A convocação

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Anne estava na cozinha, preparando o café da manhã com um sorriso nos lábios enquanto observava os raios de sol dourados que invadiam a pequena sala. O dia prometia ser maravilhoso, e ela não conseguia conter sua animação. O cheiro de café fresco enchia o ar quando, de repente, a porta se abriu abruptamente.

Vicente entrou, seu semblante normalmente sereno agora carregado de tristeza e preocupação. Anne virou-se para ele, percebendo imediatamente que algo estava terrivelmente errado.

"Vicente, o que aconteceu?" ela perguntou, a apreensão começando a apertar seu peito.

Ele permaneceu em silêncio por um momento, seus olhos evitando os dela enquanto tirava uma carta do bolso do casaco. Suas mãos tremiam ligeiramente ao entregar o papel a Anne.

Ela pegou a carta, os dedos trêmulos percorrendo as palavras impressas. Seus olhos corriam pelo papel enquanto lia as palavras que pareciam martelar em sua mente:

Ordem de Convocação
Ministério da Defesa Nacional
República Francesa

Prezado Senhor Vicente,

Pelo presente, informamos que Vossa Senhoria está convocado para o serviço militar ativo das Forças Armadas Francesas, em virtude da presente emergência nacional.

Vossa presença é requerida na mobilização imediata das tropas em resposta à invasão da França pelas forças armadas do Terceiro Reich.

Você deverá se apresentar no Quartel-General mais próximo de sua residência no dia 10 de junho de 1940, às 8 horas da manhã, munido deste documento e de seus pertences pessoais.

Atenciosamente,
General Charles de Gaulle
Ministério da Defesa Nacional

Pelo presente, informamos que Vossa Senhoria está convocado para o serviço militar ativo das Forças Armadas Francesas.

Anne sentiu o mundo girar ao seu redor enquanto lia aquelas palavras. A invasão da França pela Alemanha nazista era uma realidade brutal que agora tocava diretamente suas vidas. Ela olhou para Vicente, seus olhos buscando os dele em busca de conforto e segurança, mas encontrando apenas a mesma angústia refletida ali.

"Vicente, o que vamos fazer?" Anne perguntou, sua voz tremendo. "Não podemos simplesmente deixar você ir..."

Ele a segurou suavemente pelos ombros, tentando transmitir força através de seu toque. "Anne, meu amor, não temos escolha. Eles precisam de todos nós agora. Eu prometo que farei o possível para voltar para casa. Mantenha-se forte, por favor..."

Anne assentiu, as lágrimas começando a rolar por suas bochechas. Ela sabia que o caminho à frente seria difícil e incerto, mas também sabia que não poderia abandonar Vicente quando ele mais precisava dela. Juntos, eles enfrentariam essa provação, na esperança de um dia poderem compartilhar novamente o café da manhã sob o sol da manhã, sem a sombra da guerra pairando sobre eles.

Na manhã seguinte, Anne assistiu Vicente partir com os olhos marejados de lágrimas, lutando para aceitar a realidade que agora dominava sua vida. Ela permaneceu à porta, observando-o se afastar até desaparecer na névoa da manhã. Então, com determinação silenciosa, ela se virou e fechou a porta.

Anne caminhava pelas ruas de Paris, os passos rápidos e decididos, mas o coração pesado com a partida de Vicente ainda ecoando em sua mente. Ela precisava fazer algo, qualquer coisa para contribuir na luta contra a ocupação nazista que agora sombreava sua cidade amada.

Decidiu que a biblioteca local seria um bom lugar para começar. Era um refúgio onde muitos intelectuais e pensadores se reuniam, e talvez ali ela pudesse encontrar pistas ou pessoas que compartilhassem de seu desejo de resistir.

Ao entrar na pequena biblioteca, Anne sentiu imediatamente um ar de seriedade e concentração entre os frequentadores. Ela caminhou pelos corredores de estantes empoeiradas, até que seus olhos encontraram um homem de meia-idade, Pierre, sentado em uma mesa ao fundo. Seus olhos estavam fixos em um livro, mas Anne percebeu algo indefinível nele, uma aura de segredo e determinação.

Ela se aproximou com cuidado, sentindo um leve tremor de ansiedade misturado com excitação por estar prestes a mergulhar em um mundo desconhecido de intrigas e conspirações.

"Pierre?" ela perguntou suavemente, tentando não atrair muita atenção.

O homem ergueu os olhos do livro, estudando-a por um momento com uma expressão séria. Então, lentamente, um leve sorriso surgiu em seus lábios. "Anne, suponho que você esteja procurando por respostas, como todos nós aqui."

Anne assentiu, sentindo um nó na garganta. "Sim, Vicente... Ele foi convocado. Eu não posso simplesmente ficar parada enquanto..."

Pierre a interrompeu suavemente. "Eu entendo. Muitos de nós sentimos o mesmo. Venha, sente-se. Vamos conversar."

E assim começou uma conversa que mudaria o curso da vida de Anne. Pierre revelou a ela a existência de um grupo clandestino de resistência, formado por cidadãos determinados a lutar contra a ocupação nazista de maneira discreta, mas eficaz. Ele explicou como cada um contribuía com suas habilidades únicas e como juntos formavam uma teia de apoio e informação que desafiava os invasores.

Anne ouviu atentamente, absorvendo cada palavra como se fosse um raio de esperança em meio à escuridão que agora envolvia sua pátria. Ela sentiu uma mistura de medo e determinação crescendo dentro de si. Talvez ali, naquele pequeno círculo de resistência, ela encontrasse não apenas uma maneira de lutar, mas também um propósito renovado para sua vida em tempos de guerra.

Quando Anne deixou a biblioteca naquela tarde, sua mente estava repleta de planos e promessas. Ela sabia que a estrada à frente seria perigosa e cheia de desafios, mas também sabia que não poderia mais recuar. Com cada passo decidido em direção ao seu novo destino, Anne se preparava para se unir à luta pela liberdade de sua pátria, onde cada ação, por menor que fosse, poderia fazer a diferença entre a esperança e a desesperança.

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