único - alvorecer.

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O frio da madrugada sussurrou sobre mim durante o meu sono. Aquele frio - que tem cor, cheiro, e parece até ser possível de tocar - antes da chegada dos primeiros raios solares e o calor que faz bem, aquele calor da preguiça matinal, da vontade de faltar à escola para dormir mais um pouco, de inventar uma mentira pro chefe só para poder encarar ele dormindo só por mais um minutinhos.

Ele. Estendo o braço preguiçosamente pela extensão da cama, parecem quilômetros até chegar ao outro lado. Um cobertor branco e frio pela falta de calor humano amarrotado. Nada mais.

Frio mais uma vez. Meu braço instantaneamente volta para o lado quente da cama. Algo falta.

Abro os olhos e quando minhas pupilas finalmente estão livres, vejo azul.

Frio e azul. A luz que entra pela janela faz parecer um erro estar ciente da própria existência tão cedo. Acordar de um sono brando e claro antes da hora e se deparar com o azul gélido, que tenta te ninar no braço e fazê-lo voltar a dormir. Como um pai sonolento que pede, sussurrando suavemente, ao seu bebê que durma mais um pouquinho, antes que os deveres do dia cheguem, e o calor preguiçoso invada as vidraças.

E eu sinto o sono querendo me levar, num bocejo. Mas antes, meus olhos se tornam ativos novamente e me vem a confirmação de que o lado direito da cama está vazio.

Solto um longo suspiro. Reunindo as primeiras forças do ainda-não-dia, ergo meu tronco e descanso minhas costas sobre a cabeceira. Agora o azul toca minha pele, suave e gélido.

Fecho os olhos por alguns segundos, todos os meus movimentos são leves e preguiçosos. Dobro os joelhos e abraço minhas pernas, apoiando minha cabeça nelas. - Onde ele está? - eu pergunto num sussurro abafado ao azul.

Não recebo resposta. o azul é quieto demais.

Mas ele sempre elogiou a minha curiosidade e coragem.

No momento, o frio me amedronta. Amedronta num jeito de me fazer não ter coragem de colocar o pé desprotegido no chão gelado. E, fazendo uma análise preguiçosa do quarto escuro e quieto, percebo que ele pegou minhas pantufas mais uma vez. Eu rolo meus olhos sem acreditar.

Mas eu não consigo evitar um sorriso ao imaginá-lo fazendo o seu café preferido, bem cedinho, usando um moletom gigante e um calção largo. O cabelo bagunçado e a pele refletindo os primeiros raios solares do dia. E as minhas pantufas do Snoopy.

Sem perceber, o quarto azul tenta me ninar mais uma vez. Eu bocejo. É difícil manter os olhos abertos, eu observo a porta fechada.

Talvez, atrás dela esteja o sol. O laranja quente e o aroma do perfume suave, quase apagado, na pele calorosa que recebe luz. É tangível, tanto quanto o azul que guarda esse cômodo. Ele se derrama pelas superfícies, é como uma capa protetora. Invade o ambiente e beija nossa testa - o laranja nos abraça forte. O seu cheiro é fresco, como a garoa fina acompanhada de chá gelado.

Meu corpo que quase não me obedece de tanto sono, vacila em querer que eu me entregue novamente. Ainda está frio, mas o azul aos poucos se torna mais claro. Está vindo.

Eu agarro minha coragem, e quando viro meu corpo para a beira da cama, coloco dramaticamente uma das pernas ao chão. Fecho os olhos para não ver o encontro do meu pé com o chão frio vindo. E finalmente levo o choque de temperatura. Senti meus neurônios despertaram na mesma hora. O arrependimento veio imediatamente.

- Cacete. - eu poderia só ter me entregado aos cobertores quentinhos da cama e ter o ignorado.

Coloco os dois pés no chão, eu me sinto submergido em pélago. Um peixinho que vivia em seu pequeno aquário tranquilamente e, num piscar de olhos, foi jogado bruscamente no oceano azul, azul, azul. De repente, o quarto parece gigante.

Blue Hour • yoonseokOnde histórias criam vida. Descubra agora