Jimin está entre as cortinas cor-de-rosa da sala, pairando diante da luminosidade externa tal qual um frame inédito de um filme neo-noir, emanando um falso azul ao seu redor feito luz divina. Depositava os rastros de sua teia espalhados pela casa...
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"Talvez não
quisesse – conter o ímpeto recorrente,
feroz, para, de pés descalços, incendiar o mundo."
— Raduan Nassar.
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Jimin está entre as cortinas cor-de-rosa da sala, pairando diante da luminosidade externa tal qual um frame inédito de um filme neo-noir, emanando um falso azul ao seu redor feito luz divina.
Os pés descalços se arrastam sobre o tapete de veludo vermelho, enquanto ele, despudorado e altivo, dança sem roupas mesmo com as janelas abertas.
Estava acostumada com a meticulosidade de seus movimentos, a presunção de suas vontades que não se rendiam diante de nada. Nem mesmo do embaraço. Não fazia o tipo tímido. Estava longe de se ater ao título banal de rapaz rogado.
Pelo contrário, ainda possuía aquele tom adolescente de quem acha que controla o tempo conforme o próprio passo, a arrogância juvenil que se atrelava à rebeldia infundada em traços pequenos, acrósticos* de detalhes que, juntos, eram perceptíveis a olhos curiosos: piercings decorando orelhas, atravessando dolorosamente as aréolas rosadas de mamilos, transfigurando-se em hieróglifos* tatuados pela pele, que unidos talvez fossem capazes de decodificar sua incógnita, se é que não traçaram uma nova rota perante outro mistério. Típica delinquência barata de enredo hollywoodiano, para onde eu, particularmente, exercia meu olhar devoto.
A voz vaporosa e suave, de consonância sensual e pueril, ressoava acompanhando a música, que ele mesmo havia escolhido entre os discos de Nina Simone, deixando "I Put A Spell On You" no volume máximo. Ele e sua veneração por ídolos mortos; Simone, Cobain, Joplin, Hendrix.
Depositava os rastros de sua teia espalhados pela casa, — peças de roupa pelo chão, botas largadas na entrada —, envolvendo-a ao meu redor como um predador que escolhe de forma minuciosa e calculada, sua presa; livrando-se dos anéis prateados que adornavam seus dedos, os últimos resquícios que separavam meu olhar da nudez total de sua pele, produzindo um barulho confortável dos acessórios metálicos contra a mesa e alcançando a garrafa de whisky, até se aproximar a passos lentos, com seu ar respeitoso e repleto de um cinismo óbvio que parecia alimentar a parte ansiosa e adolescente que ainda existia em mim.
Mas permaneço tão distraída vendo-o dançar, que quase esqueço o cigarro, que agora, é só um traço de cinza pendurado entre meus dedos, o filtro quase consumido pela chama fraca, tocando a base do cinzeiro e virando fuligem, mas não desvio o olhar dele por nem mais um minuto.