• Mary Scott
• Las VegasHoje faço 20 anos. Também se passaram oito anos desde que meus pais faleceram. Por isso, detesto meu aniversário, detesto essa data. Isso me incomoda porque sinto que, de alguma forma, fui eu quem causou a perda deles. Já tentei fugir desse sentimento, mas não consigo.
Estava no terraço do meu prédio, fumando e pensando: "O que vou fazer da minha vida?". Pergunto isso a mim mesma há anos e me sinto uma tola toda vez que faço essa pergunta.
Desde o acidente, morei no orfanato. Ninguém me adotou, então fiquei sozinha. Lembro de quando ainda morava no orfanato, e de como eu não era muito bem-vinda lá. As pessoas me xingavam, me batiam e me humilhavam.
Assim que fiz 18 anos, a madre superiora — uma velha maconheira do orfanato — me expulsou de lá. No início, parecia maravilhoso ter minha própria liberdade, mas eu estava enganada. Agora, estou cheia de contas para pagar, completamente perdida.Amasso o cigarro e vou em direção ao elevador, voltando para o meu apartamento. Assim que entro, noto a bagunça que evitei encarar por semanas. Respiro fundo e começo a recolher o lixo, colocando tudo em uma sacola.
Enquanto limpo o chão, vejo o quadro dos meus pais caído e lembro da última conversa que tive com eles. Respiro fundo, tentando segurar as lágrimas, mas é impossível. Não me lembro tanto deles, já que morreram quando eu tinha apenas 12 anos. Tento ignorar esse pensamento indo ao banheiro para me arrumar para o trabalho. Estou trabalhando em uma cafeteria na esquina, mas acho que o senhor Omar vai fechar a loja. Já é a quarta vez que ele diminui meu salário por causa do movimento, que está péssimo.
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Saio do meu apartamento às pressas, não quero chegar atrasada de novo.
Assim que entro na loja, corro para o balcão, vestindo meu avental para atender alguns clientes.
— Bom dia, senhor Omar — cumprimento o senhorzinho rapidamente enquanto atendo a fila.
— Olá, pequena Mary — ele sorri, os olhos se fechando.
— Pequena... Depois passe no meu escritório, ok? — concordo com a cabeça, e ele segue para o escritório com sua bengala.O senhor Omar é muito querido. Ele conhecia meus pais antes mesmo de se casarem, então somos próximos. Quando meus pais morreram, ele tentou me adotar, mas por ser idoso e não ter disponibilidade suficiente, não foi possível. Mesmo assim, ele me ajudou, oferecendo um emprego.
Confesso que foi difícil a madre me liberar, mas uma pequena ameaça com fotos dela fumando nos fundos da igreja resolveu a situação. Quando me mudei no ano passado, ele me deu comida e abrigo até que eu conseguisse juntar o dinheiro necessário para alugar o apartamento. Não sei o que teria sido de mim sem a ajuda dele naquela época.
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Fico parada na porta do escritório do senhor Omar, tentando criar coragem para entrar. Já tinha atendido os poucos clientes que apareceram hoje.
Respiro fundo e bato na porta, ouvindo um baixo "pode entrar". Caminho até a poltrona em frente à sua mesa e o encaro, esperando ele dizer algo. Minha presença o puxa de volta à realidade e ele começa a falar:
— Mary, chamei você aqui para falar sobre algumas coisas... — ele me olha com pena. Lá vem a bomba.
— Como você já deve saber, a nossa cafeteria está indo muito mal, Mary. Eu não queria ter que fazer isso, mas... — ele tira um envelope da gaveta.
— Infelizmente, vou ter que te demitir. Esta cafeteria está sendo um peso, não temos mais clientes e...
— Está tudo bem — interrompo. — Sério, eu já sabia. Não precisa se justificar tanto — dou um leve sorriso.— Eu realmente sinto muito, Mary...
— Está tudo bem, velhote. Além disso, já está na hora de o senhor descansar — digo, rindo, e vejo que ele dá uma pequena risada. — Vai se aposentar.
— Bom, aqui está o seu último salário e os atrasos. — Pego o envelope e me levanto, indo até ele para lhe dar um abraço.
— Até a próxima — digo, apertando-o forte.
Não sei quando vou vê-lo de novo, já que toda a sua família mora a quilômetros daqui.
— Pequena... Feliz aniversário... — Ao ouvir isso, sinto meus olhos se encherem de lágrimas. Por mais que eu não goste do meu aniversário, ele nunca esqueceu.
— Obrigada — sussurro.──・──・──・❃・──・──・──
Estou caminhando até o supermercado para preparar o jantar. Faz tempo que não como algo fresco. Tenho sobrevivido de comida enlatada e congelada há meses.
Pego tudo o que preciso e vou para a fila do caixa. Três garotas à minha frente chamam minha atenção.
— Sabe como é, se nada der certo, a gente aluga um apartamento e mora juntas — diz uma ruiva cacheada.
— Óbvio, né? Além de ficar mais barato — responde uma loira baixinha.Espera, isso me deu uma ideia genial! E se eu procurar pessoas que precisem de um lugar para morar? Elas podem dividir o apartamento comigo, e rachamos o aluguel. Há três quartos sobrando, cada um com banheiro. PERFEITO!
— PRÓXIMO! — Escuto a mulher do caixa me chamando com uma cara de tédio. Parece que ela já estava me chamando há algum tempo.
— Foi mal...──・──・──・❃・──・──・──
Saio do Uber e subo para o meu apartamento o mais rápido possível. Espero que essa ideia dê certo.
Assim que chego, vou direto para a cozinha preparar meu jantar: macarrão à bolonhesa. Não tem coisa melhor. A água ferve rapidamente enquanto pico o alho e a cebola, o cheiro começando a tomar conta do ambiente. Douro a carne moída e adiciono o molho de tomate, deixando tudo cozinhar lentamente.
Por que fiquei tanto tempo sem cozinhar?!
Depois de terminar, sirvo uma taça de vinho e levo meu prato para o computador. Sento à mesa, com a janta nas mãos, e abro o navegador.
Entro na barra de pesquisa e começo a procurar sites onde posso anunciar os quartos para alugar. Depois de uma boa busca, encontrei três sites e publiquei meu anúncio com todos os detalhes: quartos espaçosos, cada um com banheiro privativo, ótima localização.
Espero que dê certo, vai me ajudar bastante.
Termino de comer e deixo o prato e a taça na pia para lavar amanhã, ou não.
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ANGELS OF DESTINY
RomanceQuando informações secretas da Velocity Motors vazam, Matteo Ross e seus amigos são enviados a Las Vegas para investigar. Lá, eles encontram Mary Scott, uma mecânica que trabalha na empresa com suas amigas. Matteo desconfia de Mary, sem se lembrar q...