última noite

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Pela janela, a garota olhava a lua brilhando no ponto mais alto. Ouvia vozes alegres demais para uma segunda feira. Sua mente pregava mais uma de suas peças, jorrando inveja no coração tão quebrado da pobre garotinha. Um calafrio passou pela espinha dorsal da jovem, logo depois uma voz ensurdecedora.

" Você tem a mais pura inveja- recuou pelo quarto, ganhando o olhar conflituoso da garota.O riso frio bateu com tudo no rosto repleto de lágrimas- pergunto-me como aguenta se olhar? Ver um peso descartável..."

A menina engasgou no próprio soluço, fazendo aquele ser sorrir diabolicamente. Ela queria negar, dizer que não era um peso,porém, como diria se ela não acreditava.

A forma que seu subconsciente tomava era linda: olhos frios e acusadores; uma beleza que chega a brilhar; uma mulher que ninguém se atreveria a contradizer. A versão que a garota nunca seria...

" Quando você irá notar? Que ninguém precisa disso- apontou para o corpo que tremia de dor. A garota negou com a cabeça, fazendo a outra ri- por favor, termine logo com isso, todas as noites terminam assim. Você é uma covarde, de sorriso falso, que esconde todas as cicatrizes com uma base barata, e não tem alguém que irá procurar"

Palavras morriam antes de serem pronunciadas. O rosto tão jovem estava corado, os olhos jorravam sem dar um tempo para ela conseguir respirar. O peito doía, e nenhum remédio fazia isso parar.

A mão tão fria tocou o rosto quente, limpando as lágrimas. Uma a uma eram guardadas pela mulher de olhar amargo.

" Pobre garotinha, é um ser que aqui - apontou pro coração que martelava freneticamente - toma as piores atitudes, e bem ali, onde deveria ser racional, não tem como lhe salvar.Acabou, não tem salvação..."

-Eu não consigo me salvar - pela primeira vez, a voz da menina saiu, quebrada, todavia firme- você tem razão, acabou! Me ajuda..

A voz soou frenética, implorando por piedade, fazendo a mulher olhar espantada. Limpando o rosto da garotinha, tirando um pouco daquela dor. Era sufocante, era terrível alguém tão jovem sentir cada molécula doer..

" Meu bem, se você soubesse como quero tirar, como queria poder fazê-la feliz, tu não pediria para eu acabar com você "

O choro foi engolido, rasgando a garganta. Murmurava palavras desconexas. Mas, tinha firmeza. Doía, mas tinha certeza.

Naquela noite, que para outros foi a mais bela, para a garotinha covarde foi o alívio. Foi o último suspiro com dor. Foi a última vez que o subconsciente lhe jogou palavras duras em seu rosto. Foi a última vez que a garotinha se matou, se machucou e se afogou em suas próprias lágrimas.

Foi a última noite para a pobre garotinha.

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⏰ Última atualização: Jun 25 ⏰

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