Capítulo 3

9 2 0
                                    

Eu não sou do tipo que se arrepende fácil. A vida que escolhi, com suas constantes doses de adrenalina e perigo, não deixa muito espaço para isso. Mas naquele momento, sentado na cela fria e úmida, as imagens da noite fatídica passavam pela minha cabeça como um filme em câmera lenta.

Tudo começou como qualquer outro trabalho. Eu e os caras – Léo, Mauro e Renan – planejamos aquele roubo por semanas. O banco era pequeno, mas a quantia em jogo era significativa. Nosso informante tinha nos dado todos os detalhes: os horários dos seguranças, os pontos cegos das câmeras, até o layout do cofre. Era para ser um golpe rápido e limpo, mas nada nunca sai como o planejado, não é?

Entramos pouco depois do fechamento. Eu liderava, como sempre. A adrenalina corria nas minhas veias, deixando cada sentido aguçado, cada movimento preciso. Com um sorriso cínico, pensei no quanto eu amava aquele sentimento. Estava vivo, no auge da excitação.

Os primeiros minutos foram perfeitos. Controlamos os seguranças, desativamos os alarmes e chegamos ao cofre. Foi quando tudo começou a dar errado. Um dos clientes, um desgraçado azarado que estava no lugar errado na hora errada, decidiu ser herói. Tentou nos enfrentar, e antes que eu pudesse reagir, Léo, sempre com o dedo leve no gatilho, disparou. O homem caiu morto, e tudo se desfez ali.

O pânico se espalhou, tanto entre os reféns quanto entre nós. Em questão de segundos, ouvimos as sirenes da polícia. Eles chegaram rápido demais, algo que nunca tinha acontecido antes. Não tivemos tempo de reagir. Renan e Mauro foram os primeiros a cair no fogo cruzado. Léo tentou correr, mas também não teve chance. Eu fui o único que sobrou, o único que não teve tempo de fugir.

Fui pego, algemado e jogado nessa cela imunda. O peso do que havia acontecido ainda não tinha caído sobre mim completamente. Eu sabia que estava encrencado, mas não conseguia sentir nada além da frustração de um plano falhado.

***

A primeira vez que vi a Dra. Astrid Keller, não sabia o que esperar. Meus pais tinham arranjado tudo, achando que poderiam salvar o filho querido. Entrei na sala de visitas com meu olhar de sempre – intimidador e desafiador. Ela estava sentada ali, com aquele ar de quem acha que pode resolver qualquer problema.

– Foi meus pais que pediram para você vir aqui, não é? – disse, sem nem me sentar, mantendo meus olhos fixos nos dela.

Ela não piscou, nem desviou o olhar. Respondeu com calma, uma calma que me irritava.

– Sim, foram. Mas agora estou aqui, e preciso que me conte exatamente o que aconteceu naquela noite.

Havia algo nos olhos dela, uma determinação que não via em muitas pessoas. Fiquei em silêncio por um momento, estudando-a. Era bonita, mas não era isso que me chamava atenção. Era a firmeza em seu olhar, a maneira como se mantinha composta mesmo diante de um criminoso confesso.

Decidi jogar limpo, pelo menos em parte.

– Sou um ladrão de banco, Dra. Keller. Vivo para isso, sou viciado em adrenalina. Não espero que você me entenda, mas é assim que sou. Gosto do perigo, da excitação. Sei que é errado, mas é o que me faz sentir vivo.

Ela não pareceu surpresa, mas aproveitou a chance para me provocar.

– Olha onde esse vício te levou.

Me aproximei dela, querendo ver se conseguia quebrar aquela fachada de profissionalismo. Queria ver se ela cederia, se mostraria medo.

– É sério que mi madre achou que uma pirralha iria me tirar daqui? – disse, deixando minha voz carregar todo o desdém que sentia.

Ela não recuou, embora pudesse ver que estava intimidada. Mas não demonstrou, o que só aumentou meu interesse por ela.

– Eu não sou apenas uma "pirralha", Vinnie. Sou sua melhor chance de sair daqui. Se você quer mesmo uma chance, precisa confiar em mim e ser honesto. Só assim poderemos vencer.

Algo na maneira como ela disse isso, na confiança absoluta, me fez recuar. Talvez meus pais tivessem acertado ao escolher essa advogada. Ou talvez eu estivesse apenas desesperado o suficiente para acreditar nisso.

***

Os dias seguintes foram uma mistura de interrogatórios e estratégias. Astrid vinha me ver regularmente, trazendo novas informações, fazendo perguntas incisivas. Comecei a perceber que ela era diferente dos outros advogados que conheci. Não era apenas pela competência, mas pela maneira como parecia realmente interessada em entender minha história, minhas motivações.

Eu contei sobre Jorge, o cara que podia confirmar minha versão dos fatos. Astrid estava determinada a encontrá-lo, e isso me dava um estranho senso de esperança. Talvez ela realmente pudesse fazer algo.

E, enquanto o tempo passava, comecei a perceber algo mais. Toda vez que ela saía daquela sala de visitas, eu ficava esperando pela próxima vez que a veria. Não era apenas pela possibilidade de liberdade, mas por algo mais. Algo que não conseguia definir, mas que crescia a cada encontro.

Estava me arriscando demais, confiando demais. Mas, no fundo, sabia que não tinha outra escolha. E, pela primeira vez em muito tempo, comecei a pensar que talvez, só talvez, houvesse uma saída para mim.










Meus amores

Quando alcançarmos 300 leituras, soltarei mais três capítulos. Continuem lendo e votem!

Beijos

Autora Morley ❤️

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jul 08 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

VINNIE HACKER | NO RASTRO DO MALOnde histórias criam vida. Descubra agora