Capítulo único

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Então, você nunca conheceu o famoso Iudex de Fontaine? — É a primeira pergunta que Childe faz depois que os pratos são postos na mesa.

Zhongli supõe que era inevitável dado o rumo da conversa dos dois. Afinal, não há como falar sobre a viagem de Childe a Fontaine sem mencionar o fato de que ele esteve preso na Fortaleza Merópide; e certamente não há como não pensar na pessoa que barbaramente o sentenciou a tal ato.

Apesar deste ser um tópico que Zhongli naturalmente prefere evitar, o dia amanheceu ensolarado, o céu está bonito — não tanto quanto Childe, é claro — e eles arranjaram uma mesa boa, coberta pela penumbra dos telhados. Depois de desfrutarem do calor um do outro naquela manhã preguiçosa, eles tomaram banho juntos e Childe preparou o café da manhã. Em troca, Zhongli o levou para fazerem compras na Joalheria Mingxing e então o trouxe para almoçar no Restaurante Wanmin, optando por gastar parte de suas economias em um banquete comemorativo pelo primeiro dia dos namorados que passariam juntos.

Desde que Childe esteve viajando, Zhongli nutriu saudades infindáveis de seu menino. Agora que ele está bem diante de si, o humor de Morax está tão brilhante quanto a gema de cor lápis que cintila em seu dedo anelar, combinando perfeitamente com a jade nocticulosa na mão esquerda de Childe. O cheiro da comida recém preparada por Xiangling é formidável e seu namorado parece maravilhoso como sempre, os cabelos ruivos ondulando com a brisa do vento, marcas de chupões encobertos na gola de sua camiseta e o perfume de Zhongi impregnado na pele.

E não há nada que Zhongli prefira senão passar um tempo na companhia daquele que ama.

— É difícil dizer. — Ele começa a contar, esperando que o assunto seja carregado pelo vento ou enterrado nos confins da terra — Talvez eu já o tenha visto de longe, há muitos séculos, em alguma ocasião planejada pelo destino, mas nunca senti vontade de me aproximar e manter uma conversa com ele.

Childe está travando uma batalha tão árdua com os hashis que é quase fofo. Compadecido e igualmente divertido, Zhongli sente vontade de ajudá-lo, por isso ergue uma lasca de carne de porco assado de seu próprio prato na direção da boca dele.

O rubor espalha-se pelas bochechas do mensageiro suavemente, mas ele inclina-se e morde o pedaço oferecido. Zhongli observa com um olhar afiado quando sua língua serpenteia pelos lábios, lambendo o excesso de mel que escorre por um dos lados.

— Por que não? Seria interessante ver vocês dois se conhecendo.

Uma ruga surge entre as sobrancelhas de Zhongli.

— Interessante?

Childe ri nervosamente antes de responder:

— Você sabe. — Ele definitivamente não o faz — Vocês dois são, ou pelo menos foram, figuras importantíssimas no governo de duas nações igualmente importantes. O Iudex também é velho e fala de um jeito polido que meio que me lembra você, Xiangsheng.

— Você me acha velho? — Zhongli profere em um tom leve, falsamente magoado para deixar claro que é uma brincadeira. Ele é o mais velho dos Arcontes há tempo demais para renegar tal fato.

— Você prefere "antigo"? Tão arcaico quanto as primeiras rochas a nascerem sob o solo?

— Eu deveria considerar isso um insulto?

— Mais como um elogio. — Childe sorri e Zhongli acha que está tudo bem em perdoá-lo. — Eu diria que o Xiangsheng envelheceu como um bom vinho.

— Vinho osmanthus, então. É uma comparação que me apetece. Obrigado, Ajax.

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