1879.
Naquele momento, o mundo não tinha cheiro de fogo. O perfume das rosas era o que exalava pelo ar, em específico cinco rosas imóveis, juntas na escadaria do convento.
- Vamos, ela está esperando por vocês - Leland sorriu para elas, ternamente.
Indicou a porta do convento com um gesto da cabeça, para que elas o seguissem. Mas assim que já estava há um passo dentro da construção e não ouviu som algum de passos atrás de si, olhou para trás. Encontrou-as próximas, juntas como um grupo. Cochichavam entre si, mas tão baixo era o som de suas vozes que ele não conseguiu entender nada.
- Irmãs? - Sua voz cortou com rapidez a assembleia das jovens noviças, que levantaram a cabeça e o fitaram.
Sentiu cinco pares de olhos fixos em seu rosto, inexpressivos, porém atentos. Não era o mesmo olhar que estava acostumado a receber, aqueles a prescrutar cada centímetro dele como se fosse uma jóia cara. Não. Esses pareciam simplesmente confusos, apreensivos.
- Sim irmão - Recebeu um sorriso da mais alta entre elas - A madre não nos disse que seríamos recebidas por outra pessoa, por isso estranhamos. Imagina, termos errado o convento?
O riso dela foi acompanhado pelas outras, delicado e mínimo.
- Não, não erraram - Respondeu quando todos passaram pela porta e ele as guiava adentro do edifício - Sinclair é apenas aqui.
Ele observou seus sorrisos, quando cruzaram o pátio, ao verem a pequena fonte azulada no centro, com dois querubins abraçados um ao outro segurando um pote que desaguava em uma concha. Aguardou paciente enquanto os olhos delas brilhavam com a visão das flores no grande jardim sob o azul claro do céu da manhã, e escutou com satisfação enquanto uma delas entoava a letra e a melodia de um cântico vindo da sala de música das crianças quando passaram próximo a ela.
Era exatamente esse o efeito que Sinclair deveria transmitir aos seus fiéis, aqueles que ali viessem em busca de abrigo ou orientação. Se dedicou tanto para que isso acontecesse... Horas de trabalho, noites insones com os joelhos dobrados e a mente elevada. E agora que finalmente seus esforços e os de todos ali começavam a dar frutos, o jovem perguntava a si mesmo se já era o suficiente. Se já podia descansar.
Mas sabia a resposta. Não. Ainda não. Ainda faltava algo.
- Há quanto tempo você vive em Sinclair? - Disse uma delas atrás de Leland enquanto, nos corredores do último andar, se dirigiam até o quarto. A voz era aguda, infantil demais ele notou.
- Há muito tempo - Respondeu gentil e simplesmente, sem parar o passo.
- E é feliz aqui?
Parou. O súbito questionamento da garota detendo seus passos, mesmo apressado como estava. Voltou-se para a mesma e lhe revelou um olhar neutro, reflexivo.
- Sim... - Vacilou, mas só por um instante - ... Eu sou e desejo que vocês também sejam, todas vocês.
Elas não retribuíram seu sorriso.
***
Ainda era difícil de acreditar que haviam realmente conseguido acomodar cinco camas em um espaço tão pequeno. Mas assim que souberam que elas jamais se separavam, atender a necessidade das recém chegadas tornou-se prioridade. E assim foi feito, mesmo com pouco espaço.
Não havia muito o que fazer sobre isso no entanto. Todas as acomodações no convento eram assim, de tamanho suficiente apenas para um sono tranquilo, uma necessidade dos ossos. Seus votos refletidos nas paredes vazias pintadas com apenas sombras de cores, na pouca mobília, na ausência de tudo que representasse um eu próprio. Os únicos elementos em destaque, atraindo toda a atenção para si com uma chama pura, mas forte eram os quadros de Cristo pintados por um homem que conheciam como William Bouguereau.