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                                       *Kidan*
  
   Primeiro mês de aula e eu não matei ninguém, é quase um milagre.
   Fiz minha rotina, e fui pra faculdade, sem nem um pingo de paciência, porque o porteiro da escola de Amora, quase não a deixou entrar, me segurei muito pra não socar ele ali mesmo, pela Amora, mas agora esse ódio está acumulado. Eu juro, qualquer cara que falar um a, eu môo da porrada.
  As aulas da manhã foram muito chatas, mas eu fiz meu máximo pra prestar atenção, até porque direito não é fácil, não posso me dar o luxo de não prestar atenção.
   Na hora do almoço, a fila demorou muito, e eu fiquei ainda mais estressado. Comi, e estava saindo do refeitório, mas esbarrei numa menina ruiva.
- Olha por onde anda!
  Falou ela auto.
- Ah, você de novo? Pelo amor de Deus.
  Me virei pra ir embora. Eu realmente não quero brigar.
- Você podia pelo menos pedir desculpas, você derrubou minha comida.
  Ela disse chateada.
- Me deixa em paz, ÁGUA DE SALSICHA!!
  Gritei virando pra ela.
   Um silêncio ensurdecedor se fez, e ela me olhou com mágoa, alguém repetiu em tom de brincadeira, e o refeitório inteiro riu. Vi lágrimas em seu rosto e ela saiu correndo. Sai sem me importar e fui pra arquibancada como sempre, tirei do bolso minha carteira de cigarro, e o acendi com um isqueiro. Dei uma longa tragada nele pra tirar meu estresse, olhei pra mesma janela da biblioteca que olho sempre, e vi Joaquim tentando acalmar a menina com quem gritei, acariciando seus longos cabelos ruivos, enquanto ela soluça encontrolavelmentre. Que drama, isso por tê-la chamado de água de salsicha.  Continuo olhando para ela, enquanto fumo, por algum motivo vejo minha irmã nela, e sinto pena do desespero em suas lágrimas, me sinto mal pelo que fiz, mas não adianta pedir desculpa agora, não vai mudar nada, ninguém vai esquecer isso nem que eu peça desculpa. Joaquim olha direto pra mim, com ódio, ele balbucia pra pedir desculpas, eu sorrio e digo que não, eu não vou admitir, pra ele, que me sinto mal por isso, por como a fiz se sentir.
   O sinal tocou, mas ela ainda está chorando, fico lá olhando pra ela, a bibliotecária vai até ela, e afasta Joaquim, ela a acalma com facilidade, e a faz deitar a cabeça em seu ombro, lembrei da aula e voei até a sala, tão rápido que esqueci que ainda estava com o cigarro na mão, o joguei no lixo rápido e me sentei no meu lugar.
   São 17:05, e a porra do professor ainda está falando, eu preciso sair daqui pra buscar Amora, a Amanda tem um encontro hoje, se ela se atrasar ela me mata. Finalmente ele nos liberou, eu saio o mais rápido que posso, passando rápido por todas as pessoas no corredor, pego minha moto, e vou a 100 km/h até a casa da Amanda. Ela já estava pronta pra sair.
- Meu Deus Kidan, onde você estava? Fiquei preocupada com você, nunca tinha atrasado antes.
  Disse ela abrindo a porta.
- Onde está a Amora?
- Lá em cima, porque?
- Não gosto de falar palavrão perto dela.
- Ata...
- Foi o filha da puta do meu professor, que fala demais e não deixou ninguém sair até ele terminar o que estava falando. Aquele fresco me fez atrasar!
  Respirei fundo e continuei:
- Depois que ele liberou eu vim voando.
- Amora! O Kidan já chegou!
  Gritou Amanda.
- Tô indo!
  Ela respondeu da escada.
   Ela pegou seu capacete, e correu até mim, me dando um abraço apertado.
- Como foi o dia docinho?
  Perguntei sorrindo. Amora tem o dom de me acalmar.
- Ótimo! Vamos?
- Claro! Tchau Amanda.
- Tchau primo.
    Subimos na moto, e fomos pra casa. Hoje jantamos pizza, porque eu tava com preguiça de cozinhar, e Amora dormiu cedo, o que é uma raridade.
   Deitei na minha cama exausto, e fiquei olhando pro teto, sem conseguir dormir, com aquela cena de ela soluçando sem parar, por minha causa, pelo que eu disse a ela. Será que foi o que eu disse, ou porque eu gritei? Ou será que foi por, todo mundo rir logo em seguida? Ok, eu admito, não foi drama, mas não acho que a tenha ofendido tanto assim. As lembranças de suas lágrimas caído como uma cachoeira, fizeram meu coração doer, eu nunca senti isso antes, culpa, eu costumo ser egoísta quanto a outras pessoas que não sejam a Amora ou minha mãe, sentir compaixão por ela é algo que eu não esperava sentir.

                                     *Janne*

   Já passou um mês de aula, e quase não vejo Kidan, mas estava bom de mais pra ser verdade.
   Hoje o dia começou bem, uma quarta-feira, Luke e Kain estão de folga, e fizeram o café pra casa toda.
- Bom dia casal!
  Desci animada.
- Bom dia!
  Disseram eles ao mesmo tempo.
- Estou atrasada, mas vou levar uma panqueca pra comer no caminho. Amo vocês, até a noite!
   Sai de casa, e Vini e Luna estavam me esperando no carro.
   Na escola, me despedi da Luna e subi pra minha sala. As aula foram bem de boa, até mais do que eu esperava, não teve nenhuma foto de como um corpo é por dentro, ou de uma criança com uma doença horrível.
Na hora do almoço, não achei o Joaquim, pra variar, então peguei minha comida, e estava indo me sentar, mas Kidan passou com pressa por mim, e derrubou minha comida.
- Olha por onde anda!
  Falei auto.
- Ah, você de novo? Pelo amor de Deus.
  Ele se virou pra ir embora.
- Você podia pelo menos pedir desculpas, você derrubou minha comida.
  Eu disse chateada.
- Me deixa em paz, ÁGUA DE SALSICHA!!
  Gritou ele virando pra mim.
Meu coração doeu, não acredito que isso tá acontecendo de novo, meu pesadelo do fundamental, veio à tona como um soco no meu estômago, alguém atrás de mim repetiu em tom de brincadeira, o que me fez querer chorar, quando percebi que já estava chorando, corri em direção a biblioteca, e me sentei lá na mesa que sempre leio, já que é escondida, abaixo a cabeça e soluço sem parar.
Ouvi alguém abrindo a porta bruscamente, o que fez barulho, ecoando por toda biblioteca, foi Joaquim, ele veio até mim e me abraçou sem perguntar nada, ele tentou me acalmar de muitas formas, as quais não funcionaram, ele passou muito tempo, acariciando meu cabelo, e pedindo pra eu respirar devagar, e cada vez mais ficava nervoso junto comigo, um coisa que não me ajudou muito.
O sinal tocou, e eu ainda não conseguia parar de chorar, ou respirar direito, então à bibliotecária veio até mim, e afastou Joaquim, " recomponha-se!" Disse ela baixo.
- Olha pra mim, respira devagar, assim ó.
Ela começou a espirar e inspirar devagar, com calma, me fazendo imitá-la. Logo que fiquei calma, ela me fez deitar a cabeça em seu ombro.
- Você quer conversar sobre o que aconteceu?
Ela me perguntou enquanto acariciava minha cabeça.
Fiz que sim. Ela se afastou um pouco, e me olhou atenciosamente.
- Quando eu estava no ensino fundamental, as pessoas faziam bullying comigo, por causa do meu cabelo. Me chamavam de cabeça de fósforo, de bruxa, de cabeça quente, diziam: "cuidado! sua cabeça tá pegando fogo!". Mas o que mais me chamavam era água de salsicha. Ouvir a frase que me assombrou por todo fundamental, doeu tanto quanto um soco.
Ela ficou em silêncio até ter certeza de que eu não tinha mais nada pra falar.
- Não se preocupe querida, vai ficar tudo bem. Você quer uma solução pro seu problema, ou um conselho?
Disse ela gentilmente.
- O conselho.
- Não se importe com o que as pessoas pensam de você, se é algo bom ou mal, se for mentira isso diz mais sobre a outra pessoa do que sobre você, entende? As vezes pessoas quebradas, cortam outras pessoas. Seu cabelo é o mais lindo que eu já vi, e eu não estou falando isso por você estar se sentindo mal por causa dele, é porque ele realmente é muito lindo, brilhoso e volumoso. Não falei antes porque me esquecia todas as vezes. Se ame, se cuide, você é incrível.
Ela disse docemente.
- Tudo bem, vou me valorizar mais, eu prometo.
Falei e a abracei carinhosamente.
- Vá lavar o rosto, e pra sala.
- Sim senhora, obrigada!
Respondi e sai.
Joaquim estava me esperando do lado de fora, e pediu mil desculpas por não conseguir me ajudar, eu o perdoei, e depois de lavar o rosto voltei pra minha sala.
São 17:00 e o sinal acabou de tocar, sai da sala, e fui em direção a saída, enquanto andava, lembrei do que Kidan me disse, e involuntariamente, comecei a chorar, mas respirei fundo, ao pensar no conselho da Grace ( a bibliotecária ), e me acalmei, enxuguei meu rosto e vi Luna de longe então fui até ela, a abraçando por trás, uma coisa que eu amo fazer, ela retribuiu me puxando pra sua frente e me dando um beijo na testa. Vini chegou, e fomos pra casa. Não contei pra ninguém o que aconteceu, e pedi pra Luna não contar também, ela concordou e me ajudou a esconder isso.
Depois do jantar, tomei um banho, e fui pra cama, fiquei um bom tempo olhando pro teto, me perguntando se ele falou porque ele quis, ou porque não era um bom dia pra ele, acho que não falei nada de mais pra irritá-lo, mas ele realmente parecia sem paciência. De qualquer forma, ele não tem culpa dos meus traumas de infância. Mesmo que eu nunca diga isso pra ele, eu o perdoou.

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⏰ Última atualização: Aug 15 ⏰

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