Prólogo

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Boston, 1927

Era uma tarde nublada, como todas as outras daquela semana de inverno.

As crianças brincavam na rua, pobres, com suas luvas furadas e os dedos vermelhos, mas com corações grandes e quentes. Atiravam uns nos outros bolas de uma neve cinzenta, fruto da poluição daquelas ruas - estas que não conheciam a palavra "limpeza", assim como muitos dos moradores do subúrbio de Boston.

No meio de todo aquela diversão e alvoroço, um grito viril pôde ser ouvido, e foi seguido pelo farfalhar e bater de asas de corvos que residiam o telhado da casa dos Borndhon.

-Mandleth!

Atônito, Carl segurou os pulsos ensanguentados da filha, mas o sangue não era dela.
Ao ver o rastro rúbeo que levava até o banheiro do casebre, o homem segurou com força os braços esguios da criança, puxando-a junto consigo enquanto andava em direção ao que mudaria a vida de todos ali, principalmente a da pequena Mandleth.

-Susan? Susan?!

Espanto era o que se estampava em seu semblante viril e cansado, e, logo depois, ira.
Ver sua mulher estirada no chão, morta, o fez parar, voltar à agir como um troglodita e agredir sua única filha.

Ela gritou, esperneou e deu outro motivo para que seu pai continuasse a lhe bater.

-E-ela merecia! Seu... sonho iria crescer e matar à todos! P-papai entenda!

Mas ele não permitiu que aquelas mãos miúdas e ensanguentadas voltassem à tocar seu rosto, como costumava fazer todas as outras vezes.

Atraídos pelos gritos, moradores, homens e mulheres, invadiram a casa, afastando Carl de Mandleth.
Mas era tarde para ela, o que fizera não ficaria barato e nem seria esquecido.

Mandleth Borndhon, de apenas sete anos de idade, foi mandada para o Manicômio Estadual de Danvers, que na época estava em seu ápice de atendimento.
Diagnosticada com esquizofrenia, recebeu um acolhimento do próprio Danvers para que ficasse lá em vez de e ser levada para o reformatório.

Parecia ser o melhor à escolher, mas somente dias mais tarde, foi que percebeu que, na verdade, Mandleth não tinha escolha alguma.

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