O garoto soltou o ar entre os dentes, afligido e cansado, enquanto subia incansavelmente os degraus de pedra. Quando finalmente estava no último degrau, abriu a porta grande a sua frente e quase se cegou pela luz que vinha do lado de fora.
Quando pisou no terraço, sentiu a brisa do vento balançar seus fios loiros e pôde jurar que todas as memórias que criara naquele terraço lhe vieram à mente. Principalmente quando viu aquele pequeno e velho banco de madeira ao longe.
Sentiu um vazio enorme invadir seu peito, mas afinal, se não fosse para enfrentar, do que adiantou voltar até ali?
Andou lentamente na direção do banco e suas mãos tocaram a madeira levemente, com medo de que entrasse algum pedaço de farpa em sua mão.
Se atreveu a sentar no banco, um pouco receoso e com medo daquele velho assento não aguentar seu peso de tão velho.
Sorriu pequeno observando o entardecer do céu e vendo que as cores tomavam um tom de rosa e laranja. E se deixou levar por aqueles sentimentos e memórias que tanto repreendeu.
Veio à memória aqueles momentos em que fugia dos valentões da escola e correu para aquele terraço, igual sempre fazia. Mas também lhe veio à mente as lembranças do dia em que o viu.
Lembrou de como se sentiu quando percebeu que havia deixado seu diário naquele banco e quando voltou, lá estava ele, lendo cada palavra com um sorriso nos lábios e com os cabelos negros ao vento.
Foi ali que se apaixonaram, naquele terraço. Aquele não era apenas mais um terraço de uma escola, era o terraço em que deram o primeiro beijo, onde se conheceram e se apaixonaram profundamente.
Quase se arrependia de cada uma dessas memórias, mas sabia que nunca poderia, porque estaria mentindo para si mesmo. Mentindo para as fotos que guardava com tanto zelo em sua pequena caixa de sapatos, para as cartinhas contidas nessa mesma caixa e para o garoto que tanto amava.
Se perdeu no tempo e nas lembranças e só foi tirado de seu mundinho quando ouvi a porta ser aberta. Surpreso, afinal aquele local seria demolido e ninguém deveria ir ali, ele se virou imediatamente para ver a figura alta que estava parada na porta.
No entanto, não se surpreendeu ao vê-lo. Sentiu-se culpado e cheio de remorso.
Se entreolharam e naquela pequena e curta troca de olhares, pôde ser dito tudo que estava entalado na garganta de ambos.
Sem dizer nada, o outro se atreveu a dar mais um passo.
E outro.
E mais um, até que estivesse suficientemente perto para se sentar no banquinho velho.
Os dois não trocaram nenhuma palavra durante bons minutos. O loiro pôde ouvir o som da boca do outro abrir e fechar várias vezes, tentando formular algo.
— Você mudou. — Comentou.
O menor revirou os olhos e tombou sua cabeça para o lado.
— O quê? O que você queria que eu dissesse?
O castanho soou irritado, fazendo com que o loiro rangesse os dentes.
— Não sei... Um bom dia soaria bem... Ou sei lá, uma explicação do por quê você me abandonou.
O maior cerrou seus punhos e finalmente teve coragem de encarar o rosto do outro, reparando que o mesmo havia realmente mudado muito, seus cabelos agora eram mais compridos e o garoto possuía uma tatuagem no braço direito.
— Por quê você acha, Lee Felix? — Praticamente cuspiu as palavras.
— Me diga você, Hwang Hyunjin.
Os dois se encararam sem dizer nenhuma palavra e puderam sentir uma onda de arrependimento invadindo o peito de ambos.
Não foi preciso dizer mais nada, Felix sabia exatamente o motivo.
— Por que voltou aqui?
Sua fala saiu fraca, as palavras estavam entaladas em sua garganta a ponto que não conseguia nem botar em palavras o que sentia naquele momento, toda sua culpa e arrependimento unidas em só uma pessoa, o ver ali sentado era como um tiro pela culatra.
— Fiquei sabendo que iriam demolir... — Fez uma pausa. — Eu senti sua falta...
Felix segurou a risada, como se Hyunjin estivesse blefando. Mas ele não mentiria que também havia ido até lá na esperança de o ver uma última vez.
— Significa que se arrependeu de tudo?
Hyunjin queria negar, porém, se arrependeu de não ter dado certo entre os dois, de ter aceitado a maldita proposta de ir para a Europa e principalmente de sua negação quanto àquele local.
A expressão de Hyunjin dizia tudo que havia para dizer a Felix, o que deixou Felix com raiva. Porque não importa o quanto Hwang diga que se arrependeu, Felix sabia que aquilo acarretou coisas boas na carreira do mesmo e que mesmo se arrependendo, ele não teria feito diferente.
Com raiva, Lee se levantou para ir embora, enquanto murmurava coisas desconexas. Porém, a mão áspera de Hyunjin agarrou a mão de Felix. Lee tentou soltar a mão e Hwang se levantou do banco.
Antes que o loiro conseguisse se soltar, o castanho o puxou para um abraço apertado e coberto de saudades.
Ficaram quietos por segundos, até que Hwang finalmente disse algo.
— Lembra de como chamávamos este terraço?
Lee fungou, se impedindo de chorar e chacoalhou sua cabeça.
— Prometa que nunca vai esquecer este lugar.
Hyunjin estendeu seu mindinho e Felix o agarrou, selando a promessa.
— Não esqueça que este sempre será o terraço que guardou o nosso amor.
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O terraço que guardou o nosso amor
FanfictionFelix e Hyunjin namoraram quando adolescentes, agora adultos, os dois revisitam o terraço onde tudo começou. Obra por: hwzlck Betagem por: __Lanna_ Capa por: Enimochi