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Hospital central do Canadá, 15:23 da tarde, 23 de junho de 2024.
Hwang Hyunjin

Eu estava deitado numa cama de hospital, debilitado e entediado. O médico disse que eu não teria muito mais  do que dois dias de vida, talvez até menos.

Félix, meu namorado, estava sentado ao meu lado escutando atentamente tudo o que o médico dizia enquanto segurava o choro.

- Então, é isso, irei deixar os senhores a sós. - O médico disse e em seguida saiu da sala.

Quando olhei para meu Félix, os olhos do mesmo estavam lacrimejando e eu fiquei triste de fazê-lo chorar. Não queria que ele se afogasse em lágrimas apenas por minha causa.

- Lixie...- O chamei. - Não chore, não gosto de te ver chorando. Ainda mais por minha causa. - Ele me olhou e enxugou as lágrimas com a manga do casaco.

- T-tá. - Sua voz saiu fraca, mais como um fio se rompendo.

- Aliás, se eu for morrer amanhã, quero estar ao seu, segurando sua mão. E não quero que chore. - Eu disse e levantei minha mão para enxugar suas lágrimas.

- Lixie, promete pra mim que você vai seguir em frente quando eu for embora.

- Como, Jinnie? Como vou seguir sem você?! Porra, você é o caralho da minha vida. Você é o meu namorado e a única pessoa que eu tenho. Não me deixa.

- Só segue em frente como der, não desista da sua vida por minha causa. Eu sempre vou estar de acompanhando de lá. - Apontei para o cima. - Me promete, mesmo que não arranje alguém para ficar ao seu lado como eu fiquei por todo esse tempo, que vai seguir em frente e só ir embora quando chegar a sua hora?

- Prometo...- Ele sussurrou e eu me levantei com um pouco de esforço e me inclinei para beija-lo. - Eu te amo, Lee Félix.

- Eu também te amo, Hwang Hyunjin. - Félix parou por um momento, parecendo pensar. - Eu já volto! - Ele diz e sai correndo do quarto em que eu estava, o que me fez rir.

- Aí...- Resmunguei de dor. - Eu te amo mais do que tudo, Lixie. Eu queria poder ficar aqui para ver nossos filhos crescerem, mas não vou poder...- murmei para mim.

Quando Félix voltou, ele estava mais sorridente do que antes de sair.

- O que você aprontou?

- Eu consegui uma alta assinada pelo médico! Você pode sair hoje, mas amanhã tem que voltar. Vou te levar naquela exposição de arte que você queria ir, e também na praia, seu lugar favorito. - Ele fala com um pouco de pesar. - Anda, Hwang, vou só pegar a cadeira de rodas e nós podemos ir.

- Obrigado, Lix, por me fazer tão feliz nos meus últimos momentos de vida.

- É o meu dever, amor. - Ele sorri tristonho e se dirige ao canto do quarto para pegar a cadeira de rodas que estava lá.

Ele volta para a cama onde eu estava com a cadeira em mãos e me ajuda a mudar da cama para a cadeira, perguntando se eu estava bem quando eu soltei um resmungo de dor.

- Eu estou bem, love.

Ele empurrou a cadeira de rodas até a mesa de cabeceira que tinha ali para pegarmos nossos pertences e em seguida pegou sua bolsa, colocando tudo dentro.

Nós, enfim, saímos daquele ambiente hospitalar e fomos direto para o carro, onde ele me ajudou, novamente, a ir da cadeira para o banco do passageiro e em seguida guardou a cadeira, já desmontada, no banco de trás.

Ele entrou no banco do motorista e colocou o cinto.

- Põe o cinto, Hyun. - Ele murmurou para mim e eu fiz o que ele mandou. - Qual musica? - Ele perguntou.

- A nossa música. - Eu sorri para ele e ele retribuiu.

E então colocou "Beatiful Things" para tocar.

- She'll come and stay the night
And I think I might have it all! - Eu gritei com todas as forças que me restavam.

- And I thank God every day
For the girl He sent my way
But I know the things He gives me
He can take away
And I hold you every night! - Félix cantou e depois nós cantamos o resto da música juntos, rindo e brincando.

- Nós vamos primeiro a exposição, pois ela acaba hoje a noite, e amanhã de manhã, antes de voltarmos para o hospital...- Sua fala morreu.

Um tempo de silêncio se passou e nós chegamos a exposição. Foi a mesma coisa; ele me ajudou a voltar para a cadeira de rodas.

A eposição foi linda, e no final houve uma linda apresentação especial de arte, que nós fomos os primeiros a ver.

- Obrigado por me proporcionar tanta felicidade nas minhas últimas horas de vida. - Eu me inclinei para beija-lo.

Nós já estávamos em casa e nós preparando para dormir. Félix me ajudou a tomar banho e me vestir adequadamente (sem ser as roupas do hospital) e me ajeitar na cama para dormirmos pela última vez lado a lado.

Ele ficou de costas para mim e eu o abracei e afaguei seus cabelos.

- Eu nunca vou me esquecer de você, Jinnie.

- Nem eu, Lixie.

E nós dormimos.

No dia seguinte Félix me levou a praia e eu fiquei observando as ondas, antes de termos que ir para o hospital de volta.

Naquela altura, eu já estava sentindo náuseas, dores fortes de cabeça e meus olhos estavam começando a pesar.

- Eu te amo muito Félix. Você foi o meu primeiro amor verdadeiro e sempre será o único. Você é especial de todas as formas e eu nunca vou te esquecer. Eu te amo com todas as minhas forças... - Ele me beijou repetidas vezes, temendo que fosse a última.

E ele estava certo.

Naquela noite, depois de eu adormecer, eu nunca mais acordei.

A última coisa que eu escutei, foi Félix gritando meu nome e chamando o médico, antes de me despedir do mundo mortal para sempre.

Minhas Últimas PalavrasOnde histórias criam vida. Descubra agora