Por que a Amo

 Um pobre homem apaixonado, chamado Lucas, com um sorriso bobo após voltar de uma sessão no cinema onde viu um filme de comédia bobo com a mulher que descobriu que ama, se entra num bar com seu melhor amigo de infância, Leandro, um rapaz pouco inteligente e muito vivido. É de noite, o bar é grande, mas está com poucas pessoas, os dois estão na área externa onde às vezes passam carros e sempre são iluminados pelas estrelas e a lua.

—Por que você a ama? —Questiona Leandro após dar uma golada na cerveja.

—Eu disse que a amo? —Retruca Lucas.

—Não com palavras... —Fala o amigo rindo.

—Por que eu a amo? É uma boa pergunta... Eu acho que já amei outras mulheres, mas essa diferente, eu amo o cabelo dela, como ele se mistura com a noite e combina tanto com seus olhos da mesma cor, mas eu amaria mesmo que fosse careca e nem tivesse olhos. Eu acho que amo a voz dela, quando me chama ou ri, mas amaria mesmo que fosse muda... Ou eu amo seu toque, todo seu corpo, como ele é belo e me hipnotiza, mas amaria mesmo que fosse imaterial... Talvez eu ame sua inteligência, ela sempre sabe de algo, sempre me faz querer saber, sabe? Mas amaria mesmo que ela fosse ignorante, mais burra que eu... Ou eu amo a ideia dela... Mas jamais criaria alguém igual a ela, ela é inimaginável, como tentar criar uma cor nova, você não consegue, mas talvez se ver uma cor que nunca viu possa conhecê-la. Eu na verdade, não sei porque a amo... E acho que nunca vou saber... —Lucas fala isso olhando para as estrelas, quase se juntando a elas.

—Lucas, eu não sabia que você era poeta. —Pontua Leandro, impressionado.

—Eu não sou... Mas ela gosta de poesia, então acho que puxei isso dela.

—E ela, ela te ama? —Pergunta o amigo.

—Ela disse que sim... mas não com palavras, ela me olha como nenhuma mulher outra vez olhou, ela, ela se interessa por mim, pelo que eu tenho a dizer.

—É acho que ela te ama, mas vem aqui, você quer pedir ela em namoro?

—Claro que sim! Eu quero faz tempo...

—Vocês vem saindo a quanto tempo mesmo?

—Dois meses, por quê?

—Você é mesmo um bobo apaixonado... Vocês já estão namorando, faz tempo, só que nenhum percebeu... Manda uma mensagem pra ela, pergunta o que vocês são... Ela vai dizer que não sabe, e aí você pergunta se são namorados. —Leandro diz isso com um sorriso, olhando para o amigo, que ainda olha para as estrelas.

—É uma excelente ideia! Valeu Leo! —Lucas atira a mão no bolso, pega o celular e envia a mensagem sugerida. Ela é quase instantaneamente respondida, e de forma quase profética ela responde o que Leandro previu, e Lucas logicamente faz o que o amigo sugeriu. Ela diz "sim, somos namorados".

Talvez seja isso, amemos sem saber o motivo, e no fim todos vamos morrer, sem saber, mas no fim, ao menos amamos. Pois as coisas não precisam fazer sentido para serem reais, basta se olhar no espelho, ou para um buraco negro. Mesmo que não faça sentido, mesmo que de errado, mesmo que nunca seja recíproco ou sequer dito, ame o fato de um dia ter amado, seja apenas grato, não pelo fim, pela experiência.