Mensagem de entrada.

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Atenção, este trem tem como destino final a estação Acesso Norte. Solicitamos que se afastem da porta e olhem através da janela. Pedimos encarecidamente que notem a vida correndo quase sem fôlego e o azul do céu fingido.

As nuvens adquiriram formas simbólicas ao contrário do que a previsão do tempo estimou para os próximos dias. É necessário o exercício de interpretação para ler essas figuras e passar para uns aos outros o que foi que deixaram de nos contar e o que nos impediram de saber.

O jornal de meio dia omitiu e transgrediu da ideia de pertecimento. Não pertenço a nenhum lugar que perpassa dessas estações, não existe parada e me restaram as esquinas. Me encontrei nos becos escuros, vielas inacabadas e ruas estreitas. Por vezes em ladeiras, morros cheios de invasão ou passarelas antigas.

As minhas estrelas se encontram no chão, se movimentando uma por vez e reproduzindo engarrafamento nas pistas mal asfaltadas. Eu observo lá do alto, mas já tem alguém mais alto que eu, olhando tudo e mais um pouco do que meus olhos foram capazes de discernir. Isso porque comecei acordar por agora, entre manhãs de madrugadas anteriores e tardes posteriores a pernoites. Nunca mais dormir, fiquei aceso feito vela numa chama ardente que não quer apagar ou melhor, não tem essa e não pode ter como opção.

Me senti queimando, ardendo na pele e esquentando o espírito. O ódio se tornou um combustível motivado pela tristeza e a insistência pela vida. Diria para mim mesmo que o maior erro acometido foi insistir no respiro que daria em breve, diria em seguida que essa é a ameaça. Sobreviver e retornar com a consoante debaixo do caderno que é escrito com a caneta mais barata da papelaria. Eu quebrei cabeça e me senti incapaz, sensação de roubar e ser roubado por alguém invisível. É um preço caro de mercado, eu poderia até contar um discurso arrumado, porém isso é um atrasa-lado.

Estou vivendo de tecnologias baixas e a vida é uma garota anarquista, arrastada pela calçada. Eu me bati com ela, sentar para entender a história moderna das Artes Plásticas e fiz um curativo no seu joelho direito.

Quando chego em casa, meu maior sonho é ter um sossego. Não tenho estrutura, me compus de letras, vogais, verbos e meu cabelo denunciou a minha condição. A minha cor representa o que não souberam delimitar e transformei a minha identidade em protesto. Uma manifestação contrária do que o inseticida propõe em cima das terras, a praga que investiram em matar. Não tenho organismo vivo, orgânico e sim, resíduos de microplástico.

Eu mal tenho uma boca, mas preciso gritar e existe essa voz em transmissão para sinalizar que liberem a passagem do meio para que seja possível o desembarque na estação Acesso Norte, linha de integração entre as unidades um e dois. Por favor, aguardem atrás da faixa amarela por medidas de segurança e permaneçam atentos após o sinal.

Repetindo, é a voz engraçada de Deus.

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⏰ Última atualização: Jul 06 ⏰

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