a falar num sussurro sombrio, como o próprio anjo da morte, cruel e sem humaninade: - Ergue a arma e atira, ou eu mesmo mato ele... Depois você.

Levemente senti suas mãos, como duas cobras, andando pelos meus braços rigidos e os juntanto, os levantando; seus dedos se unindo aos meus com firmeza, sem pressa, para me forçar a apontar.

Eu estava trepidando e sufocando em minhas lágrimas; meu peito fazia movimentos convulsivos, expandido e contraindo a cada fungada e rangido de tristeza e dor que eu soltava. Novamente, sua gélida voz penetrou meu ouvido, quase sensual, mas perversa demais para chegar a tanto.

- É só apertar o gatilho, Lia, e você fica viva. Tu não tem escolha. - mais determinante e encorajador, vociferou com um militar dando uma ordem a seu pelotão: - Aperta e mata esse filho da puta.

Seduzida pelo pavor, me agarrando como um carrapato a vida, fiz um escolha, odiando o Aron por me obrigar a isso. Baixei as pálpebras, esmagando meus cílios para não ver e apertei o gatilho.

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Bem vindos ao livro três! 🔥

Que conhecem os jogos!!!

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