blinded by the lights

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Pov Pedro

Lanchonete & Karaokê, Spotlights
Cidade dos Anjos, 1996

– Eu precisava dessa noite, não aguentava mais a voz da minha mulher. — Carlos, um dos homens do grupo, faz piada, adentrando na lanchonete enquanto os outros gargalham do comentário.

Havia essa tradição dos colegas da empresa.

Eles se juntavam todo sábado à noite numa lanchonete empaturrada de gente no centro da cidade, reclamavam de suas mulheres, do trabalho e do rumo que o país tá tomando, enquanto descontavam as frustrações de suas próprias vidas em batatas fritas e copos de cerveja.

Particularmente falando, eu odiava tal fingimento. Não passava de uma desculpa dos caras para deixar suas esposas em casa cuidando sozinhas dos filhos pequenos. Mas eu optava por ir para manter boa convivência com a maioria na empresa.

Apesar disso, eu aproveitava qualquer oportunidade de ir embora. Tomava um refrigerante, pagava a conta e me despedia dos caras.

Mas, naquela noite, eu preferi voltar para casa mais tarde por influência da minha mulher. Ela sempre dizia que nós moramos em uma cidade grande e colorida demais para não aproveitar o máximo que podemos, então a obedeci e tentei me divertir um pouco.

A noite ia ser longa.

– Qual será a desculpa que o Pedro vai dar para ir embora mais cedo de hoje? — um dos colegas, Brandon, diz do outro lado do balcão, enquanto todos se organizam para sentar nas banquetas ao redor da bancada.

– Hoje eu fico até mais tarde, Brandon. — respondo entendiado.

– Problemas no paraíso, marido do ano? — ele alfineta tirando risadas dos outros homens.

– Bem que você queria. — é tudo que digo, me aconchegando na jaqueta jeans que aquecia meu corpo.

As horas correm. Tento acompanhar as conversas de meus colegas... sem sucesso. Optei por prestar atenção nas pessoas que cantam e se divertem no palco de karaokê montado no centro da lanchonete.

Em determinado momento da noite, um homem loiro e alto se aproxima.

– Com licença. — ele me aborda gentilmente. Alguns colegas sentados próximos a mim observam a situação em curiosidade. – Posso me sentar aqui? — aponta para a banqueta ao meu lado.

– Claro. — respondo dando de ombros, voltando a atenção à minha lata de refrigerante.

O homem se senta um pouco desconcertado ao meu lado e pede uma lata de refrigerante como a minha. Viro-me para ele e analiso seu perfil por um tempo. Estranho a familiaridade.

– Qual seu nome? — pergunto curioso.

– João Vitor. — o homem responde, virando seu corpo para mim.

A essa altura, os caras deixaram de prestar atenção em nós.

Analiso seu corpo de cima a baixo, estranhando sua blusa em um modelo menor, claramente feminino. O homem exalava delicadeza.

– Eu te conheço? — volto a dizer e ele se assusta, corando levemente.

– Não sei...? — insinua voltando o olhar para sua bebida, desembalando um canudo e colocando na latinha. – Qual seu nome?

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⏰ Última atualização: Jul 07 ⏰

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